terça-feira, 12 de julho de 2016

Falar do Islão com Abdul Rehman Mangá


O dia 09 de Julho foi um abrir de véus em relação ao Islão. Estivemos com o Presidente do Centro Cultural Islâmico do Porto e responsável pelo diálogo inter-religioso do norte de Portugal, o Sr. Abdul Rehman Mangá, um português nascido em Moçambique.

Não vamos aqui citar tudo o que foi dito, pois tal não seria viável para um blog. Tentaremos fazer algumas citações que, acreditamos, possam fazer um pequeno esboço das matérias importantíssimas que foram abordadas.

" ... Islão deriva da palavra "Silm" / "Salam" que significa PAZ. Mais do que isso, significa a submissão a Um Deus só, viver em paz com o Criador, viver em paz consigo mesmo, viver em paz com as outras pessoas e viver em paz com o ambiente.


O Islão veio depois de Cristo; temos um tronco comum que é o profeta Abraão. Deste tronco comum tivemos três ramificações; a primeira deu lugar ao Judaísmo; a segunda através de Jesus deu lugar ao cristianismo e a terceira, através do profeta Muhammad deu lugar ao Islão. Estas três religiões são as três únicas religiões monoteístas. O Islão faz parte desta árvore grande e frondosa do Profeta Abraão. 
...
Muitas vezes confunde-se árabes com muçulmanos. Existem cerca de um bilião e quinhentos milhões de muçulmanos. Menos de 20% é que são Árabes. Há árabes que são cristãos, outros judeus, muçulmanos e ateus…

Muitas vezes confunde-se Allah com Deus dos muçulmanos. Allah é o termo, em arábico, que significa Deus. Os cristãos coptas chamam a Deus Allah, pois falam árabe. 

Acreditamos em todos os profetas que passaram pelo mundo, nomeadamente Noé, Abraão, Ismael, Isaac, Jacob, José, Moisés, Aarão, David, Salomão, João Baptista, Jesus, Muhammad. 

Para nós Jesus é uma das referências impressionantes para a nossa religião.

No Alcorão existe um Capitulo completo dedicado a Maria. Acreditamos que Ela deu à Luz Jesus de uma forma milagrosa. Há também um Capítulo referente a Moisés.

Depois veio Muhammad que veio numa linhagem a seguir a estes profetas. Não veio trazer uma mensagem nova, tal como Jesus não veio trazer uma mensagem nova depois do Judaísmo. É uma continuidade. Deus mandou esses Profetas todos para dar continuidade à Sua religião…. Todos nós somos filhos de Deus.  
………….

Diz-se que Jihad é a Guerra Santa, mas não existe nenhum no Alcorão chamado Jihad. Jihad literalmente significa esforço, significa por exemplo eu que vim cá  esclarecer sobre uma religião que é mal compreendida… qualquer esforço diário pela causa e no caminho de Deus.  Guerra Santa não existe no Islão. O auto controlo também é uma Jihad. Os muçulmanos só devem utilizar a força em caso de auto defesa.

Sobre a Mulher muçulmana, há um conceito mesmo muito errado. Há 1400 anos, o Islão elevou o estatuto das mulheres nomeadamente ao permitir-lhes o divórcio, a independência financeira e económica, o direito à propriedade, o direito de conservar o nome de solteira mesmo depois de casada. Certos aspectos culturais ainda não permitem à mulher atingir os seus plenos direitos, contrariando assim a orientação religiosa

Por exemplo em Portugal há apenas uma mulher embaixadora portuguesa, na República Checa. Há 6 embaixadoras dos Países Muçulmanos: Argélia, Marrocos, Emiratos Árabes Unidos, Senegal e mais dois países. Hoje a mulher muçulmana quer estudar. 

Uma coisa que diferencia a mulher muçulmana é usar o "lenço na cabeça". Está rigorosamente a copiar a Virgem Maria, e é uma questão de respeito, mas muitas mulheres muçulmanas não usam lenço na cabeça. Há mulheres muçulmanas que tapam completamente a cara. Isso não tem nada a ver com o Islamismo. Tem a ver com cultura.

Para entrarmos na Mesquita cobrimos a cabeça, é uma questão de respeito. Tal como os bispos católicos, nas sinagogas significando que entre Deus e mim não há mais ninguém.

Debate:

P - O muçulmano deve fazer 5 orações ao dia. Se trabalhar tem de parar?

R - Só deve parar se o empregador der autorização. Depois de sair do trabalho podemos fazer as 5 orações. É como o jejum. Devemos fazê-lo quando há condições para isso. Um diabético, que tem de comer gradualmente durante o dia não pode fazer o jejum. Então deve alimentar um pobre.

P - As mulheres também vão a Meca?

R - Sim as mulheres também vão a Meca.

P - Fala-se sobre o apedrejamento de mulheres, fala-se de violência contra as mulheres, principalmente muçulmanos. Gostava de saber qual o motivo, não acredito que seja a religião.

