domingo, 19 de junho de 2011

Sobre a linguagem


A forma de comunicação que utilizamos com mais frequência é a linguagem. As palavras são um dos nossos meios de tocar o outro. 
Abaixo deixamos um pequeno texto que, de uma forma simples, mas concreta, nos dá uma perspectiva não muito habitual da linguagem:



“Uma das razões da divergência entre a linha do saber e a linha do ser na nossa vida, noutros termos, a falta de compreensão - em parte a causa e, em parte, o efeito dessa divergência - está linguagem que as pessoas usam. Essa linguagem esta cheia de falsos conceitos, de falsas classificações e de falsas associações. E eis o pior: as características essenciais do pensar ordinário, a sua incerteza e imprecisão, fazem com que cada palavra possa ter milhares de significados diferentes, segundo a bagagem de que dispõe aquele que fala e o complexo de associações em jogo no próprio momento.  As pessoas não se dão conta de quão subjectiva é a sua linguagem e quão diferentes são as coisas que dizem, embora todas empreguem as mesmas palavras.  [...] As palavras que usam estão adaptadas às necessidades da vida prática. Podem trocar informações de carácter prático, mas logo que passam a um domínio um pouco mais complexo ficam perdidas e cessam de se compreenderem, embora não tenham consciência disso.
[...]
“Para uma compreensão exacta é necessária uma linguagem exacta. E o estudo dos sistemas do antigo conhecimento começa pelo estudo de uma linguagem que permitirá precisar imediatamente o que é dito, de que ponto de vista isso é dito e em relação a quê. Essa nova linguagem não contem, por assim dizer, termos novos e nomenclatura nova, mas a sua estrutura baseia-se num princípio novo: o princípio da relatividade. Em outros termos, introduz a relatividade em todos os conceitos e torna possível uma determinação precisa do ângulo do pensamento, pois o que mais falta na linguagem usual são termos que expressem a relatividade.
[...]
A propriedade fundamental dessa nova linguagem é que nela todas as ideias se concentram em torno de uma só ideia; noutros termos, são todas encaradas, nas suas relações mútuas, do ponto de vista de uma ideia única, a ideia de evolução. Não, naturalmente, no sentido de uma evolução mecânica, porque esta não existe, mas no sentido de uma evolução consciente e voluntária, que é a única possível.
Nada existe no mundo, desde o sistema solar ao homem e do homem ao átomo, que não se desenvolva ou não decaia. Mas nada evolui mecanicamente. Só a degeneração e a destruição decorrem mecanicamente. O que não pode evoluir conscientemente, degenera. O auxílio do exterior só é possível na medida em que for apreciado e aceite, mesmo que no início seja apenas pelo sentimento”.


Extractos da obra Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido
de P.D. Ouspensky (discípulo de G.I. Gurdjieff)

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