quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O Silêncio....



Muitos de nós já ouviram o som do silêncio... Que silêncio?

Esta palavra tem muitas significações. Se consultarmos um dicionário é definido como “ausência de ruído” e também “interrupção de correspondência” (entre outras).

Em exercícios que praticamos cá pelo Caminho, buscamos a ausência de ruído ou seja, calar os pensamentos que a todo o momento invadem a nossa vida. Estes pensamentos que nos vivem impedem a nossa visão clara e nítida do que somos e daquilo que é a Vida.

A nossa vida desde o nascimento até à partida final centra-se à volta do que pensamos, melhor, do que somos pensados. Se pararmos um pouco, e observarmos os pensamentos que discorrem, como se fossemos uma testemunha exterior, tendo o cuidado de não nos envolvermos na trama, constatamos que o que nos habita é uma constante passagem, sem interrupção. Na sua maior parte têm uma importância menor, para não dizer nenhuma. Relacionam-se com banalidades, pequenas preocupações quotidianas facilmente solúveis, avaliações sem valor, preocupações mentais sem razão aparente, etc. Por exemplo, somos capazes de preencher um dia mental com medo de algo que ainda não aconteceu e que provavelmente não acontecerá. A ansiedade cresce, tornamo-nos irritadiços e depois angustiados, depressivos ou então panelas de pressão prontas a rebentar por um detalhe sem importância.

Outra possibilidade é colmatarmos uma necessidade com pensamentos de “se me saísse o euromilhões”, “se não tivesse esta família”, etc., em vez de procurarmos uma solução viável, racional (não mental) que nos permitisse ultrapassar a dificuldade, ou aceitar a situação.

E vivemos, enredados numa teia de ses, que nutrem os pensamentos mentais que se alimentam da nossa própria energia.

Agora, se tomarmos a segunda significação do termo “silêncio”, isto é “interrupção de correspondência”, podemos defini-la como fecharmo-nos no nosso pequeno mundo e não ouvir os apelos do próximo, que – ele também – sofre de carências, medos, um reflexo nosso. Passamos por ele de olhos perdidos, cegos, em desamor... fechados nos nossos egopensamentos aparentemente vitais, de suprema importância para a nossa vida!?

Podem dizer, “o próximo não está também a ser vivido pelos seus próprios pensamentos mentais e preso na sua teia?”.

Uma boa pergunta. Não podemos afirmar que não. Todavia, não é justificação para sermos vividos em vez de vivermos. Quando calarmos a mente quotidiana e nos apercebermos da nossa ausência de rédeas na vida que somos levados a ter (não somos comandados pela mente à nossa revelia?), podemos despertar realmente e deixarmos de ser vividos por flashes mentais, passando a Ver, Ouvir e Sentir o que está em nós e à nossa volta. Então sim, podemos passar a palavra ao próximo, permitir-lhe a vivência plena do que é.

E isso vai acabar com os nossos problemas?
Esta Realidade não vem acabar com as dificuldades quotidianas, não vai matar a fome ou pagar dívidas, pelo menos directamente. Trará, isso sim, uma atitude diferente perante as dificuldades, uma serenidade interior inabalável, assim como uma abertura racional maior, novas pespectivas de avaliação, a compreensão de Valores que preenchem as lacunas das necessidades mais físicas. Permitirá um olhar novo, um ouvir diferente, mais profundo, um sentir sempre vivo e atento para a escolha do Caminho certo e individual.

Como o que está à nossa volta é reflexo do que somos, o Silêncio permitirá realizar o acto de Amor ao próximo mais profundo: o exemplo de ser.


(Video: Sounds of Silence, Simon e Garfunkel)


1 comentário:

Anónimo disse...

Este magnifico texto fez-me lembrar uma história que li algures:um prisioneiro num campo de concentração nazi, sabia que a sua morte era uma questão de tempo e resignara-se ao seu destino.Mas um dia, reparando que o portão da prisão estava aberto, começou a caminhar lentamente na sua
direcção, mesmo sabendo que poderia ser atingido pelas balas disparadas pelos guardas que o podiam ver da torre. Porém, por qualquer razão desconhecida, conseguiu sair sem qualquer entrave para a liberdade. Uma das teorias para o seu notável feito,foi que o conseguiu através do seu estado mental passivo e neutro, mas confiante..