terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Sentido da vida



O Homem é o único ser na Terra que vive com a sensação que está ligado a “algo mais além”, que a vida não se esgota no que apenas agora está a viver.

É essa sensação, que o mesmo Homem luta por definir, que escreve livros sem fim, que cria Deuses e tenta interpretá-los. A tudo isto, dá o nome de vida espiritual. Ele não a sabe explicar, mas sente, e sente também esse elo que O liga a algo dando-lhe continuidade, fazendo-o sentir peça de uma grande engrenagem que não termina no fim da sua vida terrena.

Sente-o qualquer ser humano que o queira sentir. Deixando-se ser guiado pelo seu sentir de sentidos. Quando sintonizado com o cosmos mais profundo, o Homem conclui que o Universo holístico é o seu vizinho, e com todos os outros seres, é Um! Esta procura é sem dúvida a sua principal motivação, mesmo que de forma indirecta e, quando entendida, a sua vida nunca mais será a mesma.

Jovens e menos jovens, todo o Homem, em determinada altura, se interroga sobre como dar sentido à sua vida. Nada tem de religião, de crença em um Deus ou mesmo em crença nenhuma, apenas são questões espontâneas. Qual o sentido da minha vida? O que significa o meu trabalho? Porque luto para me manter vivo? Porque um dia tenho de morrer (partir)? Porque me empenho em determinadas coisas que não consigo impedir?

Mais ou menos intensamente, todo o ser humano termina um dia pensando nestas questões que lhe são fundamentais. As respostas são variadíssimas e não é nas respostas que se encontrará a solução, mas sim no simples facto de se questionar. Com o tempo, entenderão que tudo passa por factores não racionais nem emocionais. Nunca o racional responderá a estas questões, sendo esse o primeiro passo resolvido.

O facto de se questionar leva-o a uma subida natural no patamar do seu desenvolvimento. Neste contexto, o desenvolvimento é não racional, não emocional mas sim espiritual. A sede de respostas está directamente ligada ao nível de desorientação a que a sociedade se encontra. Hoje tem-se a família em colapso, a comunidade em colapso, as religiões tradicionais em colapso. A perda ou mesmo ausência de heróis de referência que orientavam os jovens em valores morais, éticos e sociais, deixaram de existir e sem esses rumos, essas balizas ou regras, estão sem forma clara de crescer, sem visão clara de responsabilidade, de hierarquia ou mesmo perto de um grande colapso, um colapso global. Apenas vão aparecendo, em nascimento e quedas rápidos, alguns heróis de futebol sem qualquer valor espiritual, sem longevidade ou consistência. Perdeu-se o rumo que guiava ao “Estado de Graça”. E é sempre neste contexto que as novas sociedades surgem. Para quem nasceu nos anos quarenta ou cinquenta não conseguirá, por incapacidade ontológica, pensar como será esse futuro. Quais serão as suas questões? Que perguntas farão para dentro de si? Como construirão na sua mente a estrutura racional do novo modelo de sociedade.

Hoje a sociedade tem os seus lares cheios de inutensílios, está apinhada desse lixo e facilmente se conclui que a sociedade é, genericamente falando, espiritualmente estúpida ou seja, está sem valores fundamentais, apenas agarrada às ambições materiais, está desligada da simbologia do mundo que a rodeia, desligada das razões que a move, de link interrompido com os seus sentidos espirituais, vive alimentada de paradigmas num ambiente em que só o imediato e o visível são factor.

O Homem está cego de sentidos, perdeu a energia colectiva que O levava a convergir para o ponto fundamental. O Amor ao próximo.

Como alternativa, escolhe-se frequentemente actividades na periferia da honra, distorcida de valores como o materialismo, o sexo promíscuo, a rebeldia inútil, a violência por rodízio, o uso de drogas ou até mesmo o ocultismo. Doenças por falta de sentido surgem abundantes entre todos e apenas se tenta curar as dores do imediato.

Hoje, sentem-se impotentes quando as suas fronteiras são violadas, mas quando essas fronteiras deixam de existir, sentem grande desorientação! A sua existência perde todo o sentido e ficam incapazes de lidar com ela.

Gandhi, Madre Teresa, Nelson Mandela, histórias com elevado valor moral como o Pinóquio, o Soldadinho de Chumbo, a Bela e o Monstro, já não mais são referência, tão pouco vale a pena rogar para que sejam restaurados, pois as mentalidades não estariam adaptadas a eles, são necessários outros mais actualizados e que consigam transmitir Valores de forma que a riqueza da alma humana consiga encontrar o seu espaço na sociedade civil.

É hora de mudança, discursos como estes já saturam os nossos jornais e internet, acção precisa-se há que dar início à verdadeira revolução, a rotura do modelo da sociedade que agora está terminando, é necessário começar, não com golpes de estado mas com golpe de globo.

“É preciso ter caos para dar vida à estrela dançante. Digo-vos, tendes caos em vós?” – Nietzsche em “Assim Falava Zaratustra”.

José Cavalheiro Homem

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