sexta-feira, 22 de julho de 2011

Retalhos de Experiência em Cordes sur Ciel



A Ciência, a Arte e a Iniciação colocam uma mesma questão: “Porque é que há qualquer coisa em vez de nada?”.

A Ciência responde a esta questão sondando o objecto. “A ciência sonda, não prova nada”, adverte o filósofo Gregory Bateson. A Arte interroga a nossa relação com o objecto, às vezes distorcendo-o ou desviando-o para perturbar melhor a nossa crença arbitrária na realidade. A Iniciação conduz à experiência do Grande Nada e à sua plenitude. Não há Nada em vez de qualquer coisa”.


Esta é a abertura do texto que Remi Boyer escreve no catálogo da exposição de pintura de Jean Gabriel Jonin. Não vamos comentar o texto no seu todo, nem a pintura de Jean Gabriel.

Remi aponta três grandes linhas que conduzem o pensamento da humanidade. A Ciência como meio, e só como meio, pois a ciência pura, sem poética e metafísica vai perder-se nos meandros dos jogos de poder.

A Arte pode ser Iniciática. Temos vários exemplos, um dos quais nos é particularmente querido, o Mestre Lima de Freitas. Para Remi “A aliança entre Arte e Iniciação gera uma “divina surpresa”, a que arranca a consciência ao torpor, à confusão comum, que desperta o ser antes que se torne definitivamente um “homem-máquina” segundo Georges Ivanovitch Gurdjieff, um “cadáver-adiado” segundo Fernando Pessoa.”

Falamos de Iniciação, mas afinal qual a Raiz do termo? O que é?

Etimologicamente, a palavra vem do latim initiato que, na época Greco-romana era a tradução para a palavra grega telete.

Initiatio traduz uma ideia de passagem, baseada na imitação e de repetição, como fazem os ritos.

Telete veicula a ideia de acabamento, de consumação. Baseia-se na libertação até mesmo da própria libertação, segundo Kazantzaki.

O grande momento, o Intervalo, aparece quando se passa da Initiatio à Inventio, quando abandonamos as formas para aceder ao Grande Real. Esta passagem faz-se no silêncio onde cada gesto, cada palavra, cada respiro é totalmente novo, totalmente consumado, totalmente único.

A Arte pode ser passagem, sem palavras, para além das palavras, ao mundo do silêncio, do Intervalo, pois pode solicitar o mundo do imaginal, directamente.

A poesia, pela palavra, também pode conduzir a esse jogo em que o eu não toma parte, em que a palavra vai para além do sentido, do limite dela mesma.

Perguntam-me e quem não pinta ou não escreve? Pode ser igualmente artista, fazer a passagem à Inventio.

Não é artista também aquele que se faz um com a Arte? Não somos nós artistas da Vida?


Sem comentários: