segunda-feira, 2 de julho de 2012

Significado da Páscoa IV


Dada a extensão do documento elaborado pelo João Campos sob o tema "Sgnificado da Páscoa", este será o último extracto que publicamos no blog. O texto, na sua totalidade será facilitado a quem nos solicitar (email: cadmon@netcabo.pt), assim como ficará nO Caminho da Montanha um exemplar na Biblioteca.
Um grande bem-haja ao João pelo trabalho desenvolvido.

(Alexander Ivanov)


Significado da acção de Jesus: sua morte e ressurreição

Aqui vamos falar da doutrina da expiação dos pecados. O ensinamento geral na Igreja Primitiva sobre esta doutrina foi que Cristo, como Representante da Humanidade, enfrentou e venceu Satanás, o representante dos Poderes Tenebrosos que têm a Humanidade sob seu jugo, resgatou deles o escravo e o libertou.
Associada à doutrina da expiação temos a Lei Sacrifício[1]. Em que consiste esta Lei? A Lei do Sacrifício estrutura o nosso sistema e todos os sistemas, e sobre ela são construídos todos os universos. Ela está na raiz da evolução. Não pode haver nenhuma fundação de um mundo antes que a Divindade tenha feito um acto de sacrifício. Este acto é explicado como Ela limitando-Se a fim de se tornar manifesta. Se estudarmos este mundo físico, como sendo o material mais à mão, vemos que toda a vida nele, todo o crescimento, todo o progresso, seja das unidades ou dos agregados, depende de um contínuo sacrifício e da resistência à dor. O Mineral é sacrificado ao vegetal, o vegetal ao animal, ambos ao homem, os homens aos homens, e todas as formas superiores se desfazem, e reforçam novamente, com seus constituintes, o reino mais inferior. É uma contínua sequência de sacrifícios desde o mais baixo até o mais alto, e o próprio sinal do progresso é o sacrifício passar de involuntário e imposto a voluntário e autoescolhido. Se o mundo é obra do Logos, e a lei do progresso mundial no todo e nas partes é o sacrifício, então a Lei do Sacrifício deve apontar para algo na própria natureza do Logos, deve ter sua raiz na própria Natureza Divina. Este sacrifício é perpétuo, pois em todas as formas neste universo de infinita diversidade esta vida está embutida, e é seu próprio coração, o "Coração do Silêncio" do ritual Egípcio, o "Deus Oculto". Este sacrifício é o segredo da evolução. A Vida Divina, encasulada dentro de uma forma, sempre pressiona para fora, de modo que a forma se possa expandir, mas pressiona gentilmente, evitando que a forma possa romper antes que tenha alcançado  o seu limite máximo de expansão. Em todas as formas, no mineral, no vegetal, no animal, no homem, esta energia expansiva do Logos age sem cessar. Esta é a força evolucionária, a vida que se alça dentro das formas, a energia expansiva que a ciência vislumbra mas não sabe de onde vem. Quando o limite de cada forma é atingido e ela não pode crescer mais, de modo que nada mais possa ser ganho através dela pela alma no interior - aquele germe de Si mesmo que o Logos está cultivando - então Ele retira Sua energia, e a forma se desintegra - o que chamamos de morte e decomposição. Mas a alma está com Ele, e Ele modela para ela uma outra forma, e a morte da forma é o nascimento da alma numa vida mais plena. Através deste sacrifício perpétuo do Logos é que toda a vida existe; é a vida pela qual o universo está sempre em devir. Assim há uma Unificação uma força unificante, pela qual as vidas separadas gradualmente se tornam conscientes de sua unidade, trabalhando para desenvolver em cada uma a autoconsciência, que finalmente deverá conhecer a si mesma una com todas as outras, e, em sua raiz, Uma só e divina.
Este é o sacrifício primário e perene, e constitui um derramamento de Vida dirigido pelo Amor. O sacrifício, então, é motivo de alegria o Logos doar-Se para criar um mundo, e, vendo o trabalho de Sua alma, fica satisfeito. (Isaías, LIII, 11). Quando a consciência se identifica com a forma, considerando a forma como seu eu, o sacrifício assume um aspecto doloroso; dar, entregar, perder o que foi adquirido, é sentido como minar a persistência da forma, e assim a Lei do Sacrifício se torna uma lei de dor em vez de uma lei de júbilo.
...
Vimos a Alma-Crística a passar através das grandes iniciações - nascida como uma criancinha, descendo ao rio das tristezas do mundo, com as águas com as quais ele deve ser batizado para seu ministério ativo, transfigurado no Monte, conduzido à cena de seu último combate, e triunfando sobre a morte. O poder está manifesto nele, pois o Espírito repousa sobre ele. Por mais baixo que a alma possa estar, nunca sente a Alma-Crística como estando acima de si, mas antes como estando ao seu lado, caminhando com pés humanos no chão que elas mesmas estão caminhando; porém, como cheio de um estranho poder soerguidor que as põe de pé novamente e as enche também de um novo impulso e fresca inspiração. Assim ele vive e trabalha, um verdadeiro Salvador dos homens, até que chegue o tempo em que ele deve aprender uma outra lição, perdendo por um período aquela consciência daquela Vida divina da qual a sua se tornou cada vez mais a expressão. E esta lição é que o verdadeiro centro da Vida divina reside no interior e não no exterior. Ele tem de aprender que a verdadeira unidade do Pai e do Filho deve ser encontrada dentro e não fora, e esta lição só pode ser aprendida no mais extremo isolamento, quando ele se sente esquecido pelo Deus fora de si mesmo. 

