Estamos em tempo de Entrudo, da catarse que antecede a Quaresma. É um tempo cujas raízes mergulham em tempos há muito passados, mas cujas marcas permanecem até aos nossos dias.
(Caretos de Podence) |
Falemos um pouco destas festas de Entrudo. As festividades mais conhecidas passam-se no Brasil. Todavia, o costume das brincadeiras de Carnaval foi introduzido no Brasil pelos portugueses, no século XVI, sob a denominação de Entrudo. Este nome Entrudo vem dos grandes bonecos chamados "entrudos" que, de aldeia em aldeia, eram centro de brincadeiras, já na Idade Média.
Diz-se que as origens mais remotas de algumas tradições, em Portugal, aludem a "ritos de passagem" praticados por povos nossos ancestrais, como os celtas do período pré-romano, relacionando-se com os povos Galaicos (Gallaeci) e Brácaros (Bracari), depois os lusitanos.
Actualmente ainda vamos encontrar vestígios destas festividades tradicionais bastante bem preservados. Falamos de, por exemplo, Podence, Lazarim, Ílhavo...
Em Podence os Caretos - máscaras envergadas por homens, feitas de madeira e de aspecto assustador - fazem mil diabruras. Tudo lhes é permitido. Só as Matrafonas (raparigas disfarçadas de homem ou vice-versa) lhes fazem frente. Trazem chocalhos rituais e perseguem as raparigas que se atrevessem a vir à rua e chocalhavam-nas. Outrora lançavam cinza, dejectos e outros objectos, atacavam com peles de coelho ou bexigas de porco defumadas ou ainda davam banhos de formigas bravas recolhidas em campos, entravam nas casas, etc. Agora são mais meigos.
(Careto de Lazarim) |
Tanto em Podence como em Lazarim, no Domingo Gordo, nas ruas ouve-se apregoar os casamentos arquitectados pela maldade dos Caretos. Na revista Tempo Livre diz-se: " “À mais proventa dá-se-lhe o mais atrasado”. Por outras palavras, unem-se acintosamente os opostos. Munidos de um embude — amplo funil que serve para verter o vinho —, enlaçam em fictício noivado rapazes e raparigas de discordantes e inconciliáveis génios e feitios, uma forma de sublinhar publicamente a censura a certas idiossincrasias. Por detrás das janelas, as moças escutam o que lhes coube em sorte e sabem que no dia seguinte não poderão recusar a visita do “noivo”, o qual de manhã cedo lhes há- de“bater à porta para lhes dar um abraço e tomar o pequeno almoço”. Se algum desagrado se gerar nos íntimos mais delicados, manda a tradição que se calem as queixas."
Muitos outros episódios e tradições foram preservadas, mas que não podemos abordar por inteiro. Pode-se dizer que o Entrudo constitui uma tradição de ritos de passagem de povos antigos, adaptada ao correr dos tempos e das crenças. Uma análise aprofundada seria o ideal para compreendermos a raíz mais profunda e escondida das aparentes brincadeiras ou diabruras.
O entrudo servia de "juiz" do povo e era aproveitado para lavar as mentes, as vergonhas escondidas quer a nível pessoal quer social.
Actualmente ... não vivemos num Carnaval constante de máscaras que desfilam nas nossas vidas, parecendo, tendo sem ser? O Carnaval dura o ano inteiro...
Este ano vamos mascarar-nos do que Somos?
P.S.: O Caminho da Montanha encerra nos dias 11 e 12 de Fevereiro
1 comentário:
Gostei.Somos um povo com uma história riquissima e encantadora.Oxalá nunca se apaguem as tradições, elas são o cunho de todos aqueles que por cá passaram deixando-nos assim a possibilidade de reflectir sobre nossos antepassados.Nestes apertos e encontrões se algum desagrado se gerar nos íntimos mais delicados,manda a tradição que se calem as queixas.Por isso ,minhas meninas e meninos cuidem-se que o carnaval dura o ano inteiro.....!!!
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