(Rei David de Domenico Zampieri) |
Os salmos são
hinos sagrados por meio dos quais o povo de Deus costumava louvar o Altíssimo,
implorar Sua misericórdia, agradecer benefícios recebidos e recordar prodígios
de Sua paternal providência em favor de Israel. Foram compostos por diversos
escritores sagrados, sendo David o autor de sua maior parte.
São textos para
serem lidos e meditados, pois a sua profundidade espiritual leva-nos a um êxtase
inenarrável.
Há 2 salmos que me impressionam de uma maneira extraordinária:
São os salmos 22 e 50. Ambos atribuídos ao rei David.
Do primeiro transcrevo os primeiros versos, para deleite interior:
“O Senhor é meu pastor, nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
Conduz-me às águas refrescantes
E reconforta a minha alma”.
Do segundo, conhecido como o salmo do “Miserere”
(Misericórdia), tentarei dar uma explicação histórica e que nos faz compreender
a sua génese.
O rei Saul, primeiro rei de Israel, afastou-se dos
caminhos de YAVEH e ESTE retirou-lhe a Sua bênção. Enviou o profeta Samuel para
ungir David, o mais novo de 7 irmãos, porque o tinha escolhido para rei do Seu
Povo, o que sucedeu algum tempo depois, após a morte de Saul numa batalha com
os filisteus.
David foi um grande rei, combateu e venceu os seus
inimigos, tornou-se forte e temido por estes e respeitado pelo seu povo.
Era um rei temente a Deus.
Mas…há sempre um mas…
(David e Betsabe de Lucas Cranach) |
Apaixonou-se por Betsabé, esposa de Urias, um dos seus
soldados de elite, que estava na guerra contra os amonitas. Engravidou-a e
tentou, sub-repticiamente, resolver o problema do adultério. Mandou chamar
Urias e disse-lhe que fosse para casa, descansar. Mas Urias, um militar íntegro
e com honra, respondeu ao rei que não faria tal, pois os seus companheiros
estavam ao relento e longe das famílias e o seu dever era compartilhar o sacrifício
com eles.
Vendo David que a sua estratégia falhara, enviou-o
novamente para a frente de batalha, com uma carta para o comandante do exército,
com estes dizeres: “Coloca Urias na frente, onde o combate for mais renhido e
desamparai-o para que ele seja ferido e morra” (II Samuel, 14,15).
E assim sucedeu.
David desposou Betsabé.
Uma história de encantar, não é?
Perante a sociedade nada de anormal se passou. Foi
tudo legal e normal. A morte de um soldado é apenas a consequência da guerra.
Só que David não era um rei qualquer. Foi ungido com o
óleo sagrado, por ordem de YAVEH. Teria que dar o exemplo, ser justo e
obediente a Deus.
O Profeta Natan foi ter com o rei, dando-lhe o recado
de Deus: “Ungi-te rei de Israel…Porque desprezaste o Senhor, fazendo o que é
mal aos seus olhos? Feriste com a espada Urias, para fazer de sua mulher a tua
esposa. Por isso, jamais se afastará a espada de tua casa, porque Me
desprezaste…Porque tu agiste às escondidas, mas Eu o farei diante de todo o
Israel e diante do sol. David disse a Natan: “Pequei contra o Senhor”. Natan
respondeu-lhe: “O Senhor perdoou o teu pecado; não morrerás. Todavia como
desprezaste o Senhor com esta acção, morrerá o filho que te nasceu” (II Samuel,
12, 7-15).
E foi neste contexto, que um homem verdadeiramente arrependido
implorou o perdão e a misericórdia de Deus.
(Ícone do Rei David) |
E transcrevo os primeiros versos do Salmo 50:
“Tende piedade de mim, Senhor segundo a Vossa bondade,
E conforme a imensidade da Vossa misericórdia, apagai
a minha iniquidade.
Lavai-me totalmente de minha falta,
E purificai-me do meu pecado”.
E como fecho,
recordo que Jesus, o Messias, é descendente do grande rei David. Na Anunciação
do anjo Gabriel a Maria, ele diz:”não tenhas receio Maria…hás-de conceber e dar
à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus…O Senhor Deus dar-lhe-á o trono
de seu pai David”. Lucas 1, 30-32.
Algumas conclusões
se poderão tirar. Sem querer ser moralista, compartilho duas:
1 – Podemos
tentar enganar-nos a nós próprios e aos outros. Mas nunca a Deus.
2 – Por maiores
que sejam as nossas faltas e os nossos erros, quando há verdadeiro
arrependimento, Deus está sempre pronto a perdoar-nos, porque nos ama.
Ernesto Henriques
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