quarta-feira, 27 de julho de 2011

Uma história Sufi


(foto: Rarinda)


Um rei perguntou aos sábios da corte: “Estou a fazer um anel belíssimo para mim. Consegui um dos melhores diamantes que existe. Quero manter, escondido dentro do anel, uma mensagem que me possa auxiliar num momento de completo desespero. Terá que ser bem pequena para que possa ficar oculta sob o diamante no anel.”

Todos os sábios estavam reunidos, todos grandes eruditos. Poderiam escrever grandes tratados, mas dar ao rei uma mensagem com apenas duas ou três palavras que pudesse ajudá-lo em momentos de completo desespero... eles pensaram, procuraram nos livros, mas nada puderam encontrar.

O rei tinha um servo antigo que era quase como seu pai – ele também já tinha servido seu pai. A mãe do rei tinha morrido cedo e esse servo cuidou dele, assim ele não era tratado como um empregado. O rei tinha imenso respeito por ele. O velho disse, “Não sou um sábio, culto, conhecedor de muitos assuntos, mas sei qual é a mensagem, pois só existe uma mensagem. E estas pessoas não a podem dar. Ela só pode ser dada por um místico, por um homem que se tenha realizado a si mesmo.”

Na minha longa vida no palácio, encontrei todo o tipo de pessoas e, uma vez, um místico. Ele também era um hóspede do seu pai e fui colocado a servi-lo. Quando ele estava para partir, como um gesto de agradecimento por todos os meus serviços, deu-me essa mensagem”. E escreveu-a num pedacinho de papel, depois dobrou o papel e disse ao rei, “Não leia agora, apenas a mantenha escondida no anel. Só leia esta mensagem quando tudo o mais tiver falhado, quando não houver mais saída.

Essa hora não demorou a chegar. O país foi invadido e o rei perdeu o reino. Quando estava a fugir a cavalo para salvar a vida perseguido pelos cavalos dos inimigos, sozinho, e eles eram muitos, chegou a um ponto onde a estrada acabava, a um lugar sem saída, só havia um despenhadeiro. Cair dali seria o fim. Ele não podia retornar, o inimigo estava ali e podia ouvir o som dos cavalos que se aproximavam. Não podia avançar, não havia saída...

Então, lembrou-se do anel. Abriu-o, tirou o papel. Dentro, a pequena mensagem de enorme valor simplesmente dizia, “Isso também irá passar.

Um grande silêncio recaiu sobre ele enquanto lia a frase: isso também irá passar. E passou. Tudo passa, nada permanece eternamente nesse mundo. Os inimigos que o seguiam devem ter-se perdido na floresta, devem ter tomado o caminho errado. Os cavalos afastavam-se aos poucos, até que não era mais possível ouvi-los.

O rei ficou imensamente agradecido ao serviçal e ao místico desconhecido. Aquelas palavras provaram ser milagrosas. Dobrou o papel, colocou-o de novo no anel, reuniu os seus exércitos e reconquistou o reino. Quando voltou à capital, vitorioso, havia uma grande celebração por toda a cidade, com música e dança, e ele sentia muito orgulho de si mesmo. O velho serviçal, que caminhava ao lado da sua carruagem, disse: “Essa também é uma boa hora: leia novamente a mensagem.”

O rei disse: “O que quer dizer? Sou vitorioso, o povo está a celebrar, não estou desesperado, não estou numa situação para a qual não há saída.”

O velho serviçal disse, “Escute. Foi isso que o santo me disse: esta mensagem não é só para os momentos de desespero, também é para os de grande prazer. Essa não é somente para quando você for derrotado, mas para quando você for vitorioso. Não apenas para quando você for o último, mas também para quando for o primeiro.”

E o rei abriu o anel e leu a mensagem: “isso também irá passar,” e de repente, a mesma paz, o mesmo silêncio no meio da multidão que celebrava alegre, dançando. Mas o orgulho, o ego não estavam mais presentes. Tudo passa.

Então pediu ao servo que se aproximasse mais da carruagem e se sentasse a seu lado. Perguntou: “Há mais alguma coisa? Tudo passa... A sua mensagem ajudou-me muito.”

O velho servo disse: a terceira coisa que o santo disse foi: lembre-se, tudo passa. Só você permanece. Você permanece sempre como uma testemunha.


Enviada por Carlos Manuel

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