(Foto: Joana) |
Eis-me
Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e
deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me
toca
O meu coração desce as escadas do tempo em
que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo
opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente
Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962
(Poetisa portuguesa do século XX (1919-2004), de origem dinamarquesa do lado paterno, nasceu no Porto, que nunca abandonou. Casada com Francisco de Sousa Tavares, foi mãe, poetisa, contista... Recebeu vários prémios literários, homenagens e reconhecimento. Apaixonada pela vida, dedicou grande parte das suas palavras ao Mar).
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