Não me parece que o caminho da montanha seja fácil para alguém. As veredas são muitas, com armadilhas, com descidas abruptas, com escaladas inesperadas. Eu não ambiciono chegar ao cume, mas esforço-me por fazer uma caminhada vazia de egoísmo, com muito amor e alguns sonhos entrelaçados.
Nos primeiros vinte anos de caminho aprendi a não fazer aos outros o que não queria que me fizessem a mim. Seguindo esta máxima considerava-me boa pessoa. Depois, com as obrigações familiares e profissionais tornaram-se raros os momentos em que conseguia “pensar”, mas pude perceber que tinha que expandir a máxima e teria que fazer aos outros o que gostaria que me fizessem a mim.
Entretanto, no meio de um labirinto perdi-me. As estrelas enganavam-me. A esfinge atrapalhava-me. Sentei-me a chorar. E as minhas lágrimas acabaram por inundar e a pouco e pouco submergir o labirinto, libertando-me.
E às voltas pela encosta, com quedas e arranhões, perdi a noção do tempo enquanto ganhava, creio, a mais autêntica noção de amor. Amor, forma de bem-querer sem nada esperar em troca. Forma de interesse profundo, com total despojamento.
Como vivo o amor?
Os relógios cansam-se de esperar por mim enquanto invento novas fragrâncias para presentear a minha filhota, que já não é minha, que nunca foi minha, porque as pessoas não têm dono e, como diz Gibran Kahlil, “ Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.”. Vejo-a, diariamente, por breves minutos, mas eu gostaria que ficasse comigo a tecer sonhos durante uma eternidade. Compreendo que esse é um sentimento egoísta, volto atrás e apago-o com uma borracha especial que inventei para os sentimentos menos nobres. Respiro fundo, facilito a partida e, desnudada de qualquer resquício de egoísmo, estou pronta para dar a vida para salvar a dela, se for preciso. E isto é fácil. É inerente à maternidade. Mais difícil é beber o despojamento necessário para aceitar os seus voos, para construir um ninho em que já não tenho o lugar principal.
Também no amor pleno homem/mulher o despojamento é muito difícil de conseguir, mas é possível, quando investimos na sua aprendizagem.
Qual de vós seria capaz de amar alguém à distância, durante uma vida? Qual de vós seria capaz de seguir alguém que não tem qualquer estatuto para lhe oferecer? (Lembram-se da inglesa que seguia Gandhi?) Qual de vós seria capaz de ir buscar a lua apenas para ver um sorriso nos lábios de alguém? Estes são exemplos de formas de despojamento. Se alguém respondeu afirmativamente a alguma destas questões facilmente será apelidado de louco. Por mim, não. Eu considero que bem-querer sem precisar de possuir exige muito de cada um de nós. Implica uma aprendizagem sublime. Mas confere a paz que pode conduzir à felicidade.
Ui, ainda falta tanto para chegar ao cimo da montanha!
Caminhante DSEP (Despojamento, Solidariedade, Esperança e Paz)
Nos primeiros vinte anos de caminho aprendi a não fazer aos outros o que não queria que me fizessem a mim. Seguindo esta máxima considerava-me boa pessoa. Depois, com as obrigações familiares e profissionais tornaram-se raros os momentos em que conseguia “pensar”, mas pude perceber que tinha que expandir a máxima e teria que fazer aos outros o que gostaria que me fizessem a mim.
Entretanto, no meio de um labirinto perdi-me. As estrelas enganavam-me. A esfinge atrapalhava-me. Sentei-me a chorar. E as minhas lágrimas acabaram por inundar e a pouco e pouco submergir o labirinto, libertando-me.
E às voltas pela encosta, com quedas e arranhões, perdi a noção do tempo enquanto ganhava, creio, a mais autêntica noção de amor. Amor, forma de bem-querer sem nada esperar em troca. Forma de interesse profundo, com total despojamento.
Como vivo o amor?
Os relógios cansam-se de esperar por mim enquanto invento novas fragrâncias para presentear a minha filhota, que já não é minha, que nunca foi minha, porque as pessoas não têm dono e, como diz Gibran Kahlil, “ Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.”. Vejo-a, diariamente, por breves minutos, mas eu gostaria que ficasse comigo a tecer sonhos durante uma eternidade. Compreendo que esse é um sentimento egoísta, volto atrás e apago-o com uma borracha especial que inventei para os sentimentos menos nobres. Respiro fundo, facilito a partida e, desnudada de qualquer resquício de egoísmo, estou pronta para dar a vida para salvar a dela, se for preciso. E isto é fácil. É inerente à maternidade. Mais difícil é beber o despojamento necessário para aceitar os seus voos, para construir um ninho em que já não tenho o lugar principal.
Também no amor pleno homem/mulher o despojamento é muito difícil de conseguir, mas é possível, quando investimos na sua aprendizagem.
Qual de vós seria capaz de amar alguém à distância, durante uma vida? Qual de vós seria capaz de seguir alguém que não tem qualquer estatuto para lhe oferecer? (Lembram-se da inglesa que seguia Gandhi?) Qual de vós seria capaz de ir buscar a lua apenas para ver um sorriso nos lábios de alguém? Estes são exemplos de formas de despojamento. Se alguém respondeu afirmativamente a alguma destas questões facilmente será apelidado de louco. Por mim, não. Eu considero que bem-querer sem precisar de possuir exige muito de cada um de nós. Implica uma aprendizagem sublime. Mas confere a paz que pode conduzir à felicidade.
Ui, ainda falta tanto para chegar ao cimo da montanha!
Caminhante DSEP (Despojamento, Solidariedade, Esperança e Paz)
1 comentário:
O mais importante da vida é amar. O caminho faz-se caminhando, com
coragem, esperança e nunca deixando de sonhar.
Como diz, num belo poema, Sebastião da Gama:
" ...Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não Chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos."
Enviar um comentário