quinta-feira, 23 de junho de 2016

S. João, noite de Fogo!



Há já muito tempo, publicámos um texto sobre o dia de hoje: noite de S. João. Falámos de algumas tradições que remontam no Tempo (Fernão Lopes – séc. XIV – já descreve nas suas Crónicas estas festas) e explanámos algumas. Hoje falemos das crenças populares.

Nos tempos mais antigos, em que o plástico ainda não era utilizado (só por volta dos anos 70 fez a sua aparição), o alho porro com que se batia e ainda bate na cabeça de quem passava e a cidreira e limonete que se dava a cheirar, este costume menos preservado, eram animadores das ruas. O alho porro simboliza o phalus masculino e a erva cidreira os pêlos púbicos femininos. O orvalho, ou as célebres orvalhadas da região, também tinham um papel: usando vários rituais as solteiras atraiam ou tentavam adivinhar quem seria o companheiro de vida deixando, durante a noite, papelinhos ou um ovo na água, ao orvalho e à Lua (este apenas um dos muitos rituais).

Companheiro tradicional é o manjerico, enfeitado de quadras brejeiras. Pudera, esta planta está ligada ao amor desde tempos pagãos. Não só: a parturiente se agarrasse com força a raiz de manjerico durante o parto, este seria mais fácil. Mais ainda, diz a crença que esta planta traz prosperidade a quem a possui.

O pão que ainda nos anos 70 se vendia nas Fontaínhas, um dos bairros mais tradicionais,  com a forma de um falo e dois testículos acabou, mas os martelinhos preservam de alguma forma esta forma.

Assim, podemos dizer que falamos de um culto de fertilidade.

Mas não é só de fertilidade que se trata. Contam os antigos que se colhermos um alho porro na véspera de S. João, o deixarmos à orvalhada e à Lua nessa noite, e no dia seguinte o colocarmos atrás da porta de entrada da casa, nunca aí faltará o pão nem comida.

Não se pode deixar de falar nos balões de S. João, os sonhos que são lançados ao céu, as pontes que se estabelecem entre o humano e o divino. Em cada balão um desejo!

O Fogo é um dos elementos mais importantes: saltam-se as fogueiras que se espalham pela cidade. Diz o povo que uma verdadeira relação de amor se torna mais duradoura e forte se os namorados saltarem a fogueira de mãos dadas. É união abençoada.

Neste resumo muito simplificado falta apenas um elemento: a sardinha. Nos tempos mais antigos era um cordeiro que se comia e que, gradualmente, foi sendo substituído. A sardinha tem a forma do Peixe, que marcou a Era anterior, Peixes. Os cristãos primitivos usavam o símbolo do peixe para se reconhecerem. Ora, embora as raízes do S. João do Porto venham dos antigos cultos de Solstício, foram cristianizadas. Daí  talvez o cabrito e a sardinha.

Tal como o rio corre para o mar, assim as gentes, dançando, se encaminham em consonância para a foz, casamento de rio e mar... aguardando o Fogo Maior, a Oriente o Sol que nasce, entre fogueiras ...


Mágica esta noite! Mágico o S. João!  Mágicas as brumas e as orvalhadas! Bendita Terra...

2 comentários:

Ernesto disse...

Quantas tradições. Quantos ensinamentos. Fico abismado.
Fica uma pergunta no ar: "Os antigos sabiam tudo, ou são os actuais que não sabem nada?"
Quanta sabedoria e ... lógica.
Beijos

alice marques disse...

Olá Ernesto!

Gostei do seu comentário. Sempre com o seu bom humor! Bem-haja!

Não creio que os Antigos soubessem tudo, mas sabiam muito. Actualmente sabemos muito também. O saber assenta sempre sobre os alicerces do passado… evoluindo…. ou regredindo (?!)

Jinho fofinho