sábado, 24 de dezembro de 2016



Natal! Nascimento!

Nascer é começar, um ciclo que se enceta como se nada tivesse existido antes…mas as pegadas do que do antes não se apagam. São pontos de orientação de novas aventuras.

O Solstício de Inverno anuncia a Luz que começa a crescer. Então, o que nasce é Luz? A cada um responder.

Nesta data celebramos o nascimento de Jesus, Issa ou Yeshua. Anunciado por uma estrela, recebido por pastores e Reis Magos, é um Ser de Luz que vem. 

Uma festividade ancestral que celebra a vida.

Feliz Natal a todos, nesta celebração de Amor, pois o Amor é fundamento da Vida!


terça-feira, 12 de julho de 2016

Falar do Islão com Abdul Rehman Mangá


O dia 09 de Julho foi um abrir de véus em relação ao Islão. Estivemos com o Presidente do Centro Cultural Islâmico do Porto e responsável pelo diálogo inter-religioso do norte de Portugal, o Sr. Abdul Rehman Mangá, um português nascido em Moçambique.

Não vamos aqui citar tudo o que foi dito, pois tal não seria viável para um blog. Tentaremos fazer algumas citações que, acreditamos, possam fazer um pequeno esboço das matérias importantíssimas que foram abordadas.

" ... Islão deriva da palavra "Silm" / "Salam" que significa PAZ. Mais do que isso, significa a submissão a Um Deus só, viver em paz com o Criador, viver em paz consigo mesmo, viver em paz com as outras pessoas e viver em paz com o ambiente.


O Islão veio depois de Cristo; temos um tronco comum que é o profeta Abraão. Deste tronco comum tivemos três ramificações; a primeira deu lugar ao Judaísmo; a segunda através de Jesus deu lugar ao cristianismo e a terceira, através do profeta Muhammad deu lugar ao Islão. Estas três religiões são as três únicas religiões monoteístas. O Islão faz parte desta árvore grande e frondosa do Profeta Abraão. 
...
Muitas vezes confunde-se árabes com muçulmanos. Existem cerca de um bilião e quinhentos milhões de muçulmanos. Menos de 20% é que são Árabes. Há árabes que são cristãos, outros judeus, muçulmanos e ateus…

Muitas vezes confunde-se Allah com Deus dos muçulmanos. Allah é o termo, em arábico, que significa Deus. Os cristãos coptas chamam a Deus Allah, pois falam árabe. 

Acreditamos em todos os profetas que passaram pelo mundo, nomeadamente Noé, Abraão, Ismael, Isaac, Jacob, José, Moisés, Aarão, David, Salomão, João Baptista, Jesus, Muhammad. 

Para nós Jesus é uma das referências impressionantes para a nossa religião.

No Alcorão existe um Capitulo completo dedicado a Maria. Acreditamos que Ela deu à Luz Jesus de uma forma milagrosa. Há também um Capítulo referente a Moisés.

Depois veio Muhammad que veio numa linhagem a seguir a estes profetas. Não veio trazer uma mensagem nova, tal como Jesus não veio trazer uma mensagem nova depois do Judaísmo. É uma continuidade. Deus mandou esses Profetas todos para dar continuidade à Sua religião…. Todos nós somos filhos de Deus.  
………….

Diz-se que Jihad é a Guerra Santa, mas não existe nenhum no Alcorão chamado Jihad. Jihad literalmente significa esforço, significa por exemplo eu que vim cá  esclarecer sobre uma religião que é mal compreendida… qualquer esforço diário pela causa e no caminho de Deus.  Guerra Santa não existe no Islão. O auto controlo também é uma Jihad. Os muçulmanos só devem utilizar a força em caso de auto defesa.

Sobre a Mulher muçulmana, há um conceito mesmo muito errado. Há 1400 anos, o Islão elevou o estatuto das mulheres nomeadamente ao permitir-lhes o divórcio, a independência financeira e económica, o direito à propriedade, o direito de conservar o nome de solteira mesmo depois de casada. Certos aspectos culturais ainda não permitem à mulher atingir os seus plenos direitos, contrariando assim a orientação religiosa

Por exemplo em Portugal há apenas uma mulher embaixadora portuguesa, na República Checa. Há 6 embaixadoras dos Países Muçulmanos: Argélia, Marrocos, Emiratos Árabes Unidos, Senegal e mais dois países. Hoje a mulher muçulmana quer estudar. 

