(Pintura: Ostad Mahmoud Farshchian) |
Ouve o ney (flauta
de cana) contar uma história,
a lastimar-se da separação:
"Desde
que me cortaram o junco,
o meu lamento faz gemer o homem e a mulher.
Quero um
coração dilacerado pela separação para
nele verter a dor do desejo.
Quem vive
longe da sua origem aspira ao instante
em que de novo se lhe unirá.
Eu,
lamentei-me com todos, tanto me associei
aos que se alegram como aos que choram.
Todos me
compreenderam conforme
os seus próprios sentimentos; mas ninguém tentou saber
os meus segredos.
Porém, o
meu segredo não está longe do meu lamento,
mas o ouvido e o olho não sabem percebê-lo.
O corpo
não é roubado à alma, nem a alma ao corpo;
contudo, ninguém pode ver a alma.
É do
fogo, e não do vento, o som da flauta:
que se reduza ao nada aquele a quem faltar esta chama!
É o fogo
do Amor que está na cana, é o ardor do Amor
que faz fervilhar o vinho.
A flauta
é a confidente daquele que está separado do seu Amigo:
as suas notas rasgam os nossos véus.
Quem já
viu porventura um veneno e um antídoto
como a flauta?
Quem já
viu porventura um consolador e um amante
como a flauta?"
In O Cântico do Sol,
de Djalal-od-Din Rumi
(1207-1273)
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