O Ciclo do Karma
e do Samsara… ou da reflexão e entendimento sobre alguns ensinos no budismo
Os Três Cestos e outras Escrituras
Budistas
Como os ensinos atribuídos ao Buda foram
transmitidos pela palavra oral… são muito diversos e profundos os ensinos
escritos existentes e aplicados por cada escola… contidos em milhares de volumes…sendo
considerado que muitos desses tratados são altamente abstractos e
consequentemente poucas pessoas conseguem compreender, razão que tem levado o budismo
para bem longe do que o Buda originalmente intencionara. Muitos ensinos
encontram-se registados em “Três Cestos” ou “Três Colecções” e tantos outros em
textos em diversas línguas, e que assim são adoptados diferentemente,
disputando-se a sua canonicidade, quanto à revelação do pensamentos de Buda.
…………
Embora o budismo até certo ponto
libertasse as pessoas das amarras do hinduísmo, os seus conceitos fundamentais
ainda são um legado dos ensinos hindus do karma e do Samsara. O budismo,
conforme originalmente ensinado pelo Buda, difere do hinduísmo no sentido de
que nega a existência de uma alma imortal, mas fala do indivíduo como sendo “ uma combinação de forças ou energias físicas
e mentais”. Neste aspecto, doutrinas budistas, como a anata (não existe eu), negam a existência de uma alma imutável ou
eterna. Contudo a maioria dos budistas hoje, particularmente os do extremo
oriente, crêem na transmigração de uma alma imortal, como revela a sua prática
de adoração de ancestrais e a crença no tormento, num inferno após a morte.
Os ensinos budistas ainda se centralizam
nos conceitos de que toda a humanidade passa de vida em vida através de incontáveis
renascimentos (Samsara) e sofre as consequências de acções passadas e presentes
(karma). Ainda que a sua mensagem de iluminação e libertação desse ciclo possa
parecer atraente, alguns perguntam-se: Que prova existe de que todos os
sofrimentos são o resultado das acções da pessoa numa vida anterior? E, de
facto, que evidência existe de que realmente há alguma vida anterior?
Certa explicação da lei do karma diz:
“O
kama( (karma em páli) é uma lei em si mesmo. Mas isso não significa que deva
existir um legislador. Leis comuns da natureza, como a gravidade, não necessitam
de legislador. A lei do kama também não exige legislador. Ela opera em seu
próprio campo sem a intervenção dum agente directivo externo, independente.” -(Manual do
Budismo).

Além disso, ainda a Bíblia diz-nos que “o salário pago pelo pecado é a morte”,
e que “aquele que morreu foi absolvido do
seu pecado”. Até mesmo os tribunais de justiça reconhecem que ninguém deve
sofrer dupla condenação por qualquer crime que cometa. Por que então, deveria a
pessoa que já pagou pelos seus pecados, por morrer, renascer apenas para sofrer
novamente as consequências de seus actos passados? Ademais, sem ter
conhecimento dos seus actos passados pelas quais está sendo punida, como pode a
pessoa arrepender-se e melhorar? Poderia isso ser considerado justiça? É
coerente com a misericórdia, que, segundo se diz, é a mais notável qualidade do
Buda?
Já quanto ao renascimento, o perito
budista Dr. Walpola Rahula explica:
“Um
ser nada é, senão uma combinação de forças ou energias físicas e mentais. O que
chamamos morte é o total não funcionamento do corpo físico. Será que todas
essas forças e energias cessam completamente com o não funcionamento do corpo?
O budismo diz: ‘Não’. Vontade, desejo, ânsia de existir, de continuar, de
tornar-se sempre mais importante, é uma tremenda força que move vidas inteiras,
existências inteiras, que move até mesmo o mundo inteiro. Esta é a maior força,
a maior energia do mundo. Segundo o budismo, essa força não cessa com o não
funcionamento do corpo, que é a morte; mas continua a manifestar-se em outra
forma, produzindo a reexistência, chamada renascimento”.
A ciência diz que no momento da concepção,
a pessoa herda 50 por cento dos seus genes de cada um dos genitores. De modo
que não existe maneira de ela poder ser cem por cento igual a alguém de uma
existência anterior.