Uma coisa que diferencia a mulher muçulmana é usar o "lenço na cabeça". Está rigorosamente a copiar a Virgem Maria, e é uma questão de respeito, mas muitas mulheres muçulmanas não usam lenço na cabeça. Há mulheres muçulmanas que tapam completamente a cara. Isso não tem nada a ver com o Islamismo. Tem a ver com cultura.

Para entrarmos na Mesquita cobrimos a cabeça, é uma questão de respeito. Tal como os bispos católicos, nas sinagogas significando que entre Deus e mim não há mais ninguém.

Debate:

P - O muçulmano deve fazer 5 orações ao dia. Se trabalhar tem de parar?

R - Só deve parar se o empregador der autorização. Depois de sair do trabalho podemos fazer as 5 orações. É como o jejum. Devemos fazê-lo quando há condições para isso. Um diabético, que tem de comer gradualmente durante o dia não pode fazer o jejum. Então deve alimentar um pobre.

P - As mulheres também vão a Meca?

R - Sim as mulheres também vão a Meca.

P - Fala-se sobre o apedrejamento de mulheres, fala-se de violência contra as mulheres, principalmente muçulmanos. Gostava de saber qual o motivo, não acredito que seja a religião.

R - As mulheres sempre foram as que mais sofreram em todo o lado, em toda a parte do mundo. As mulheres que não tenham educação escolar. a possibilidade de se auto-sustentar, se estão dependentes de alguém é uma condição horrível, horrível em qualquer parte do mundo. Naqueles países ainda se vive a pobreza, quem trabalha é o homem. A religião diz que o homem e a mulher são iguais, perfeitamente iguais. O próprio Corão fala que o homem e a mulher têm os mesmos direitos e a mesma possibilidade de se educarem. A obrigação do pai é de educar tanto a filha como o filho. Mas é a obrigação tácita que está lá. Agora o problema cultural acontece. Imaginem em Portugal, as mulheres que sofrem de violência doméstica. É terrível! Cerca de 40 mulheres morrem por ano por causa de violência doméstica, fora aquelas que são espancadas, sofrem e não falam, ficam caladas!Há dias um pai ao maltratar uma mãe, o filho com oito anos tentou salvar a mãe e levou um tiro. Isto acontece em qualquer parte do mundo, agora acontecendo nas Arábias tem muito mais visibilidade.

A questão de apedrejamento de que falou, o apedrejamento não tem nada a ver com o  Islão, tem a ver com tradições. Tradições, digo eu, dos nossos antigos Profetas. Recordam-se que os nossos antigos Profetas utilizavam o apedrejamento. Era antigamente que faziam isto, mas isso já passou, naquela época já era errado fazer uma coisa dessas….

Nesses estados fazem tudo e mais alguma coisa que não tem nada a ver com religião.

P - Essas situações que de violência que acontecem têm a ver com questões tribais?

R - Sim. Há certas regiões no Paquistão em que a polícia não entra lá. A Polícia patrulha as ruas, mas não entra nas localidades. Eles fabricam as próprias armas, são donos daqueles locais. Apesar disso, o Paquistão teve uma Primeira Ministra mulher. A Malala é um símbolo de raparigas no Paquistão que querem estudar e até levou um tiro dum Taliban.


Estas foram apenas algumas das muitas questões abordadas nesta Palestra. Dada a riqueza de assuntos e, em alguns, a delicadeza de abordagem não vamos aqui transcrever os diálogos. No entanto deixamos um convite para a visita a Mesquita do Porto a agendar para muito breve, em que novas questões poderão ser colocadas e um conhecimento mais empírico poderá ser alcançado.

