(Cristo lebre) |
Páscoa!
Tempo de reflexão.
Para os cristãos é sinónimo de Ressurreição. Jesus morto levanta-se do
túmulo ao alvorecer, em corpo de luz.
É morto depois da Última Ceia, na Páscoa judaica (Pesach ou Pesaḥ)) quando se comemora a saída do Egipto e a liberdade do povo eleito.
E é comendo o cordeiro temperado com ervas amargas e acompanhado por pão
ázimo, para lembrar os tormentos passados no Egipto, que Jesus celebra a Última
Ceia. Nessa noite, segundo os Evangelhos, é preso, passa a Paixão até à morte
na cruz na Sexta-feira, ressuscitando ao alvorecer do Domingo.
Entre nós, no Domingo, há o ritual da visita da Cruz a cada casa. É o
momento de reunião das famílias, da alegria e doçura da época. Nas mesas as
amêndoas, os ovos, os coelhos de Páscoa.
De onde vêm os ovos e os coelhos? Nada têm a ver com a simbologia cristã!!!
Das memórias ancestrais perduram os ritos antigos que tornam real a
comunhão de crenças, pois o importante é Algo Maior, a noção profunda da
transcendência no nosso Imaginário.
Comecemos pela data em que celebramos a Páscoa: é fixada no primeiro
Domingo após a primeira Lua Cheia que segue 21 de Março. Assim, será a 22 de
Março, se a Lua Cheia for na noite de 21, e o mais tardar a 25 de Abril. Não se
trata da lua observada, mas de uma lua dita eclesiástica*.
Ora, o calendário lunar era o antigo calendário antes do gregoriano romano,
calculado pelo sol.
Segundo Bede (673-735), o mês de Abril era Eosturmonath, agora traduzido por “mês pascal”, mas que
anteriormente era dedicado a Eostre
(Ostara) festejada neste mês. Segundo Grimm era “uma divindade do alvorecer
radiante, da luz primaveril, um espectáculo que traz alegria e bênçãos” Eostre
é o aspecto nórdico da Grande Deusa Mãe. Anuncia a germinação ou por outros
termos a ressurreição da Terra.
Os ovos, e por comparação as amêndoas, a lebre ou o coelho, eram símbolos
de Eostre, uma evidência, uma vez que ela era a Deusa da Fertilidade.
Mais tarde, quando se impôs o cristianismo, e segundo a Enciclopédia
Católica “porque o uso de ovos era proibido durante a Quaresma, eram levados à
mesa no dia de Páscoa, pintados de vermelho simbolizando a alegria da Páscoa”.
Do coelho, animal lunar, símbolo da fertilidade por excelência aparece já
na Antiguidade, 3500 AC. Inicialmente havia referências a uma lebre, símbolo da
abundância, proliferação e renovação, animal presente em várias tradições pelo mundo.
Por exemplo, no Islão, Ali, o descendente do Profeta, apresenta-se sob a
aparência de uma lebre simbolizando o filho sacrificado. A ideia de sacrifício
divino simbolizado pela morte da lebre está igualmente presente no budismo: o boddhisattva
toma a aparência de uma lebre para se lançar nas chamas. Igualmente, é uma
lebre que se imola pelo fogo para alimentar o Buda quando este tem fome.
Nesta Páscoa que vivemos, em que aliamos símbolos antigos e os actualizamos
a cada ano, talvez mais uma mensagem se torne evidente: o Tempo reúne o que
antes separou, deixando manifestar-se a Unicidade da Vida, independentemente
dos cultos, das crenças, das lutas religiosas.
Somos intrinsecamente Seres em Busca da Luz.
Boa Páscoa A TODOS.
* A Lua Eclesiástica ou Lua Pascal é uma representação fictícia das fases
da Lua real. Desde o Concílio de Niceia em 325 que os cálculos se baseiam no
ciclo metónico para determinar a data da Páscoa. Segundo Meton,
235
meses lunares correspondem
exactamente a 19
anos trópicos.
Utilizando-se o calendário
juliano, a cada 19 anos as fases da Lua vão cair nos
mesmos dias do calendário.
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