terça-feira, 7 de agosto de 2012

Evolução




Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo 

tronco ou ramo na incógnita floresta... 

Onda, espumei, quebrando-me na aresta 

Do granito, antiquíssimo inimigo... 



Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta; 

Ó, monstro primitivo, ergui a testa 

No limoso paúl, glauco pascigo... 



Hoje sou homem, e na sombra enorme 

Vejo, a meus pés, a escada multiforme, 

Que desce, em espirais, da imensidade... 



Interrogo o infinito e às vezes choro... 

Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro 

E aspiro unicamente à liberdade. 






                                                                                      Antero de Quental, in "Sonetos"

                                                                            (Enviado por António Pinto)        


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