Deixamos aqui um enorme bem-haja ao Sr. Abdul Mangá, a que alguém nos assistentes apelidou com razão de apóstolo. Que mantenha a coragem, força e serenidade na reposição da verdade sobre o Islão tão mal compreendido, tão pouco conhecido e actualmente tão acusado….









terça-feira, 5 de julho de 2016

O Lamento da Flauta

(Pintura: Ostad Mahmoud Farshchian)

Ouve o ney (flauta de cana) contar uma história,
a lastimar-se da separação:

"Desde que me cortaram o junco, 
o meu lamento faz gemer o homem e a mulher.
Quero um coração dilacerado pela separação para
nele verter a dor do desejo.
Quem vive longe da sua origem aspira ao instante
em que de novo se lhe unirá.
Eu, lamentei-me com todos, tanto me associei
aos que se alegram como aos que choram.
Todos me compreenderam conforme
os seus próprios sentimentos; mas ninguém tentou saber
os meus segredos.
Porém, o meu segredo não está longe do meu lamento,
mas o ouvido e o olho não sabem percebê-lo.
O corpo não é roubado à alma, nem a alma ao corpo;
contudo, ninguém pode ver a alma.
É do fogo, e não do vento, o som da flauta:
que se reduza ao nada aquele a quem faltar esta chama!
É o fogo do Amor que está na cana, é o ardor do Amor
que faz fervilhar o vinho.
A flauta é a confidente daquele que está separado do seu Amigo:
as suas notas rasgam os nossos véus.
Quem já viu porventura um veneno e um antídoto
como a flauta?
Quem já viu porventura um consolador e um amante
como a flauta?"

In O Cântico do Sol,
de Djalal-od-Din Rumi
(1207-1273)

sábado, 2 de julho de 2016

O Islão o que é?

(Pintura de Ostad Mahmoud Farshchian)
Nos meios de comunicação social fala-se de Islão como sinónimo de violência, terrorismo, a Jihad (Guerra Santa). Mas afinal o que é o Islão? A violência? o martírio em nome de uma causa? a destruição em nome de Deus? Todos os muçulmanos são terroristas? Estas são algumas das muitas perguntas que assolam os nossos espíritos quando ouvimos falar de atentados em nome do Islão. Mas ficam muitas dúvidas sobre esta religião que muitos desconhecem.

Será que o Profeta instigou ao terror? Ou será que, tal como aconteceu com a cristandade, as interpretações humanas do Livro Sagrado levaram a matar em nome de Deus? Será que a Jihad não é uma Cruzada dos tempos modernos? Haverá, na essência, muitas diferenças entre o Islão e o Cristianismo? Ou serão mais as semelhanças? 

Realmente são muitas as questões que se podem levantar...

Assim, no dia 09 de Julho, sábado, pelas 15:00, teremos uma Palestra - Debate com o sr. Abdul Rehman que nos vem esclarecer sobre o que é realmente o Islão.


segunda-feira, 27 de junho de 2016



Como dissemos a 10 de Junho, vamos estar juntos de novo para uma meditação. Acontecerá a 30 de Junho, pelas 18:30.

O Centro estará aberto a partir das 17:30.

A Meditação é fundamental. Muito se diz e escreve sobre meditação. A pergunta que começamos por colocar é: o que é meditar?

É muito difícil a resposta, pois aqueles que conseguiram "Meditar" nada escreveram. Não há palavras nesse estado, pois são redutoras e incapazes de transmitir o momento. Desta forma, o que vamos lendo ou ouvindo são experiências e técnicas que nos podem ajudar a alcançar esse estado. São ferramentas de apoio. E são inumeráveis! Todavia, a cada um descobrir a sua própria, mesmo que vá contra o que foi já descrito. 

Como ainda estamos, nós também, neste caminho de descoberta, apenas podemos descrever ou partilhar o que vivenciamos. Não é obrigatoriamente "a senda". Quando muito será uma senda. 

O trabalho que é desenvolvido no Centro é alicerçado em técnicas simples e que eventualmente poderão conduzir o praticante à sua própria Via pessoal. Partilham-se experiências!

Estamos conscientes de que meditar não é relaxar (no sentido mais conhecido e procurado actualmente), pelo menos a meditação com o objectivo de evoluir espiritualmente. Também não é uma evasão, através de sons ou palavras, de imagens ou sugestões, pelo contrário é estar atento, para além do estado de vigília habitual.  É estar tão presente ao momento que nos tornamos UM com ele, abandonamos a dualidade entrando na Unicidade. 

