sábado, 15 de abril de 2017

Páscoa na Luz

(Cristo lebre)


Páscoa!

Tempo de reflexão.

Para os cristãos é sinónimo de Ressurreição. Jesus morto levanta-se do túmulo ao alvorecer, em corpo de luz.

É morto depois da Última Ceia, na Páscoa judaica (Pesach ou Pesaḥ)) quando se comemora a saída do Egipto e a liberdade do povo eleito.
E é comendo o cordeiro temperado com ervas amargas e acompanhado por pão ázimo, para lembrar os tormentos passados no Egipto, que Jesus celebra a Última Ceia. Nessa noite, segundo os Evangelhos, é preso, passa a Paixão até à morte na cruz na Sexta-feira, ressuscitando ao alvorecer do Domingo.


Entre nós, no Domingo, há o ritual da visita da Cruz a cada casa. É o momento de reunião das famílias, da alegria e doçura da época. Nas mesas as amêndoas, os ovos, os coelhos de Páscoa.

De onde vêm os ovos e os coelhos? Nada têm a ver com a simbologia cristã!!!

Das memórias ancestrais perduram os ritos antigos que tornam real a comunhão de crenças, pois o importante é Algo Maior, a noção profunda da transcendência no nosso Imaginário.

Comecemos pela data em que celebramos a Páscoa: é fixada no primeiro Domingo após a primeira Lua Cheia que segue 21 de Março. Assim, será a 22 de Março, se a Lua Cheia for na noite de 21, e o mais tardar a 25 de Abril. Não se trata da lua observada, mas de uma lua dita eclesiástica*.

Ora, o calendário lunar era o antigo calendário antes do gregoriano romano, calculado pelo sol.

Segundo Bede (673-735), o mês de Abril era Eosturmonath, agora traduzido por “mês pascal”, mas que anteriormente era dedicado a Eostre (Ostara) festejada neste mês. Segundo Grimm era “uma divindade do alvorecer radiante, da luz primaveril, um espectáculo que traz alegria e bênçãos” Eostre é o aspecto nórdico da Grande Deusa Mãe. Anuncia a germinação ou por outros termos a ressurreição da Terra.

Os ovos, e por comparação as amêndoas, a lebre ou o coelho, eram símbolos de Eostre, uma evidência, uma vez que ela era a Deusa da Fertilidade.

Mais tarde, quando se impôs o cristianismo, e segundo a Enciclopédia Católica “porque o uso de ovos era proibido durante a Quaresma, eram levados à mesa no dia de Páscoa, pintados de vermelho simbolizando a alegria da Páscoa”.

Do coelho, animal lunar, símbolo da fertilidade por excelência aparece já na Antiguidade, 3500 AC. Inicialmente havia referências a uma lebre, símbolo da abundância, proliferação e renovação, animal presente em várias tradições pelo mundo. Por exemplo, no Islão, Ali, o descendente do Profeta, apresenta-se sob a aparência de uma lebre simbolizando o filho sacrificado. A ideia de sacrifício divino simbolizado pela morte da lebre está igualmente presente no budismo: o boddhisattva toma a aparência de uma lebre para se lançar nas chamas. Igualmente, é uma lebre que se imola pelo fogo para alimentar o Buda quando este tem fome.


Nesta Páscoa que vivemos, em que aliamos símbolos antigos e os actualizamos a cada ano, talvez mais uma mensagem se torne evidente: o Tempo reúne o que antes separou, deixando manifestar-se a Unicidade da Vida, independentemente dos cultos, das crenças, das lutas religiosas.

Somos intrinsecamente Seres em Busca da Luz.

Boa Páscoa A TODOS.


* A Lua Eclesiástica ou Lua Pascal é uma representação fictícia das fases da Lua real. Desde o Concílio de Niceia em 325 que os cálculos se baseiam no ciclo metónico para determinar a data da Páscoa. Segundo Meton, 235 meses lunares correspondem exactamente a 19 anos trópicos. Utilizando-se o calendário juliano, a cada 19 anos as fases da Lua vão cair nos mesmos dias do calendário.

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