terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ainda Kahlil




     Um dia, quando Phardrous, o grego, caminhava pelo jardim, bateu com o pé numa pedra e ficou enfurecido.
       E voltou-se e agarrou na pedra dizendo em voz baixa:
       - Oh, uma coisa morta no meu caminho. - E atirou fora a pedra.
       E Almustafa, o escolhido e bem amado, perguntou:

- Porque disseste "Oh uma coisa morta"?
Não estás já há tempo suficiente neste Jardim 
para saberes que aqui não existe nada morto?

Todas as coisas vivem e brilham no conhecimento dos dias
e na majestade da noite.
Tu e a pedra sois um só.
Só existe diferença nas batidas do coração.
O teu coração bate um pouco mais depressa, não é. meu amigo?
Ah, mas não é tão calmo.
O seu ritmo pode ser outro ritmo
mas digo-te que se escutares as profundezas da tua alma
e analisares as alturas do espaço
só ouvirás uma melodia.
e nessa melodia cantarão a pedra e a estrela,
uma com a outra, em perfeita união.

Se as minhas palavras não alcançam a tua compreensão,
então espera que haja outra alvorada.

Se amaldiçoaste a pedra porque na tua cegueira tropeçaste nela,
então também amaldiçoarás uma estrela
se a tua cabeça a encontrasse no céu.

Mas chegará o dia em que juntarás pedras e estrelas,
como uma criança junta lírios do vale,
e então saberás que todas as coisas têm vida e fragância.

                                                 In O Jardim do Profeta



Kahlil Gibran foi poeta, filósofo e artista. Nasceu no Líbano em 1883. Passou a infância em Beirute, emigrou para os Estados Unidos com 12 anos e voltou ao Líbano com 22 anos.

Publicou várias obras, entre as quais As Asas Rompidas,  o Louco, O Profeta, Lázaro e a sua Amada,   Jesus O Filho do Homem, O Jardim do Profeta, etc.

Foi pintor, tendo feito a primeira exposição de retratos em 1904, sem sucesso.

Faleceu em 1903.

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