(Nascimento de Vénus - Odilon Redon) |
Estas três palavras marcam os três estágios evolutivos do homem e da humanidade.
O homem intelectual de hoje é uma fronteira entre o homem bárbaro de ontem e o homem espiritual de amanhã.
O homem chamado civilizado é amigo da palavra, veículo externo de processos mentais internos.
O homem selvagem de outrora e de hoje manifestava e manifesta a sua vitalidade e emoções por meio de ruídos de toda a espécie.
O homem que superou esses dois estágios preliminares encontra o seu reino predilecto no silêncio, que para ele não é vacuidade, mas plenitude.
Para além da palavra está o silêncio; para aquém da palavra, o barulho.
O ruído, inarticulado ou articulado, foi sempre o inseparável companheiro do homem incompleto, desde os gritos estridentes das hordas antigas, até aos gritos orquestrados das hordas modernas. O homem só começa a sentir o desprezo pelo ruído quando se distancia da análise mental e se aproxima da intuição espiritual - e no zénite da experiência íntima impera o silêncio absoluto, fecundo, criador, o silêncio-plenitude. A mensagem dos grandes silenciosos perdura através dos séculos e milénios, porque não é afectada pelas categorias de tempo e espaço.
A palavra constrói para o tempo e, não é raro, destrói o que construiu - o silêncio constrói para a eternidade.
O amante da palavra pensa que o amigo do silêncio seja um homem triste e misantropo - mas o amigo do silêncio vive num paraíso de felicidade, ainda que a sua beatitude se encontre numa outra dimensão, ignorada pelo idólatra do ruído e da palavra.
Deus é infinitamente silencioso, e quanto mais o homem se aproxima de Deus mais silencioso se torna.
O ruído é dos homens - o silêncio é de Deus.
O ruído esteriliza - o silêncio fertiliza.
Huberto Rohden, A Voz do Silêncio