Lembramos que falamos da mediação com sentido de "ascensão espiritual", que é o objectivo pretendido com o trabalho n'O Caminho da Montanha. É evidente que não se liga a qualquer tipo de religião ou credo. Podemos dar os primeiros passos apoiados na nossa crença (ou não-crença), mas à medida que mergulhamos na Realidade, na Unidade, muito se relativiza… e metamorfoseia!

Neste interregno de encerramento de portas do Centro, o grande desafio é mesmo cada um se voltar para Si, e, apelando a tudo o que já foi partilhado, manter-se no eixo de Si mesmo, confiando. Uma vez em cada ciclo mensal encontramo-nos e renovamos energias e forças. 

E lembremo-nos de que tudo começou com um sopro! Então respiremos conscientemente… 




quinta-feira, 23 de junho de 2016

S. João, noite de Fogo!



Há já muito tempo, publicámos um texto sobre o dia de hoje: noite de S. João. Falámos de algumas tradições que remontam no Tempo (Fernão Lopes – séc. XIV – já descreve nas suas Crónicas estas festas) e explanámos algumas. Hoje falemos das crenças populares.

Nos tempos mais antigos, em que o plástico ainda não era utilizado (só por volta dos anos 70 fez a sua aparição), o alho porro com que se batia e ainda bate na cabeça de quem passava e a cidreira e limonete que se dava a cheirar, este costume menos preservado, eram animadores das ruas. O alho porro simboliza o phalus masculino e a erva cidreira os pêlos púbicos femininos. O orvalho, ou as célebres orvalhadas da região, também tinham um papel: usando vários rituais as solteiras atraiam ou tentavam adivinhar quem seria o companheiro de vida deixando, durante a noite, papelinhos ou um ovo na água, ao orvalho e à Lua (este apenas um dos muitos rituais).

Companheiro tradicional é o manjerico, enfeitado de quadras brejeiras. Pudera, esta planta está ligada ao amor desde tempos pagãos. Não só: a parturiente se agarrasse com força a raiz de manjerico durante o parto, este seria mais fácil. Mais ainda, diz a crença que esta planta traz prosperidade a quem a possui.

O pão que ainda nos anos 70 se vendia nas Fontaínhas, um dos bairros mais tradicionais,  com a forma de um falo e dois testículos acabou, mas os martelinhos preservam de alguma forma esta forma.

Assim, podemos dizer que falamos de um culto de fertilidade.

Mas não é só de fertilidade que se trata. Contam os antigos que se colhermos um alho porro na véspera de S. João, o deixarmos à orvalhada e à Lua nessa noite, e no dia seguinte o colocarmos atrás da porta de entrada da casa, nunca aí faltará o pão nem comida.

Não se pode deixar de falar nos balões de S. João, os sonhos que são lançados ao céu, as pontes que se estabelecem entre o humano e o divino. Em cada balão um desejo!

O Fogo é um dos elementos mais importantes: saltam-se as fogueiras que se espalham pela cidade. Diz o povo que uma verdadeira relação de amor se torna mais duradoura e forte se os namorados saltarem a fogueira de mãos dadas. É união abençoada.

Neste resumo muito simplificado falta apenas um elemento: a sardinha. Nos tempos mais antigos era um cordeiro que se comia e que, gradualmente, foi sendo substituído. A sardinha tem a forma do Peixe, que marcou a Era anterior, Peixes. Os cristãos primitivos usavam o símbolo do peixe para se reconhecerem. Ora, embora as raízes do S. João do Porto venham dos antigos cultos de Solstício, foram cristianizadas. Daí  talvez o cabrito e a sardinha.

Tal como o rio corre para o mar, assim as gentes, dançando, se encaminham em consonância para a foz, casamento de rio e mar... aguardando o Fogo Maior, a Oriente o Sol que nasce, entre fogueiras ...


Mágica esta noite! Mágico o S. João!  Mágicas as brumas e as orvalhadas! Bendita Terra...

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ingratidão?




Ontem alguém falava da ingratidão das pessoas. Na verdade caímos no hábito de nos queixarmos a outrém, esperando ser ouvidos, consolados, compreendidos e outros afagos que fazem tão bem. De pé novamente, já melhor, esquecemos que alguém, um dia ou vários, nos acolheu no seu coração, lambeu as nossas feridas, doou o seu tempo, se interessou, enfim ...amou. Partimos sem querer saber mais se essa pessoa sentirá a necessidade de ouvir “valeu a pena conhecer-te” ou “ foste importante” ou ainda simplesmente “Bem-hajas!”... deixamos o vazio no outro!

