quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cântico ao Irmão Sol


Muitos são os Hinos ao Sol, representação da Luz. São belíssimos, acompanham-nos desde a Antiguidade. O Egipto é um dos exemplos mais marcantes. 

Mas o Sol  também foi cantado de uma das forma mais belas por Alguém que trilhou os caminhos do ocidente e da cristandade.




CÂNTICO AO IRMÃO SOL



Hino ao Irmão Sol
Altíssimo, omnipotente, bom Senhor
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a benção
Só a ti, Altíssimo, são devidos.
E todo o homem é indigno
De pronunciar o Teu nome.
Louvado sejas, meu Senhor
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor Irmão Sol,
Que nos traz o dia
E a luz que nos aquece
Ele que é belo e radiante
No seu grande esplendor
E de ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela Irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste 
Preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, e nuvens e tempestades
E todo o tempo
Com que às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor
Pela Irmã Água,
Tão útil e humilde
E preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo Irmão Fogo
Com que aqueces a noite,
Ele que é belo e agradável
E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Mãe Terra,
Que nos sustenta e governa
E produz frutos diversos
E flores coloridas e plantas
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por te amarem
E suportam enfermidades e tribulações.
Felizes, os que sofrem em paz,
E que por Ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa Irmã Morte Corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrem em pecado mortal
E bem-aventurados os que ela acha
Conformes à tua santíssima vontade,
Porque a segunda morte não lhes fará mal!
Louvai e bendizei ao meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.



S. Francisco de Assis, 1181-1226, Cântico ao Irmão Sol


segunda-feira, 25 de abril de 2011

Actividades em Maio 2011





6 a 8 de Maio

- Fim de tarde: Apoio à peregrinação a Fátima.


14 de Maio

-  15:00 - 3º Atelier de Artesanato animado por Elisa Fontes
Pintura em Argila (Cont) – Vasos de plantas aromáticas
  

28 de Maio

      15:00 – Meditação e Técnicas
o   Desenvolvimento do Segundo Tema: 
"Não existem ressentimentos justificados" - por Carlos Manuel



Actividade permanente:
Hatha Yoga – 2ª e 4ª às 19:00


domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa Feliz!

(Paracleto do Mestre Lima de Freitas)
O Caminho da Montanha está aberto a todas as crenças (ou não crenças). A Páscoa é, habitualmente, considerada uma festa cristã. No entanto, se folhearmos os arquivos do Tempo, verificamos que vem de tempos imemoriais. 

O nome Páscoa vem do hebraico Pessach, festa que comemorava a libertação e fuga do Egipto. A Páscoa cristã vem na continuidade desta celebração, sendo considerada a Última Ceia de Jesus como o "sêder do pesach", uma refeição ritual pascal.   

Tem o sentido simbólico de "passagem". Não só a passagem do Egipto esclavagista para a Terra Prometida da liberdade, para os hebreus, como a passagem da morte para a vida, para os cristãos.

Pela Páscoa vêm as amêndoas e os ovos de chocolate, sem falar nos coelhos que as crianças - e não só -  tanto gostam. E não é por acaso.

Mergulhemos agora nas raízes mais longínquas da festividade da Páscoa. Vamos até à Idade Média e relembremos os cultos dos povos pagãos europeus. 

Nesta época do ano era celebrado um rito de "passagem", do Inverno para a Primavera, das trevas para a luz. 

Estava ligado à deusa Ostera (daí Easter, Páscoa, em inglês),  ou Ostara ou ainda Esther, a deusa da Primavera, do Renascimento e da Ressurreição. Daí a festividade de Ostara que celebra o renascimento.

Esta passagem era associada à imagem do coelho ou da lebre, símbolo da fertilidade. O ovo, pintado em cores brilhantes, representa a luz solar. Actualmente os ovos foram substituídos por ovos de chocolate.  Em Portugal ainda há raízes desta tradição antiga no folar transmontano: um pão doce ou regueifa com um ovo cozido em cima no centro. 

A deusa da Primavera, que na mitologia romana corresponde a Ceres e na grega a Demeter, é representada segurando um ovo na mão e observando um coelho bem vivo a seus pés.

Mas podemos ainda navegar um pouco mais e chegarmos a Ishtar ou Astarte, também deusa da fertilidade e do renascimento nas mitologias anglo-saxónica, nórdica e germânica.

