terça-feira, 22 de setembro de 2015

Ruído, Palavra, Silêncio


(Nascimento de Vénus - Odilon Redon)

Estas três palavras marcam os três estágios evolutivos do homem e da humanidade.

O homem intelectual de hoje é uma fronteira entre o homem bárbaro de ontem e o homem espiritual de amanhã.

O homem chamado civilizado é amigo da palavra, veículo externo de processos mentais internos.

O homem selvagem de outrora e de hoje manifestava e manifesta a sua vitalidade e emoções por meio de ruídos de toda a espécie.

O homem que superou esses dois estágios preliminares encontra o seu reino predilecto no silêncio, que para ele não é vacuidade, mas plenitude.

Para além da palavra está o silêncio; para aquém da palavra, o barulho.

O ruído, inarticulado ou articulado, foi sempre o inseparável companheiro do homem incompleto, desde os gritos estridentes das hordas antigas, até aos gritos orquestrados das hordas modernas. O homem só começa a sentir o desprezo pelo ruído quando se distancia da análise mental e se aproxima da intuição espiritual - e no zénite da experiência íntima impera o silêncio absoluto, fecundo, criador, o silêncio-plenitude. A mensagem dos grandes silenciosos perdura através dos séculos e milénios, porque não é afectada pelas categorias de tempo e espaço.

A palavra constrói para o tempo e, não é raro, destrói o que construiu - o silêncio constrói para a eternidade.

O amante da palavra pensa que o amigo do silêncio seja um homem triste e misantropo - mas o amigo do silêncio vive num paraíso de felicidade, ainda que a sua beatitude se encontre numa outra dimensão, ignorada pelo idólatra do ruído e da palavra.

Deus é infinitamente silencioso, e quanto mais o homem se aproxima de Deus mais silencioso se torna.

O ruído é dos homens - o silêncio é de Deus.

O ruído esteriliza - o silêncio fertiliza.

Huberto Rohden, A Voz do Silêncio

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