A doação, o Amor no sentido mais puro, não necessita de reconhecimentos. Dá-se simplesmente! Quem dá é que mais recebe, diz a sabedoria popular e com razão. Pela Lei do Retorno ou Karma tudo se recebe de volta, aquilo que doou, fez ou pensou, seja bom ou menos bom. Assim, quem recebeu amor e não doou está a constituir uma “dívida” algures, dívida essa que um dia será cobrada.

A língua portuguesa tem uma palavra que retrata esta realidade: obrigado! Dizemo-la sem reflectirmos sobre o seu significado. Segundo o dicionário, uma obrigação é um “direito de crédito”, ou seja se recebemos ficamos a dever algo. Quer seja dito ou simplesmente devido, a verdade é que sempre que recebemos ficamos em dívida.

No Pai Nosso, oração por demais conhecida entre os cristãos, na sua versão anterior dizia a determinado momento “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. Tem dois aspectos esta afirmação.

O primeiro é o facto da dívida ou obrigação, que todos assumimos num ou noutro momento. Não creio que as dívidas referidas no Pai Nosso tenham o aspecto monetário ou económico. São dívidas de outra estirpe: o acto, a palavra, sejam quais forem; refere a doação, o estender a mão, a ajuda, ou os seus contrários.

O segundo aspecto muito importante é o perdão. Só com ele a dívida fica saldada (em caso de não pagamento). Não creio que este perdão seja altaneiro, o perdão daquele que é senhor e, num acto de orgulho, concede o perdão. Intuo que o perdão do Pai Nosso é um acto de Amor, vem do coração, sem nada esperar (nem mesmo a gratidão).


Duas palavras ressaltam: Perdão e Amor. Quem perdoa sabe amar. Quem ama está grato, não por dívida mas antes como cântico e louvor à própria Vida. É o ascender a algo que está para além do dizer ou do fazer, é do domínio celeste, o Inominável e Indizível, onde o sentir ou fazer não existem, apenas se É ... Amor!

sábado, 11 de junho de 2016

Momentos esparsos...


Mais um ano passou, e um 10 de Junho aconteceu. Apesar do silêncio aparente da maior parte do ano, das portas mudas, foi dia de festa. São XIII anos de trabalho que se concluíram. Se pensarmos no percurso iniciático das cartas do Tarot, o XIII corresponde ao Arcano da Morte. De facto, o O Caminho da Montanha esteve em morte aparente. Prepara-se a nova etapa, o Arcano: Temperança, o Ingenium Solare: um génio despeja, sem que haja qualquer perda, um fluido de um recipiente de ouro para um de prata. Representa o fruto que amadurece depois da morte. 
Simboliza a síntese.

Dito isto, partilhamos alguns momentos deste dia de alegria.

  
A chegada, o reencontro.  O preparar as mantas para o picnic.


As primeiras corridas de alegria. As crianças ...













As crianças pequenas e… as grandes? Não temos todos uma criança em nós?  Tristes são aqueles que a deixam fenecer!

E as gerações misturam-se, no carinho, no amor… a nossa "menina", o sorriso mais belo, a experiência a partilhar e com a qual nos podemos enriquecer….


    
Trocam-se palavras, risos e alegria…..
Os abraços dos que chegam e matam saudades….

Há quem aproveite para pôr a leitura em dia…..







Sem saberem onde vinham, navegaram em mar desconhecido, o Dr. Henrique e Dra. Júlia, para nos apresentarem, ele Camões e depois ….
Ela, a encarnação da poesia, dita com emoção e sentir.




Partilhamos o pão, em harmonia. Reencontro como numa grande família, à mesa da Terra…




Mesa grande, espalhada. Petiscava-se onde o gosto levava…. iguarias podem crer!


Iguarias feitas com Amor… Bebe-se o néctar com ou sem álcool, mas sem exagero! As ágapes no sentido nobre, ritual de vida


A sombra acolhia quem a buscava, no segredo dos entes da Natureza. O sol escondia-se por vezes, mas era agradável, sabia bem… até que o vento quis começar a dançar a sarapanta!

