Como não seria de estranhar o texto sobre a Miudinha teve reacções, assim como o comentário que fiz.
Vou tentar clarificar um pouco as posições.
Tenho a certeza de que o autor não é um adorador ou defensor do Diabo, um adepto de qualquer culto satânico.
Este é um texto essencialmente literário. Não me parece que tenha um fundo esoterista ou mesmo religioso. Assim tomado é de uma beleza e sensibilidade extraordinárias. Nada a acrescentar ou a criticar, apenas um grande obrigada por estes momentos que sempre elevam a Alma.
Dado que este blog é de reflexão – e não só de literatura – o objectivo do meu comentário não seria de crítica destrutiva, mas antes de levar a uma reflexão aprofundada sobre o que nos habita.
Na verdade considero que o diabo não representa apenas o mal, mas também os nossos medos e desejos mais íntimos, num outro plano de análise. Projectamos n’ele a nossa parte escondida, mesmo a nós próprios, aquela que não nos atrevemos a enfrentar, revelar-nos ou mesmo a admitir-nos. Sei que pode ser questionável esta perspectiva.
Mas afinal o que é o Diabo?
Tomando como referência a cultura judaico-cristã, a figura do Diabo não aparece no Antigo Testamento, pois não existe o conceito de mal personificado em relação a Deus a Quem nada pode ofuscar. Todas as coisas foram criadas por Ele, quer o ser humano as compreenda como sendo boas ou más. O Diabo seria apenas um ser sobrenatural. Não existe um dualismo radical entre o conceito de bem ou de mal, pois Jeovah é exclusivo. O mal é apenas uma consequência da desobediência. Mais tarde, a visão monista (um só Deus) acabou por cair na visão dualista.
Na perspectiva dualista (persas e iranianos entre outros) haveria um Deus bom – Ahriman ou Angro Mainyu - e um Deus mau – Ahura Mazda - o bem e o mal têm, desta forma, origens diferentes.
Entre ambas encontramos uma perspectiva semi-dualista, em que Deus é soberano e Criador de tudo. Não tem qualquer responsabilidade pelo mal no mundo. Este mal teria origem no livre arbítrio.
O mal entra a partir dos anjos rebeldes e a partir dos homens pelo pecado.
Apenas mais uma achega: no Antigo Testamento o Diabo deve ser compreendido na perspectiva monista, enquanto no Novo Testamento ele é um ser autónomo em relação a Deus, a Quem se opõe.
Muito haveria a acrescentar, muito! Apenas foi abordada uma parte mínima e uma só perspectiva da temática. Outros artigos virão.
(Imagem: Salvador Dali)
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