(Ostad Mahmoud Farschian) |
“Se seguirmos os místicos até às últimas
fases do que escreveram, não vamos acentuar a linguagem, mas sim o seu
silêncio. O apelo à inefabilidade, que vem depois de tantos esforços para
traduzir, não é, pelo menos para os mais puros de entre eles, ênfase ou
preguiça. Iria parecer-lhes vão , e mesmo uma mentira, exprimir através de
formas de representação o que os arrancou a qualquer forma de representação,
por modalidades submetidas à consciência o que os libertou do olhar de si sobre
si”.
Jean Baruzi
“Pois se a ciência se exprime através de frases para
guiar, a ciência do além não precisa de frases”.
Louis Massignon
A meditação é
uma prática muito antiga e não está ligada a nenhuma religião em particular. Pelo
contrário, em cada crença é aconselhada a meditação para se atingir um
determinado tipo de conhecimento que não é o livresco. É o conhecimento
directo. Muitos foram os que atingiram este estado e que são conhecidos como
místicos. Levando-nos a falar de misticismo e místicos. O que são?
Antes de darmos
a definição no dicionário, eis alguns exemplos: Santa Teresinha, S. João da
Cruz, S. Francisco de Assis, entre muitos outros e apenas entre os cristãos.
Definição:
Misticismo – 1)Crença ou prática filosófica ou religiosa que admite a possibilidade
de união íntima do homem com o divino ou a divindade através da contemplação,
que pode ir até ao êxtase; 2) Disposição psíquica dos
que procuram esta união; 3) Tendência para crer no
sobrenatural; 4) (Filos.) Crença ou doutrina filosófica fundada essencialmente no sentimento,
na intuição, pondo de lado a razão, a racionalidade; 5)
grande devoção religiosa, vida contemplativa.
Místico – o que
professa o misticismo
(Definições no Dicionário da
Língua Portuguesa da Academia de Ciências de Lisboa)
Este conhecimento
directo obtido através destes estados extáticos chega-nos através da única
linguagem que conhecemos: a palavra. Como escreve S. João da Cruz “Dicen que El
alma se entra dentro da si, y otras veces, que sube sobre si; por este languaje
no sabre yo aclarar nada” (Diz-se que a alma entra dentro de si mesma e outras
vezes que se eleva acima de si mesma; com uma linguagem assim nunca saberei
explicar nada). Esta é uma das razões por que há relativamente poucos escritos
deixados pelos grandes místicos que passaram pela Terra.
Muitos são os
livros que lemos e tomamos como guias, ou, igualmente, muitos são as pessoas
que ouvimos e tomamos como guias, mas uns e outros apenas podem ser como
bússolas orientadoras. A razão?
-
Alguns porque escreveram ou
disseram quando ainda não consumaram a realização pessoal. Entenda-se
realização como a tomada do castelo fortificado que é o nosso Ser mais Íntimo e
divino, no âmago do que Somos. Se falarmos em linguagem mística, enquanto não
se tiver o conhecimento directo ou o êxtase revelador.
-
Como cada ser tem a sua própria
interioridade, a sua Via é única e velada a outro entendimento que não o seu.
-
A terceira razão e não a menos
válida é que, como é dita nas citações supra, a palavra não traduz a Realidade
do Além. Como afirma Massignon o Além não precisa de frases.
Muitos são os
estudiosos da misticismo e chegam a uma conclusão comum: não é o estudo que os
faz conhecer os místicos, mas o contrário. Como diz Ghazzali, um sufi árabe no
seu Mungidh sobre o que lhe foi
possível saber do sufismo através do estudo e ensinamento oral: “Foi-me
demonstrado que o seu (do sufismo) último termo não podia ser revelado pelo
ensinamento, mas apenas pelo transporte, êxtase e transformação do ser moral...
Definir o estado de inebriante é diferente de estar ébrio... Eu vi que o
sufismo consiste mais em sentimentos do que definições, já sabia tudo o que o
estudo me podia ensinar e o que me faltava era do domínio, já não do
ensinamento, mas do êxtase e da iniciação. ... Quando se chega a este estado,
devemos limitar-nos a repetir este verso:
“O
que sinto não tentarei dizê-lo”.
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