E o tempo foi passando… a tarde anunciava o tempo de navegar pelos Lusíadas em busca da nossa identidade. 
 Partilhou-se conhecer e levantaram-se vozes… 10 de Junho, dia da Raça!

Lusíadas, gesta de deuses!

E, depois da epopeia, talvez na busca da Ilha dos Amores, a Súbita Iluminação!

A poesia, a linguagem mais bela, a mensagem que vem da alma, sublime.

As palavras escritas com mestria na língua mais poética, a nossa!

Momentos belos!







No fim da tarde, apagaram-se as velas, e falou-se de silêncio. Em parêntesis: "por acaso" não havia um, mas dois bolos como os vasos do génio.




Assim começamos um novo ciclo. Mais uma vez na partilha e alegria, um passo mais na senda da Montanha. A cada um descobrir em Si onde a aventura levará, na certeza de que, apesar de ser solitária a demanda, não está só. O silêncio preenche, mas há sempre o momento em que é necessária a palavra, a troca, a mão… e batendo, a porta abre-se!








sexta-feira, 3 de junho de 2016

10 Junho: mais um aniversário

(Painel de Lima de Freitas- Rossio - A Visão Cósmica de Camões)


Aproxima-se mais uma data festiva para O Caminho da Montanha. Apesar de encerrado temporariamente, não vamos deixar passar este dia sem o marcarmos com uma pegada especial. Este Centro de Desenvolvimento nasceu no dia da Raça e não foi por acaso. A nossa identidade pessoal é vital para o Conhecimento de quem Somos e para onde vamos. Ela passa também pela identidade como povo e, assim como temos uma missão pessoal, porque tudo se encaixa como uma Matrioshka - também temos uma missão colectiva. E essa é cada vez mais importante nestes tempos difíceis, de nevoeiro, que vivemos. E não é o mito português o aparecimento do Encoberto num dia de nevoeiro?

Cumprindo mais um passo neste Caminho - respeitando evidentemente as distâncias, sem vãos orgulhos -  reunimo-nos num acto de Amor, celebrando a alegria, o encontro, a saudade… 

Assim, o programa previsto será:

- 11:00 Encontro n'O Caminho da Montanha
- 12:30 Almoço picnic (interior se chover)
- 14:30 Palestra subordinada ao tema "Os Lusíadas e a Identidade Nacional" pelo dr. Henrique Doria
- 16:00 Apresentação do livro "Súbita Iluminação" de Henrique Doria pela dra. Júlia Moura Lopes
- 17:30 Fim do evento 

Contamos com todos que venham de boa vontade.

Bem-hajam!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Um Conto Zen


Neste início do Séc. XXI, tempo de viragem, ainda há quem se questione sobre as diferenças religiosas de princípio entre as várias linhas de pensamento e religiões. Acreditamos que a mente se questiona, estabelece diferenças, divide. Mas o Espírito Sabe. E sabe que Tudo é Um.

Quando, mais uma vez se aproxima o 10 de Junho, aniversário d'O Caminho da Montanha, deixamos um conto Zen.



Sermão da Montanha
 

Um dos monges do mestre Gasan visitou a universidade em Tokyo. Quando regressou, perguntou ao mestre se ele alguma vez tinha lido a Bíblia Cristã.

-       Não - replicou Gasan - Por favor leia algo dela para mim.

-       O monge abriu a Bíblia no Sermão da Montanha, em São Mateus, e começou a ler. Após a leitura das palavras de Cristo sobre os lírios no campo, parou. O Mestre Gasan ficou em silêncio por muito tempo.


-       - Quem quer que proferiu estas palavras é um ser iluminado. O que leu para mim é a essência de tudo o que eu tenho estado tentando ensinar  aqui.


(- E o que é que este Conto tem a ver com o 10 de Junho?

                        Será que alguém responde?)

sábado, 30 de abril de 2016

Tempo pela Terra



O Centro ainda encerrado. Recuperação mais longa do que o esperado. Todavia, o  trabalho continua. Assim deve ser, no quotidiano, no silêncio, individualmente. Os laços continuam vivos de outras formas que não a física. Tempo de prova aos alicerces que foram sendo construídos. Também é necessário.

Por vezes o reencontro para matar saudades, partilhar. Tempo de Meditação! 