...
A Ascensão para a Humanidade será quando toda a raça tiver atingido a condição Crística, o estado de Filho, e quando o Filho se tornar uno com o Pai, e Deus for tudo em todos. Esta é a meta, prefigurada no triunfo do Iniciado, mas atingida somente quando a raça humana estiver perfeita, e quando "a grande órfã Humanidade" já não for mais órfã, mas reconhecer-se conscientemente como Filha de Deus. Cristo não foi uma personalidade única, mas "as primícias dentre os que dormem" (I Coríntios, XV, 20), e que todo homem há de se tornar um Cristo, Ele é o modelo que todo o homem deveria reproduzir em si mesmo, a vida que todos deveriam partilhar.[4]
Estava reservado a Ele, o Princípio do Homem, reunir todas estas condições para o Homem. Nada senão este criativo, vital e vivificante Princípio poderia ser o verdadeiro libertador. Nada, senão este divino princípio poderia extrair a alma humana de seu abismo, e identificá-la consigo próprio, a fim de que a alma fosse capaz de experimentar os prazeres de sua verdadeira natureza; só Ele, sendo o depósito da chave de David, poderia por um lado fechar o abismo e, por outro, abrir o Reino da Luz, restaurando o Homem ao posto que sempre deveria ter ocupado.
Sendo o Eterno Princípio do Amor, era necessário, antes de mais nada, que ele tomasse o caráter de Homem imaterial, seu Filho; e para cumprir tal tarefa, foi suficiente olhar a si próprio no espelho da Virgem Eterna, ou SOPHIA, no qual sua mente havia gravado, por toda a Eternidade, o modelo de todas as coisas.
Após se tornar Homem imaterial, pelo simples ato de contemplação de sua mente no espelho da Virgem Eterna ou SOPHIA, era preciso se revestir com o puro elemento, aquele corpo glorioso que está absorvido em nossa matéria desde a Queda.
Após se revestir com puro elemento, ele tinha que se constituir de princípio da vida corporal, unindo-se com o Espírito do Grande Mundo ou Universo. Depois de se tornar o princípio da vida corporal, era preciso se tornar elemento terrestre, unindo-se com a região elementar; para tanto, teve que se fazer carne, no ventre de uma virgem terrestre, revestindo-se com a carne procedente do pecado do primeiro Homem, já que foi da carne, elementos e espírito do Universo (Grand Monde) que veio nos libertar.
Este foi o único sacrifício que culminou com aquelas confortantes, ainda que terríveis palavras, "Está feito"; confortantes pela certeza que nos dá de que a obra está realizada, e de que os nossos inimigos serão colocados sob nossos pés, sempre que seguirmos os passos Daquele que os subjugou; terríveis porque se permitirmos que se tornem vãs através de nossa ingratidão e indiferença, nenhum recurso, então, nos restará, porque não podemos contar com nenhum outro Deus, e não há nenhum outro libertador a esperar.
(Salvador Dali)

Ele já veio; sendo o princípio e o fim de todas as coisas, não podemos agir como se houvesse outro Deus depois dele, e nem lhe negar uma fé sem limites e uma convicção universal, já que tudo o que sabemos sobre isto aprendemos com ele, seria uma ofensa; a fé e a convicção de fato só poderia repousar nele, real e fisicamente, pois só o Redentor é universalidade. Está feito.
Desta forma, não temos outro trabalho, outra tarefa senão a de nos empenhar, ao máximo, a fim de participarmos da obra acabada e banir de nós tudo o que possa evitar nosso progresso.[5]



[1] A expiação dos Pecados – Annie Besant.
[4] Ressurreição e Ascensão de Yeschouá – Annie Bresan.
[5] Cf. Luis Claude de Saint Martin – As condições necessárias de um verdadeiro libertador se completaram em Cristo. “Está Feito”.

Sem comentários: