quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ingratidão?




Ontem alguém falava da ingratidão das pessoas. Na verdade caímos no hábito de nos queixarmos a outrém, esperando ser ouvidos, consolados, compreendidos e outros afagos que fazem tão bem. De pé novamente, já melhor, esquecemos que alguém, um dia ou vários, nos acolheu no seu coração, lambeu as nossas feridas, doou o seu tempo, se interessou, enfim ...amou. Partimos sem querer saber mais se essa pessoa sentirá a necessidade de ouvir “valeu a pena conhecer-te” ou “ foste importante” ou ainda simplesmente “Bem-hajas!”... deixamos o vazio no outro!

A doação, o Amor no sentido mais puro, não necessita de reconhecimentos. Dá-se simplesmente! Quem dá é que mais recebe, diz a sabedoria popular e com razão. Pela Lei do Retorno ou Karma tudo se recebe de volta, aquilo que doou, fez ou pensou, seja bom ou menos bom. Assim, quem recebeu amor e não doou está a constituir uma “dívida” algures, dívida essa que um dia será cobrada.

A língua portuguesa tem uma palavra que retrata esta realidade: obrigado! Dizemo-la sem reflectirmos sobre o seu significado. Segundo o dicionário, uma obrigação é um “direito de crédito”, ou seja se recebemos ficamos a dever algo. Quer seja dito ou simplesmente devido, a verdade é que sempre que recebemos ficamos em dívida.

No Pai Nosso, oração por demais conhecida entre os cristãos, na sua versão anterior dizia a determinado momento “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. Tem dois aspectos esta afirmação.

O primeiro é o facto da dívida ou obrigação, que todos assumimos num ou noutro momento. Não creio que as dívidas referidas no Pai Nosso tenham o aspecto monetário ou económico. São dívidas de outra estirpe: o acto, a palavra, sejam quais forem; refere a doação, o estender a mão, a ajuda, ou os seus contrários.

O segundo aspecto muito importante é o perdão. Só com ele a dívida fica saldada (em caso de não pagamento). Não creio que este perdão seja altaneiro, o perdão daquele que é senhor e, num acto de orgulho, concede o perdão. Intuo que o perdão do Pai Nosso é um acto de Amor, vem do coração, sem nada esperar (nem mesmo a gratidão).


Duas palavras ressaltam: Perdão e Amor. Quem perdoa sabe amar. Quem ama está grato, não por dívida mas antes como cântico e louvor à própria Vida. É o ascender a algo que está para além do dizer ou do fazer, é do domínio celeste, o Inominável e Indizível, onde o sentir ou fazer não existem, apenas se É ... Amor!

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