Fica o convite para a próxima 5ª Feira, 5 de Maio, como habitualmente pelas 18:30.







O Grupo de Peregrinos de Amarante, pela voz da Manuela Cristina (filha da Mãe Lina), solicita apoio para os peregrinos, como tem sido habitual. Como o Centro se encontra encerrado, fica a cada um, individualmente, participar.

Os locais são:

Dia 6 de Maio - Albergaria
Dia 7 de Maio - Anadia
Dia 8 de Maio - Cernache (Coimbra)
Dia 9 de Maio - Pombal

A quem quiser dar o seu apoio o contacto da Manuela Cristina é  917 828 897.


Um bem-haja!



segunda-feira, 21 de março de 2016

Sopro, Eterno Renascer



Apesar de ainda estarem encerradas as portas d'O Caminho da Montanha, vamos fazer uma meditação na próxima Quinta-Feira, pelas 18:30. Como tem sido habitual dar um tema a cada uma, vamos incidir a nossa atenção para o "Sopro, Eterno Renascer".

A entrada, como sempre, é livre a quem vier por bem!


segunda-feira, 14 de março de 2016

Sou


Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.


Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Cabeça de Medusa

Para reflexão apenas e, quem sabe?, debate posterior.

(Triptico de Jeronimus Bosch - Tentações de Sto António)


Extracto do livro I Dominicano Branco de Gustav Meyrink

Situando a cena: Ofélia morre. Tanto o noivo como o pai sofrem profundamente a perda. O pai procura uma sessão mediúnica e convida o noivo a assistir. Acontece uma manifestação.

«... O fantasma dirige-se para mim com um rosto radioso. Cada dobra da roupa é a imagem exacta da realidade de outrora. A mesma expressão fisionómica, os mesmos olhos tão belos e sonhadores, as pestanas pretas compridas, as sobrancelhas bem desenhadas, as mãos brancas e finas e até os lábios frescos e rosados. Apenas o cabelo está escondido por um véu. Ela debruça-se meigamente para mim e eu sinto bater o seu coração; ela beija-me na fronte e põe-me os braços à volta do pescoço. O calor tépido do seu corpo penetra-me. “Ela voltou a viver – digo-me eu – não pode haver dúvidas” .
(...) a voz de Ofélia ressona em mim... “não me abandones! Ajuda-me! Ele apenas traz uma máscara semelhante a mim”.
(...) Serro os dentes e torno-me frio, com o frio da desconfiança.
“Quem é este “ele” que poderá trazer a máscara semelhante a Ofélia?”pergunto-me interiormente, olhando fixamente a aparição nos olhos como se aí fosse  ler uma resposta; então vejo o rosto do fantasma paralisar numa expressão de insensibilidade petrificada como uma estátua, e as pupilas contraírem-se como se estivessem sob o efeito de um raio luminoso.
É o retrato súbito de um ser que tem medo de ser reconhecido; mas por mais rápido que ele possa ter sido, o tempo de um batimento do coração, foi o bastante para me aperceber nos olhos do fantasma de uma minúscula imagem que não é a minha (Ofélia), mas a de um rosto estranho.
Simultaneamente a aparição afastou-se de mim para se lançar, de braços estendidos, ao torneiro (pai de Ofélia) que, chorando copiosamente de alegria e de amor, a abraça e lhe cobre o rosto de beijos.
Sou tomado por um horror indescritível. Sinto os cabelos eriçarem-se-me na cabeça de terror. O ar que respiro paralisa-me os pulmões como um vento glacial.

(Jan Madyn)