Porque tanto a lebre como o coelho de Eostre, a "Deusa da Aurora" ou Vénus, é visto na Lua Cheia, estes cultos estão associados às deusas lunares da fertilidade, tendo sido absorvidos e misturados nas festividades judaico-cristãs, como aliás acontece com outras comemorações pagãs antigas.

Talvez assim possamos compreender o significado profundo, enraízado no nosso imaginário ancestral deste Tempo que vivemos, continuação de ritos primordiais que ligam a humanidade no Um que realmente somos no nosso Íntimo.


Assim, independentemente de crenças, religiões, hábitos ou configurações culturais, vimos desejar a Luz que Renasce, o Amor que liga todos os Seres como Um, a continuidade da Vida numa passagem que se prolonga pelo Tempo...

A todos boa Páscoa!


sábado, 23 de abril de 2011

O Mistério Pascal


(Salvador Dali: a Ascensão de Cristo)

A Páscoa judaica recorda a libertação da escravidão de Israel, do jugo egípcio.
A Páscoa cristã recorda a ressurreição de Cristo e, com esta, a libertação do homem total, do jugo da morte.
Ambas são a festa maior de cada uma das citadas religiões.
Por “coincidência” ambas as festas foram sequenciais no tempo: a dos judeus no sábado, a dos cristãos no domingo.
Nos primórdios da igreja, os cristãos começavam a celebração da Eucaristia ao cair da noite de sábado, entrando pelo domingo, para comemorar o Cristo ressuscitado. Por isso o domingo foi denominado como o 8º dia, ou seja, do intemporal.
Mas o que se entende por Mistério Pascal e qual a sua importância?
Por Mistério Pascal entende-se toda a sequência da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Isto significa algo de sublime, de polémico, de crença ou descrença. O anúncio da ressurreição foi e será sempre um “escândalo” para a razão. Ou se acredita, ou não se acredita. No entanto, ninguém poderá afirmar-se cristão sem acreditar na ressurreição de Cristo. E aqui não poderá haver meios-termos. Como diz S. Paulo na carta aos Coríntios: “se Cristo não ressuscitou é vã a vossa fé e…somos os mais miseráveis de todos os homens”.
Ao longo dos tempos, muitas perguntas e dúvidas se têm colocado e, seguramente, continuarão a colocar-se. De qualquer pessoa com alguma relevância na história, praticamente ninguém duvida, ou questiona a sua existência. Basta que haja uma mera menção a essa personagem, para ser aceite sem grandes discussões. Porquê tantas dúvidas em relação a Cristo? Porque os seus ensinamentos, se cumpridos, mexem com a nossa vida? Cada um deve ler, estudar, meditar e decidir. Mas, por muita volta que se dê, a fé será sempre a base para o crente. Atirar-se no abismo, sem pára-quedas? Talvez sim…talvez não…
Uma das dúvidas que se costuma colocar é sobre o corpo de Cristo. Se Ele, em vida, disse que iria ressuscitar, era lógico que os chefes judeus pedissem a Pilatos para colocar guardas ao sepulcro, para evitar o seu roubo. E percebe-se porquê…
O Seu corpo, efectivamente, não estava no sepulcro quando as mulheres e alguns apóstolos lá foram, no domingo, de manhã. Como explicar a remoção da enorme pedra que tapava a entrada? Os guardas foram subornados? Mas eles sabiam que poderiam incorrer na pena de morte. Iriam correr esse risco por causa tão pequena? Os chefes judeus também não tinham qualquer interesse no desaparecimento do corpo, pois, dessa forma, só iriam dar razão ao que Cristo tinha dito em vida. E isso era o que eles menos queriam.
Outra teoria: Cristo não morreu na cruz, apenas estava em estado hipnótico, ou desmaiado.
A flagelação era uma prática cruel e dolorosa. O chicote rasgava a pele e a carne, penetrando no osso. Cristo ficou em tal estado, que precisou de ajuda para carregar a cruz. Os romanos eram muito bons no que faziam e tinham que ficar com a certeza que os condenados tinham morrido. No caso de Cristo, vendo-o já morto, um dos soldados “furou o lado com uma lança”, garantindo, desta forma, que já tinha falecido.
O corpo de Cristo era igual antes e depois da ressurreição? Seguramente que não. Um corpo transfigurado é diferente. Doutra forma como conceber que Maria Madalena o tenha confundido com o jardineiro, os discípulos de Emaús só o reconheceram ao partir do pão, os Apóstolos duvidaram das aparições, Tomé garantiu que só acreditaria se visse as chagas nas mãos e no peito, etc., etc., etc?
Muitas outras questões se poderiam colocar. Mas este pequeno artigo não é mais que uma reflexão sobre uma personagem histórica, incontornável. Não é por acaso que a Bíblia é o livro mais traduzido, mais estudado e mais questionado.
Somente mais 2 “pormenores”, para consideração:
1 - Até hoje, apenas uma Pessoa ousou dizer que iria morrer, mas que ressuscitaria ao 3º dia.
2 – Como explicar, somente por meios humanos, que algumas pessoas, sem grande cultura, a maioria talvez analfabeta, cheias de medo, tivessem uma mudança interior tão radical, após a morte/ressurreição de Cristo, a ponto de ousarem enfrentar os judeus, os romanos, as perseguições, a morte, dando origem a uma instituição que tem sobrevivido a muitos e gravíssimos problemas, com cisões, com altos e baixos, com bons e maus exemplos e que tantos pensadores e dirigentes têm garantido o seu desaparecimento a curto ou médio prazo?
É evidente que ao escrever estas palavras, também estou a assumir a minha orientação espiritual e a minha fé. É o caminho que procuro seguir, para tentar atingir a LUZ PLENA. E é, convictamente que, em Sábado Santo, canto: “Ó morte, onde está o morte teu poder tão forte e a tua vitória?”. Não procuro a polémica, ou promoção. Apenas desejo compartilhar um pouco do meu ser, do meu sentir e do meu pensar.
Cada um deve seguir o seu próprio caminho até atingir, no cimo da Montanha, a VERDADEIRA LUZ!
A todos, qualquer que seja a sua orientação espiritual, desejo uma FELIZ PÁSCOA, na LUZ, na PAZ e no AMOR.


