segunda-feira, 27 de maio de 2013

"Fala-nos da amizade"




“O vosso amigo é a resposta às vossas necessidades” (Kahlil Gibran)

Fala-se muito em amizade, em abraço (a semana que passou diz-se que foi a semana do abraço)... Esta necessidade de criar semanas ou dias dedicados a algo que é, ou devia ser, tão natural como o bem-querer indicia que nem tudo é claro. A solidão grassa no coração das pessoas.

A amizade é uma das formas de Amor mais belas. Dá-se sem esperar retorno, sem obrigações, apenas por ser amigo. Pelo menos é assim que a concebemos.

Não confundamos os colegas com amigos. Muitas vezes ouvimos dizer que aquele colega traiu a nossa confiança seguindo-se uma desconfiança nos Amigos. Colegas podem não ser amigos. Amigo é outra coisa… Podemos ter mil colegas mas amigos... esses são poucos, muito poucos. A amizade é diferente da relação diária no trabalho, no lazer. Amizade é algo profundo, único em que o outro se torna importante, um laço que perdura.

Quem não se lembra dos amigos que alegraram a infância?

Os filhos falam dos amiguinhos do Jardim de Infância, escolhidos entre as várias crianças da turma - por acaso? Andam juntos, brincam juntos, confiam-se. Porque não falarmos daqueles amiguinhos “invisíveis” – cada vez mais correntes – que as crianças têm e vêem. Falam com eles, contam-lhes o dia. Que pena os pais, porque não vêem, contrariam as crianças e tentam chamá-las à razão: eles não existem!

Adultos que mandam e conhecem, peremptórios e senhores! (Hmmm... Saint-Exupéry n’O Principezinho tem uma visão muito clara sobre os adultos)

A criança sabe que existem, pois fala com eles, vê-os. Então, toma o caminho da sensatez: esconde-os dos adultos, fechando-se no seu mundo.

Seja qual for a idade ou o amigo que cada um cultive e cative, a amizade vive no mais fundo de cada, em cada respiro, numa busca constante como se cada Amigo fosse um pedacinho que nos falta para estarmos completos.

Deixamos uma leitura muito bela sobre a amizade e alguns conselhos:

Sir 6, 5-17
Leitura do Livro de Ben-Sirá

A palavra amável multiplica os amigos e uma língua afável atrai saudações agradáveis. Sejam muitos os que te saúdam, mas por conselheiro escolhe um entre mil. Se quiseres um amigo, tens de o pôr à prova e não tenhas pressa em lhe dar a tua confiança. Porque há amigos de ocasião, que não serão fiéis no dia da adversidade. Há amigos que se tornam inimigos, revelando as vossas contendas para tua humilhação. Há amigos para a mesa, que não serão fiéis no dia da desgraça. Na tua prosperidade estará contigo, falando livremente aos teus familiares; mas se fores humilhado, será contra ti e esconder-se-á da tua presença. Afasta-te dos teus inimigos e acautela-te dos teus amigos. O amigo fiel é abrigo seguro: quem o encontrou descobriu um tesouro. O amigo fiel não tem preço: não se pode medir o seu valor.

3 comentários:

alice marques disse...

Não se fala na Amizade - Amor das Cantigas de Amigo dos Trovadores. Não se pode falar de tudo, mas...

Os Tovadores sabiam bem que o Amor e a Amizade eram Unas...

Um tema a desenvolver, e que tema!

alice marques disse...

Por lapso escrevi "Tovadores" em vez de "Trovadores".

Desculpem.

Ernesto disse...

Belíssimo texto. Profundo. A amizade versus amor. “ A amizade é uma das formas de Amor mais belas. Dá-se sem esperar retorno, sem obrigações, apenas por ser amigo”.
Fiquei a matutar no assunto e concluí que a poderia estratificar em 3 níveis, de acordo com o seu grau de ligação:
1 – A perfeita: amizade total, dádiva total, sem nada esperar em troca;
2 – A egoísta: amizade com alguma dádiva, mas esperando sempre retorno;
3 – A sofisticada: amizade da “onça”: suposta amizade, que pouco ou nada dá, mas tudo exige e espera.
Por isso dizemos que ter um amigo perfeito é uma bênção, uma raridade (desconfiar quando julgamos ter muitos…).
Já o amigo egoísta é quase uma necessidade em momentos esporádicos. Não se dá tudo, mas também não se espera muito.
O amigo sofisticado, ou da “onça”, é algo que dispensaríamos de bom grado. E talvez saibamos, por experiência própria, quanto já sofremos por causa dele. É caso para dizer que é preferível um inimigo, a um “amigo” deste. Ao menos daquele sabemos o que podemos esperar… não é morno, por isso não é falso!
O trecho do livre de Ben-Sirá é de uma força extrema: o amigo fiel é um tesouro!