O Homem é o único ser na
Terra que vive com a sensação que está ligado a “algo mais além”, que a vida não
se esgota no que apenas agora está a viver.
É essa sensação, que o
mesmo Homem luta por definir, que escreve livros sem fim, que cria Deuses e
tenta interpretá-los. A tudo isto, dá o nome de vida espiritual. Ele não a sabe
explicar, mas sente, e sente também esse elo que O liga a algo dando-lhe
continuidade, fazendo-o sentir peça de uma grande engrenagem que não termina no
fim da sua vida terrena.
Sente-o qualquer ser
humano que o queira sentir. Deixando-se ser guiado pelo seu sentir de sentidos. Quando sintonizado
com o cosmos mais profundo, o Homem conclui que o Universo holístico é o seu
vizinho, e com todos os outros seres, é Um! Esta procura é sem dúvida a sua
principal motivação, mesmo que de forma indirecta e, quando entendida, a sua
vida nunca mais será a mesma.
Jovens e menos jovens,
todo o Homem, em determinada altura, se interroga sobre como dar sentido à sua
vida. Nada tem de religião, de crença em um Deus ou mesmo em crença nenhuma,
apenas são questões espontâneas. Qual o sentido da minha vida? O que significa
o meu trabalho? Porque luto para me manter vivo? Porque um dia tenho de morrer
(partir)? Porque me empenho em determinadas coisas que não consigo impedir?
Mais ou menos
intensamente, todo o ser humano termina um dia pensando nestas questões que lhe
são fundamentais. As respostas são variadíssimas e não é nas respostas que se
encontrará a solução, mas sim no simples facto de se questionar. Com o tempo,
entenderão que tudo passa por factores não racionais nem emocionais. Nunca o
racional responderá a estas questões, sendo esse o primeiro passo resolvido.
O facto de se questionar
leva-o a uma subida natural no patamar do seu desenvolvimento. Neste contexto,
o desenvolvimento é não racional, não emocional mas sim espiritual. A sede de
respostas está directamente ligada ao nível de desorientação a que a sociedade
se encontra. Hoje tem-se a família em colapso, a comunidade em colapso, as
religiões tradicionais em colapso. A perda ou mesmo ausência de heróis de referência
que orientavam os jovens em valores morais, éticos e sociais, deixaram de
existir e sem esses rumos, essas balizas ou regras, estão sem forma clara de
crescer, sem visão clara de responsabilidade, de hierarquia ou mesmo perto de
um grande colapso, um colapso global. Apenas vão aparecendo, em nascimento e
quedas rápidos, alguns heróis de futebol sem qualquer valor espiritual, sem
longevidade ou consistência. Perdeu-se o rumo que guiava ao “Estado de Graça”.
E é sempre neste contexto que as novas sociedades surgem. Para quem nasceu nos
anos quarenta ou cinquenta não conseguirá, por incapacidade ontológica, pensar
como será esse futuro. Quais serão as suas questões? Que perguntas farão para
dentro de si? Como construirão na sua mente a estrutura racional do novo modelo
de sociedade.
Hoje a sociedade tem os
seus lares cheios de inutensílios, está apinhada desse lixo e facilmente se
conclui que a sociedade é, genericamente falando, espiritualmente estúpida ou
seja, está sem valores fundamentais, apenas agarrada às ambições materiais, está
desligada da simbologia do mundo que a rodeia, desligada das razões que a move,
de link interrompido com os seus sentidos espirituais, vive alimentada de
paradigmas num ambiente em que só o imediato e o visível são factor.
O Homem está cego de
sentidos, perdeu a energia colectiva que O levava a convergir para o ponto
fundamental. O Amor ao próximo.
Como alternativa,
escolhe-se frequentemente actividades na periferia da honra, distorcida de
valores como o materialismo, o sexo promíscuo, a rebeldia inútil, a violência
por rodízio, o uso de drogas ou até mesmo o ocultismo. Doenças por falta de
sentido surgem abundantes entre todos e apenas se tenta curar as dores do
imediato.
Hoje, sentem-se
impotentes quando as suas fronteiras são violadas, mas quando essas fronteiras
deixam de existir, sentem grande desorientação! A sua existência perde todo o
sentido e ficam incapazes de lidar com ela.
Gandhi, Madre Teresa,
Nelson Mandela, histórias com elevado valor moral como o Pinóquio, o Soldadinho
de Chumbo, a Bela e o Monstro, já não mais são referência, tão pouco vale a
pena rogar para que sejam restaurados, pois as mentalidades não estariam adaptadas
a eles, são necessários outros mais actualizados e que consigam transmitir Valores de forma que a riqueza da alma
humana consiga encontrar o seu espaço na sociedade civil.
É hora de mudança,
discursos como estes já saturam os nossos jornais e internet, acção precisa-se
há que dar início à verdadeira revolução, a rotura do modelo da sociedade que
agora está terminando, é necessário começar, não com golpes de estado mas com
golpe de globo.
“É
preciso ter caos para dar vida à estrela dançante. Digo-vos, tendes caos em vós?”
– Nietzsche em “Assim Falava
Zaratustra”.
José Cavalheiro Homem