domingo, 9 de junho de 2013

Vida depois da vida - Victor Hugo





Quando morreu, no século XIX, no seu cortejo fúnebre, em plena Paris, Victor Hugo arrastou nada menos que dois milhões de acompanhantes. Foi um lutador das causas sociais, defensor dos oprimidos, divulgador do ensino e da educação.

Este escritor de génio deixou textos inéditos que, por sua vontade, apenas foram publicados após a sua morte.

Um deles fala exactamente do homem e da imortalidade. Traduz-se mais ou menos pelas seguintes palavras: 
"A morte não é o fim de tudo.
Ela não é senão o fim de uma coisa
e o começo de outra.
Na morte o homem acaba,
e a alma começa.
Que digam esses que atravessam a hora fúnebre,
a última alegria, a primeira do luto.
Digam se não é verdade que ainda há ali alguém,
e que não acabou tudo?
Eu sou uma alma.
Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu eu, o meu ser.
O que constitui o meu eu, irá além.
O homem é um prisioneiro.
O prisioneiro escala penosamente
os muros da sua masmorra.
Coloca o pé em todas as saliências
e sobe até ao respiradouro.
Aí, olha, distingue ao longe a campina,
Aspira o ar livre, vê a luz.
Assim é o homem.
O prisioneiro não duvida que encontrará
a claridade do dia, a liberdade.
Como pode o homem duvidar se vai encontrar a eternidade à sua saída?
Por que não possuirá ele um corpo sutil, etéreo.
De que o nosso corpo humano não pode ser senão um esboço grosseiro?
A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo.
É por demais pesado para esta terra.
O mundo luminoso é o mundo invisível.
O mundo do luminoso é o que não vemos.
Os nossos olhos carnais só vêem a noite.
A morte é uma mudança de vestimenta.
A alma, que estava vestida de sombra,
vai ser vestida de luz.
Na morte o homem fica sendo imortal.
A vida é o poder que tem o corpo de manter
a alma sobre a terra, pelo peso que faz nela.
A morte é uma continuação.
Para além das sombras,
estende-se o brilho da eternidade.
As almas passam de uma esfera para outra, tornam-se cada vez mais luz.
Aproximam-se cada vez mais e mais de Deus.
O ponto de reunião é no infinito.
Aquele que dorme e desperta, desperta e vê que é homem.
Aquele que é vivo e morre, desperta e vê que é Espírito”.









1 comentário:

Ana Luís disse...

Coincidência das coincidências: Tive com esse poema nas mãos este sábado e li um excerto à Raquel e num momento importante de sábado...

É para mim um dos poemas mais belos...