R - As mulheres sempre foram as que mais sofreram em todo o lado, em toda a parte do mundo. As mulheres que não tenham educação escolar. a possibilidade de se auto-sustentar, se estão dependentes de alguém é uma condição horrível, horrível em qualquer parte do mundo. Naqueles países ainda se vive a pobreza, quem trabalha é o homem. A religião diz que o homem e a mulher são iguais, perfeitamente iguais. O próprio Corão fala que o homem e a mulher têm os mesmos direitos e a mesma possibilidade de se educarem. A obrigação do pai é de educar tanto a filha como o filho. Mas é a obrigação tácita que está lá. Agora o problema cultural acontece. Imaginem em Portugal, as mulheres que sofrem de violência doméstica. É terrível! Cerca de 40 mulheres morrem por ano por causa de violência doméstica, fora aquelas que são espancadas, sofrem e não falam, ficam caladas!Há dias um pai ao maltratar uma mãe, o filho com oito anos tentou salvar a mãe e levou um tiro. Isto acontece em qualquer parte do mundo, agora acontecendo nas Arábias tem muito mais visibilidade.

A questão de apedrejamento de que falou, o apedrejamento não tem nada a ver com o  Islão, tem a ver com tradições. Tradições, digo eu, dos nossos antigos Profetas. Recordam-se que os nossos antigos Profetas utilizavam o apedrejamento. Era antigamente que faziam isto, mas isso já passou, naquela época já era errado fazer uma coisa dessas….

Nesses estados fazem tudo e mais alguma coisa que não tem nada a ver com religião.

P - Essas situações que de violência que acontecem têm a ver com questões tribais?

R - Sim. Há certas regiões no Paquistão em que a polícia não entra lá. A Polícia patrulha as ruas, mas não entra nas localidades. Eles fabricam as próprias armas, são donos daqueles locais. Apesar disso, o Paquistão teve uma Primeira Ministra mulher. A Malala é um símbolo de raparigas no Paquistão que querem estudar e até levou um tiro dum Taliban.


Estas foram apenas algumas das muitas questões abordadas nesta Palestra. Dada a riqueza de assuntos e, em alguns, a delicadeza de abordagem não vamos aqui transcrever os diálogos. No entanto deixamos um convite para a visita a Mesquita do Porto a agendar para muito breve, em que novas questões poderão ser colocadas e um conhecimento mais empírico poderá ser alcançado.

Deixamos aqui um enorme bem-haja ao Sr. Abdul Mangá, a que alguém nos assistentes apelidou com razão de apóstolo. Que mantenha a coragem, força e serenidade na reposição da verdade sobre o Islão tão mal compreendido, tão pouco conhecido e actualmente tão acusado….









terça-feira, 5 de julho de 2016

O Lamento da Flauta

(Pintura: Ostad Mahmoud Farshchian)

Ouve o ney (flauta de cana) contar uma história,
a lastimar-se da separação:

"Desde que me cortaram o junco, 
o meu lamento faz gemer o homem e a mulher.
Quero um coração dilacerado pela separação para
nele verter a dor do desejo.
Quem vive longe da sua origem aspira ao instante
em que de novo se lhe unirá.
Eu, lamentei-me com todos, tanto me associei
aos que se alegram como aos que choram.
Todos me compreenderam conforme
os seus próprios sentimentos; mas ninguém tentou saber
os meus segredos.
Porém, o meu segredo não está longe do meu lamento,
mas o ouvido e o olho não sabem percebê-lo.
O corpo não é roubado à alma, nem a alma ao corpo;
contudo, ninguém pode ver a alma.
É do fogo, e não do vento, o som da flauta:
que se reduza ao nada aquele a quem faltar esta chama!
É o fogo do Amor que está na cana, é o ardor do Amor
que faz fervilhar o vinho.
A flauta é a confidente daquele que está separado do seu Amigo:
as suas notas rasgam os nossos véus.
Quem já viu porventura um veneno e um antídoto
como a flauta?
Quem já viu porventura um consolador e um amante
como a flauta?"

In O Cântico do Sol,
de Djalal-od-Din Rumi
(1207-1273)

sábado, 2 de julho de 2016

O Islão o que é?

(Pintura de Ostad Mahmoud Farshchian)
Nos meios de comunicação social fala-se de Islão como sinónimo de violência, terrorismo, a Jihad (Guerra Santa). Mas afinal o que é o Islão? A violência? o martírio em nome de uma causa? a destruição em nome de Deus? Todos os muçulmanos são terroristas? Estas são algumas das muitas perguntas que assolam os nossos espíritos quando ouvimos falar de atentados em nome do Islão. Mas ficam muitas dúvidas sobre esta religião que muitos desconhecem.

Será que o Profeta instigou ao terror? Ou será que, tal como aconteceu com a cristandade, as interpretações humanas do Livro Sagrado levaram a matar em nome de Deus? Será que a Jihad não é uma Cruzada dos tempos modernos? Haverá, na essência, muitas diferenças entre o Islão e o Cristianismo? Ou serão mais as semelhanças? 

Realmente são muitas as questões que se podem levantar...

Assim, no dia 09 de Julho, sábado, pelas 15:00, teremos uma Palestra - Debate com o sr. Abdul Rehman que nos vem esclarecer sobre o que é realmente o Islão.