(Pintura: Ostad Mahmoud Farshchian) |
Era um Mestre que tinha uma sagacidade mística especial. Os seus ensinamentos eram como adagas afiadas que permitiam rasgar os véus das mentes ainda ignorantes. Contudo, por vezes, era muito contraditório e paradoxal, chegando mesmo a ser extravagante. Os seus próprios discípulos estranhavam o seu comportamento perdulário que o tornava alvo de muitas repreensões, recebendo críticas e censuras de não poucas pessoas.
Desconcertados, um dia os discípulos perguntaram-lhe:
- A que se devem essas mudanças de atitude? Está a pôr em causa a sua reputação para nada.
-Isso é precisamente o que pretendo - asseverou o mestre, deixando todos eles de boca aberta.
E acrescentou:
- Essa é a minha intenção, não quero ter reputação.
- Não percebemos - protestaram os discípulos. - É um grande mestre, mas as extravagâncias minam o seu prestígio.
Ouçam - disse o Mestre, sereno. - Aquele que procura reputação obceca-se; aquele que tenta mantê-la, preocupa-se e fica angustiado. Quem, pelo contrário, é indiferente à reputação, vive muito calmo e é feliz. Além disso, a reputação é como um visitante que mais tarde ou mais cedo acaba por partir. Mas o que cada um é, isso permanece. Sinto-me bem porque só me interessa o que permanece, não o visitante. Desfruto do que é permanente em mim e o visitante é-me completamente indiferente. Portanto, se não gostam, podem ir com outro mentor.
Retirado do livro Os melhores contos Espirituais do Oriente, de Ramiro Calle