Ernesto Henriques

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A vida é uma passagem



A vida é uma passagem. Quando nascemos, recebemos um bilhete para viajar, porém sem itinerário definido. Ao longo da viagem, as estradas vão apresentando entroncamentos, às vezes vamos para a direita, às vezes vamos para a esquerda, às vezes apenas seguimos em frente, pois seguir pela estrada em linha recta parece ser o melhor caminho. Nessa viagem às vezes andamos sozinhos, muitas vezes acompanhados. Às vezes encontrámos alguém que inicia apanhando uma boleia connosco e quando nos damos conta a viagem inteira foi ao seu lado. Às vezes as pessoas simplesmente chegam ao seu destino, despedem-se, o carro arranca, faz uma curva longa e a pessoa deixa de ser vista... e a viagem prossegue, pois viver é seguir na estrada do desconhecido.
Viajaremos muitas vezes a alta velocidade, curtindo o vento e a luminosidade do sol batendo no pára-brisas. Às vezes as fortes chuvas nos obrigarão a viajar devagar, com atenção à estrada. Mas, a maior parte do tempo da nossa viagem, andaremos em velocidade de cruzeiro, admirando a paisagem e enchendo os nossos olhos de tanta beleza, pois a viagem é maravilhosa e deve ser realizada com prazer.
Às vezes o tempo estará frio, mas ainda assim valerá a pena admirar a beleza da neve encobrindo os telhados das casas e as árvores. Por vezes o tempo estará quente, escaldante, e tu procurarás consolo num copo de água, mas ainda assim haverá a beleza do mar para admirar, sentindo a brisa no rosto e o cheiro a maresia. Nesta estrada haverão muitos buracos, dos quais terás que te desviar, ou talvez algumas vezes um pneu fure ou parta alguma peça, talvez existam obstáculos que desgastem tanto que tu penses em desistir da viagem, mas se tu olhares mais à frente, independentemente dos obstáculos a estrada prossegue e os destinos estarão lá onde o teu olhar puder alcançar. Então, apenas troques o pneu, removas os obstáculos que eventualmente encontres na jornada e prossigas, pois a viagem só termina quando chegamos ao nosso destino, lá no fim de tudo, onde todos os caminhos se encontram e silenciam.
Há uma altura na vida em que tu chegas a uma das tantas encruzilhadas da viagem. O caminho aponta para a direita ou para a esquerda. Tu fazes a tua opção, talvez nunca saibas o que teria acontecido se tivesses escolhido o outro caminho, talvez não saibas se as paisagens seriam mais ou menos belas. Mas o que importa é que tu estás na estrada, o clima é favorável e lá no horizonte o destino continua a sorrir-te nesta bela aventura que é viver.
Aquele Abraço deste vosso.... sempre Amigo

