segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Despojamento - a sublime aprendizagem

Não me parece que o caminho da montanha seja fácil para alguém. As veredas são muitas, com armadilhas, com descidas abruptas, com escaladas inesperadas. Eu não ambiciono chegar ao cume, mas esforço-me por fazer uma caminhada vazia de egoísmo, com muito amor e alguns sonhos entrelaçados.
Nos primeiros vinte anos de caminho aprendi a não fazer aos outros o que não queria que me fizessem a mim. Seguindo esta máxima considerava-me boa pessoa. Depois, com as obrigações familiares e profissionais tornaram-se raros os momentos em que conseguia “pensar”, mas pude perceber que tinha que expandir a máxima e teria que fazer aos outros o que gostaria que me fizessem a mim.
Entretanto, no meio de um labirinto perdi-me. As estrelas enganavam-me. A esfinge atrapalhava-me. Sentei-me a chorar. E as minhas lágrimas acabaram por inundar e a pouco e pouco submergir o labirinto, libertando-me.
E às voltas pela encosta, com quedas e arranhões, perdi a noção do tempo enquanto ganhava, creio, a mais autêntica noção de amor. Amor, forma de bem-querer sem nada esperar em troca. Forma de interesse profundo, com total despojamento.
Como vivo o amor?
Os relógios cansam-se de esperar por mim enquanto invento novas fragrâncias para presentear a minha filhota, que já não é minha, que nunca foi minha, porque as pessoas não têm dono e, como diz Gibran Kahlil, “ Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.”. Vejo-a, diariamente, por breves minutos, mas eu gostaria que ficasse comigo a tecer sonhos durante uma eternidade. Compreendo que esse é um sentimento egoísta, volto atrás e apago-o com uma borracha especial que inventei para os sentimentos menos nobres. Respiro fundo, facilito a partida e, desnudada de qualquer resquício de egoísmo, estou pronta para dar a vida para salvar a dela, se for preciso. E isto é fácil. É inerente à maternidade. Mais difícil é beber o despojamento necessário para aceitar os seus voos, para construir um ninho em que já não tenho o lugar principal.
Também no amor pleno homem/mulher o despojamento é muito difícil de conseguir, mas é possível, quando investimos na sua aprendizagem.
Qual de vós seria capaz de amar alguém à distância, durante uma vida? Qual de vós seria capaz de seguir alguém que não tem qualquer estatuto para lhe oferecer? (Lembram-se da inglesa que seguia Gandhi?) Qual de vós seria capaz de ir buscar a lua apenas para ver um sorriso nos lábios de alguém? Estes são exemplos de formas de despojamento. Se alguém respondeu afirmativamente a alguma destas questões facilmente será apelidado de louco. Por mim, não. Eu considero que bem-querer sem precisar de possuir exige muito de cada um de nós. Implica uma aprendizagem sublime. Mas confere a paz que pode conduzir à felicidade.
Ui, ainda falta tanto para chegar ao cimo da montanha!

Caminhante DSEP (Despojamento, Solidariedade, Esperança e Paz)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Essência do Amor

Costuma-se dizer que o Amor é a coisa mais bonita do mundo.
E na minha opinião é verdade. Quando refiro este tema, refiro-me ao Amor Universal, entre homens e mulheres, crianças, amigos, pessoas em geral. Sem amor não se vive, mesmo que seja por um animal, algo que se gosta de fazer, etc.
Mas não é assim tão simples.
Amar implica dar-se ao outro, deixar-se amar, para se ser amado. No mundo onde nós nos encontramos, Amor” significa dinheiro, interesse, luxo, viagens, beleza física, carros, etc, … Há circunstâncias da nossa vida que podemos alterar, outras não. Mas naquelas que podemos ser intervenientes, temos o dever e a obrigação de promover essas mudanças para um sentido mais positivo da vida.
Acima de tudo, devemos amar-nos a nós próprios (com as nossas qualidades e defeitos, assim também em relação aos outros), para sermos capazes de amar as pessoas e nos darmos ao outro, seja ele quem for. No entanto, não é um processo fácil porque há sempre condicionantes a que somos sujeitos desde o dia que nascemos. A nós cabe a importante de missão de as transformar e torná-las em algo menos agrestes na nossa vida. Há que vencer também as nossas próprias prisões.
Eu julgo que ao longo do nosso envelhecimento, nos vamos apercebendo e das coisas que realmente são importantes. Todo é o resto já não tem interessa. Passamos a ter uma percepção diferente e então, ganhamos a capacidade de gostar, amar cada vez mais o nosso semelhante, mesmo que ele/a, nos magoe também, mas não nos podemos esquecer que apenas somos seres humanos que possuímos qualidades e defeitos.
Então o Amor flui de outra maneira, mais suave, mas mais intensamente, mais livre.

Um beijo muito grande

Mary Rosas
29.07.09