sexta-feira, 16 de abril de 2010

Reflectindo...

Na sequência do fim de semana passado, com Remi Boyer, recebi este poema do "nosso" Pessoa que vem encerrar de forma sublime toda a problemática desenvolvida.
Deixo pois a palavra ao nosso Poeta:


Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."
Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem escohido este Poema.

Que grande Mestre e Poeta, o "nosso" Pessoa: da sua multiplicidade forjou as asas,
que o libertaram do Labirinto do
"Ser".

Obrigado pela realização do
Seminário sobre o "Despertar".
Magnífico!

Abracinho caloroso