Tino
21.04.11

(dedicado a uma amiga muito especial...mas que resolvi partilhar com toda a nossa comunidadeJ)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

As palavras que nunca disse






(Foto: Rarinda)



Era fim de tarde, já passava das cinco, a aldeia estava encharcada de uma chuva miudinha que regava melancolia. Alberto de Jesus estava preso em casa espreitando as gotas que lhe escorriam na janela. Sua mão ossuda cristalizava os anos que conseguiu sobreviver e agora apenas sentia as recordações carnudas. Um desgosto porém, lhe preenchia o pensamento, via-o materializado em cada espelho, em cada esquina, era a dor da sua incapacidade. Alberto foi apadrinhado pela incapacidade de falar com o seu filho, seu único filho, Ricardo de Jesus. Este era o seu único elo consciente entre o fim e a imortalidade.
Foi num impulso forte, que nem ele contava, em desmedida coragem que Alberto pegou numa folha de papel amarelada e com elevado esforço, começou a escrever as letras que nunca pensou ser capaz:

“Ricardo meu filho, preciso de te falar, estou sem algumas capacidades, o diálogo é uma delas, aliás, nunca tive esse maldito!
Possivelmente já não tenho qualquer valor para ti. Eu, pelo contrário reconheço que cada vez mais és importante para mim. Afinal fui a pessoa que te concebi, sou teu pai. Sei que passámos juntos tempos difíceis de dor e angústia que tentei disfarçar como pude para que essa dor não chegasse até ti. Bem ou mal eu tive a coragem de te ter, de tentar educar, alimentar e vestir até seres homem e partires na caminhada da tua vida. Sabia bem que um dia isso iria acontecer e sempre lutei para que estivesses preparado para esse dia, que tivesses formação académica e maturidade para seres homem completo e não passares privações por falta de meios económicos, por falta de experiência de vida. Gostaria tanto de te ter ensinado muito mais, tudo aquilo que aprendi com o meu próprio sofrer. Meu Deus, o que daria para que não passasses o mesmo por que passei! Mas agora é tarde, partiste para longe, para lá do alcance de qualquer eco...
Recordo momentos da tua infância que continuam bem guardados nas minhas memórias, os teus primeiros passos, as tuas primeiras palavras o sorriso e os abraços meigos que me davas. Tudo isso é inesquecível e guardo-o como meu grande tesouro. Agora estás longe, sinto que já não me sentes, pena minha, culpa minha.
Preciso da tua ajuda e colaboração para as pequenas coisas, para os pequenos favores do dia-a-dia. Seria bom se um dia pudesse contar contigo, mas neste momento já não o espero.
O objectivo legítimo de um pai para com o seu filho é deixá-lo preparado para fazer frente à vida e que esta se alicerce em valores sérios como o amor, a justiça a lealdade o respeito e a gratidão.
Gostaria de te ensinar que, quando colocamos o nosso empenho e força em subir uma montanha e este objectivo nos é negado, temos que voltar a lutar incansavelmente até conseguir, nunca devemos desistir até convertermos as derrotas em vitórias. Nunca te deves dar por vencido mantendo-te fiel e digno a princípios nobres. Gostaria de partilhar contigo as tuas preocupações na luta pelos teus objectivos, onde eu queria tanto ajudar-te.
Um dia eu sonhei, sonhei que tinha criado um homem que me trouxe alegrias, que me divertia com ele e que me protegia. Esse filho era o meu confidente aquele irmão que não tive e estava cheio de orgulho dele, sofria com as suas preocupações, sorria com as suas vitórias e era feliz.
Falo sempre de ti com prazer, com vaidade, deixa-me orgulhar de ti.
Quando o resto do tempo passar e eu já não estiver mais junto de ti, recorda-me como um homem sonhador que sempre te amou e onde me encontrar terás sempre a minha bênção. Suplico-te que me ajudes a dar vida ao amor que agora parece estar a morrer e colabora para que tu sejas uma parte digna da criação”.

Nunca a chegou a enviar. Não foi preciso porque o seu dia acabara de chegar e foi o próprio filho que em visita de rotina o encontrou sentado, prostrado sobre a mesa, ainda com a folha de papel por entre os dedos gastos.
Alberto acabara de lhe falar.