De facto, não é possível sustentar o
processo de renascimento através de algum conhecido princípio de ciência. Não
raro, os que crêem na doutrina do renascimento citam como prova as experiências
de pessoas que afirmam lembrar-se de rostos, eventos e lugares que não
conheciam antes. É isso lógico? Dizer que a pessoa que pode lembrar-se de
coisas de tempos passados deve ter vivido naquela era, implica também dizer que
a pessoa que pode predizer o futuro – e são muitas as que afirmam fazê-lo –
devem ter vivido no futuro. O que, obviamente, não é o caso.
Nirvana – atingir o inatingível?
Buda deixou o seu ensino no que respeita
a iluminação e salvação.

O Buda ensinou que a iluminação e a salvação
– a perfeição do Nirvana – vêm, não de algum Deus ou força exterior, mas sim de
dentro da pessoa através dos seus próprios empenhos em boas acções e
pensamentos correctos. Isto suscita a pergunta: Pode algo perfeito vir de algo
imperfeito? Não nos ensina a experiencia comum que ninguém é capaz de exercer
controle total das suas acções mesmo nos simples assuntos do dia a dia? Não é
lógico pensar se alguém poderia produzir sua salvação inteiramente sozinho?
Como disse um profeta (Jeremias) “não é
do homem terreno o seu caminho, não é do homem que anda o dirigir o seu passo.”
Assim como uma pessoa afundada na areia
movediça provavelmente não sairá sozinha dali, toda a humanidade está presa na
armadilha do pecado e da morte, e ninguém é capaz de se desembaraçar sozinho
dessa dificuldade. Todavia Buda ensinou que a salvação depende unicamente dos
empenhos da própria pessoa, conforme exortou na despedida aos seus discípulos.
A Enciclopédia
de Crenças do Mundo observa que “o
primitivo budismo aparentemente não levou em conta a questão de Deus, e
certamente não ensinou nem exigiu a crença em Deus.”
Na sua essência, em cada pessoa procurar
a salvação por si mesma, voltando-se para sua própria mente ou percepção em
busca de iluminação, o budismo é realmente agnóstico, se não ateísta, ignorando
o conceito fundamental de um Ser Supremo, por cuja vontade tudo existe e opera.
Armando Guedes
Alguma
Bibliografia consultada:
-Religiões do
Mundo -Da História antiga ao Presente
-Budismo Vivo
-Homem em busca
de Deus
-O que é o
budismo?
1 comentário:
Excelente artigo, com a história do budismo clara e concisa, assim como as questões interessantes levantadas pelo autor.
Isso também me levantou algumas questões para as quais não tenho resposta cabal, mas deixo aqui as dúvidas no ar para deixar o pensamento e opinião de cada um fluir.
- Reencarnação:
Será possível afirmar com toda a convicção que alguém não poderá ter vivido no que para nós é passado ou futuro? Será o tempo algo tão linear e será este universo a única realidade em que podemos existir?
- Nirvana:
Será a existência individual definida pelas sensações e desejos? Se fecharmos os olhos e conseguirmos parar todos os nossos pensamentos nem que seja por 1 segundo e atingir um estado de paz, deixaremos de existir individualmente?
- Deus:
Existirá ou não Deus e é necessário para a nossa vida? A eterna polémica questão, talvez porque o conceito do que é Deus esteja muito para além da capacidade da nossa compreensão.
O que é Deus? Será que o conceito de Deus da actualidade terá ainda algumas semelhanças com o de há séculos atrás em que era encarado como um ser com forma humana e estaria num lugar chamado Céu rodeado de anjos e a observar-nos?
No meu entender, talvez um dia ateus e crentes cruzem os seus distintos caminhos e descubram a grandiosidade, perfeição e harmonia desse sublime conceito que é Uno e Indivisível e indescritível por palavras.
A título de curiosidade, apesar de, como é referido no artigo, não ser possível sustentar o renascimento através de um processo científico, é de salientar que houve um cientista de seu nome Ian Stevenson que se dedicou a estudar com rigor esse fenómeno de várias crianças com lembranças de vidas passadas, tendo no final chegado a conclusões interessantes. Talvez seja motivo para um artigo neste blog um dia mais tarde.
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