(...)
É o rosto de um ser estranho de uma beleza indescritível, o rosto de uma virgem e ao mesmo tempo de um éfebo.
Os olhos sem pupilas, e vazios como os de uma estátua, têm reflexos opalinos.
Os lábios finos e exangues, delicadamente levantados nos cantos, têm uma expressão dificilmente perceptível, mas tanto mais terrível, de uma inexorável vontade de destruição universal.
Vê-se os dentes brancos brilharem através da pele fina como seda: o sorriso lúgubre de um esqueleto.
Tenho a impressão de que este rosto é o ponto de convergência de dois mundos. Como uma lente, concentra os raios de um reino de destruição saturado de ódio; atrás espreita o abismo de toda a destruição, do qual o Anjo da Morte é apenas uma pálida imagem .
Pergunto-me com angústia: “Que figura é esta que assim reveste os traços de Ofélia? De onde vem? Que força cósmica animou esta cópia?
(...)
O diabo não se manifesta por fins tão derisórios; não me lembro se foi a voz do ser primordial em mim que o murmurou (...) mas eu compreendi que “É a força impessoal de todo o mal que, operando segundo as leis naturais mudas, suscitando prodígios pelo poder da magia, na verdade entrega-se a uma fantasmagoria infernal por via de contraste. O que assim traz a máscara de Ofélia não é um ser dotado de substância. É a imagem mágica conservada pela memória do torneiro que se tornou visível e palpável em condições metafísicas e cujos processos e princípios ignoramos, talvez com a finalidade diabólica de alargar ainda mais o abismo que separa o império dos mortos do mundo dos vivos. É a alma da pobre costureira (médium) histérica - que ainda não atingiu a forma pura, cristalizada, de uma individualidade - que, brotando do corpo do médium como uma pasta magnética flexível e moldável, forneceu o envelope com o que o desejo do velho torneiro criou este fantasma. A cabeça de Medusa, símbolo do poder petrificante de uma potência de aspiração para baixo, está aqui a trabalhar a uma escala reduzida (...)
(...)

Palavras do responsável pela reunião, dirigindo-se ao noivo, numa profecia:

(Cabeça de Medusa - Escola Flamenga - 1600)
(...) A estrela Fixtus saiu da sua órbita e dirige-se agora para a Terra. A ressurreição dos mortos está próxima. Já os primeiros precursores estão em marcha. Os espíritos dos nosso desaparecidos circularão entre nós semelhantes a nós, e as feras comerão de novo a erva dos campos como outrora no Jardim do Éden (...)
Jovem, renuncia às vaidades do mundo! Percorri a Europa inteira (mostra as sandálias) e posso dizer-lhe isto: não há uma rua, mesmo nas aldeias mais humildes, onde hoje não haja comunicadores com o além. Em breve o movimento vai alargar-se ao mundo inteiro como uma torrente. A potência da Igreja católica será aniquilada, pois o Salvador virá em pessoa.

Continuando o noivo-narrador:
(...)
Depois de ter visto a cabeça da Medusa, ouvi a sua voz pela boca do homem de cabelos compridos (responsável pela reunião), uma e outra revestidas pela máscara da espiritualidade. É a língua viperina de uma cobra das trevas que fala pela sua voz. Ela fala do Salvador e pensa: Satã. Ela diz: as feras comerão de novo a erva dos campos! Por erva dos campos ela entende: os simples – a multidão – e por feras: os demónios do desespero.

O que há de terrível na profecia é que, sinto-o, ela vai realizar-se! E ainda mais terrível é que ela é uma mistura de verdade e de perfídia infernal! São as máscaras vazias dos mortos que ressuscitarão e não aqueles que amámos, não os desaparecidos que são chorados pelos da Terra! Elas regressarão para os vivos dançando, mas não será só na chegada do milénio: será, isso sim, um baile do inferno, uma alegria Satânica esperando o canto do galo de uma quarta-feira de Cinzas cósmica que nunca terá fim!»


Ouvindo o Espírito:
(…) 
"Os servidores da Medusa esperam, enviando aos homens os fantasmas dos mortos, abreviar a hora do seu triunfo! Estão a criar um espaço vazio, que deveria levar à loucura e aos extremos do desespero, e que deveria engolir tudo o que vive; mas eles não conhecem a lei da “Realização”! Não sabem que a nascente de todo o socorro só brota do reino do espírito no momento em que a necessidade se faz sentir.
E esta necessidade são eles mesmos que a criam.
Chamam aqui abaixo os novos profetas. Eles deitam abaixo a antiga Igreja sem saber que preparam desta forma as vias para a nova. Eles querem devorar tudo o que vive, mas apenas devoram o que está em estado de putrefacção. Eles querem arrancar do coração dos homens a esperança do além, mas apenas arrancam o que está destinado a cair. A antiga Igreja de hoje é obscura e privada de luz, mas a sombra que ela projecta no futuro é uma sombra branca”