José Cavalheiro Homem

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Felicidade


(Fada das Flores)


"Felicidade é uma sensação que transborda de dentro para fora. Um sentimento de conexão com o teu EU que te deixa altivo. Em estado de graça.

A felicidade pode ser desencadeada por algo tão simples quanto olhar uma flor. Essa flor poderá ser uma simples flor do campo, mas no entanto não deixará de ser algo maravilhoso. 

A felicidade é encontrada, quando ao olhar essa flor, entramos em sintonia com a sua essência. Que é a mesma que a nossa.

SER.

Unicamente SER aquilo que é.
De um modo despreocupado e simples.
É quando nos limitamos a ser simples de uma forma despreocupada que nos permitimos olhar para as coisas que nos cercam, e as conseguimos ver com verdadeiro ver.

Olhar o céu deixa de ser apenas uma visão maravilhosa do universo grandioso que nos cerca, porque o passamos a sentir, a estar em sintonia, e isto porque fazemos a conexão com a sua energia pura.
Ao permitirmo-nos ser simples, ligamo-nos a tudo o que é simples.
E será aí unicamente onde poderemos encontrar a verdadeira felicidade.
Onde poderemos sentir a Harmonia.
Onde poderemos sentir o Amor.
Onde poderemos sentir a Cura.

Deixas de te preocupar se és amado, porque passas a amar-te.
Deixas de te preocupar se és compreendido, porque passas a compreender-te.
Deixas de te preocupar se és aceite, porque passas a aceitar-te.
Deixas de te preocupar se és ouvido, porque passas a ouvir-te.
Silencias a tua voz externa, porque passas a ouvir claramente a tua voz interna.

Ao olhares à tua volta apercebeste-te do caos, mas a sua vibração deixará de te influenciar. Porque ao limitares-te a SER SIMPLES, permites que sentimentos como a compaixão inundem o teu SER. Então, o próprio caos passa a emitir uma beleza própria. Que só pode ser sentida, por aqueles que se permitem simplesmente SER. 

“ Se quando olhas à tua volta tudo o que sentes é a dor da desconexão... Então, do que estás à espera? DEUS não opera milagres na vida daqueles que neles não acreditam. Porque o milagre é algo que só pode operar no meio da simplicidade, daquela que advém da pureza do SER. E para SER tens de te tornar SIMPLES como uma flor do campo. Queres saber porque razão a flor do campo é simples?

Porque ela simplesmente se limita a ser o que é. Não se envaidece pelo brilho de sua cor. Não ostenta orgulho porque o sol nela incide seus raios de luz. Não se engrandece ou se sente pequena perante outras flores. Apenas se limita a fazer parte da natureza, porque compreende que dela é uma parte integrante.
O caos só pode imperar naqueles cujos corações deixaram que fossem esvaziados de toda a simplicidade.

A dor só pode ser perpetuada naqueles que cultivam a crença de nada mais merecerem, para além da dor.
Então, Sê como uma flor do campo!
Poderás pensar que não te podes comparar a uma flor. Que essa comparação será de todo absurda. Mas, será que é mesmo?
Não serás também tu uma parte integrante do universo tal como a flor?
És uma peça do puzzle universal. Sem ti o universo ficará incompleto.

Torna-te simples e poderás SER tal como uma flor que brilha no meio de tantas outras, e no entanto nada faz para se evidenciar, para além de SER SIMPLESMENTE AQUILO QUE ELA É VERDADEIRAMENTE. UMA FLOR!

Conseguirás sentir a felicidade de te sentir uma simples flor no meio de tantas outras?"


Marsol

segunda-feira, 4 de abril de 2011


Como não seria de estranhar o texto sobre a Miudinha teve reacções, assim como o comentário que fiz.

Vou tentar clarificar um pouco as posições.

Tenho a certeza de que o autor não é um adorador ou defensor do Diabo, um adepto de qualquer culto satânico.

Este é um texto essencialmente literário. Não me parece que tenha um fundo esoterista ou mesmo religioso. Assim tomado é de uma beleza e sensibilidade extraordinárias. Nada a acrescentar ou a criticar, apenas um grande obrigada por estes momentos que sempre elevam a Alma.

Dado que este blog é de reflexão – e não só de literatura – o objectivo do meu comentário não seria de crítica destrutiva, mas antes de levar a uma reflexão aprofundada sobre o que nos habita.

Na verdade considero que o diabo não representa apenas o mal, mas também os nossos medos e desejos mais íntimos, num outro plano de análise. Projectamos n’ele a nossa parte escondida, mesmo a nós próprios, aquela que não nos atrevemos a enfrentar, revelar-nos ou mesmo a admitir-nos. Sei que pode ser questionável esta perspectiva.

Mas afinal o que é o Diabo?

Tomando como referência a cultura judaico-cristã, a figura do Diabo não aparece no Antigo Testamento, pois não existe o conceito de mal personificado em relação a Deus a Quem nada pode ofuscar. Todas as coisas foram criadas por Ele, quer o ser humano as compreenda como sendo boas ou más. O Diabo seria apenas um ser sobrenatural. Não existe um dualismo radical entre o conceito de bem ou de mal, pois Jeovah é exclusivo. O mal é apenas uma consequência da desobediência. Mais tarde, a visão monista (um só Deus) acabou por cair na visão dualista.

Na perspectiva dualista (persas e iranianos entre outros) haveria um Deus bom – Ahriman ou Angro Mainyu - e um Deus mau – Ahura Mazda - o bem e o mal têm, desta forma, origens diferentes.

Entre ambas encontramos uma perspectiva semi-dualista, em que Deus é soberano e Criador de tudo. Não tem qualquer responsabilidade pelo mal no mundo. Este mal teria origem no livre arbítrio.

O mal entra a partir dos anjos rebeldes e a partir dos homens pelo pecado.

Apenas mais uma achega: no Antigo Testamento o Diabo deve ser compreendido na perspectiva monista, enquanto no Novo Testamento ele é um ser autónomo em relação a Deus, a Quem se opõe.

Muito haveria a acrescentar, muito! Apenas foi abordada uma parte mínima e uma só perspectiva da temática. Outros artigos virão.


(Imagem: Salvador Dali)

domingo, 3 de abril de 2011

Miudinha, por quem oras?

O texto que publicamos abaixo poderá ser polémico para alguns dos nossos leitores. 
Pela beleza, pelas questões que poderá levantar - pois este espaço também é para questionar - e pela temática, deixamo-vos a leitura.




Miudinha era seu nome, a menina que parecia feita de membrana de vidro, muito fininha.

Era Miudinha fininha como cristal, sensível como pena d’águia.

Um dia, vi Miudinha chorar, chorar tanto que soluçava o próprio Universo. Depois reparei melhor, não era Miudinha que chorava, ela não conhecia tal, era sua alma que chorava e nesse seu intenso chorar, suas janelas se vertiam em cataratas de mar. Miudinha sofria pela dor do Mundo, Miudinha sofria pela alegria do Mundo, Miudinha sofria até pela graça de estar feliz, assim, enfim, intensa, sensível, frágil.

Mas era no espelho que Miudinha se olhava e nele também se desencontrava, Miudinha se achava pequenina, miudinha. Ali se desprezava de si mesma, sem ver valor, o mesmo que nunca lhe fora mostrado em espelho algum encontrado.

Um terço era rezado quando sua mãe lhe pedia, era o ritual dos tempos e Miudinha cumpria copiando cada sílaba cantando em verso solto, o terço corrido a seu gosto, mas no balanço do rito, na melodia da oração, Miudinha fazia em devoção, o seu secreto pedido, era profunda de seu coração terno e meigo, Miudinha assim chorava.

Segredou-me um dia Miudinha.
- Sabes, eu rezo o terço e peço sempre a Deus que ajude o diabo, coitadinho, ninguém se lembra dele, coitadinho, tenho tanta pena dele, segredava-me limpando com as costas da mão, doces gotas que se vertiam dos cantos das suas janelas. A mesma Miudinha que, coitadinha, sofria o seu chorar porque o espelho sempre de valores a despediu.

Estaquei em plexo pensamento, a honra caiu-me toda no cabide de meu pequeno corpo, eu não tinha ombros para tanto peso, tamanho segredo! Foi em união de alma que Miudinha me confessou caí de joelhos aos pés de tão grande Ser! Como poderia uma Miudinha tão frágil ter um coração tão grande assim?

Então percebi no aperto do meu coração que tamanha Grandeza transportada por Miudinha, era desconhecida de espelhos que poluíam o seu imaginário. Dentro do seu Ser estava Valor sem medida porque lá, as balanças não têm braços, o tempo não tem tempo e a palavra não tem lugar.

Olhei seus pés, eles eram a palavra da sua alma e, sem conseguir conter emoção, sujei-os com lágrimas do meu coração.

Bem hajas Miudinha

José Cavalheiro