domingo, 4 de março de 2012

Obrigado(a)



Desafiaram-me a escrever sobre o agradecimento. E dizia a pessoa em questão:

Passamos a vida a agradecer, a dizer obrigado, etc., mas com que sentido? Pois eu acho que os antigos, sobretudo os pobres e o povo humilde e dito “inculto” tinham uma expressão maravilhosa, que ultrapassa todos os conceitos e preconceitos:“Que Deus lhe pague”!

É verdade! A nossa expressão “Obrigado(a)” é rica em significado. Dizemo-la sem reflectirmos sobre aquilo que afirmamos, uma promessa, uma aceitação no sentido nobre.

Ficamos obrigados a quê? Ou então como diz o nosso desafiador “Deus lhe pague” que vai exactamente no mesmo sentido... Entregamos a Algo ou Alguém ou a Deus, o pagamento, leia-se retorno, do que nos fizeram.

Não sei se será o mesmo caso em outros línguas, nem tampouco vamos dissertar sobre isso, mas já dizia Fernando Pessoa que a língua portuguesa é maravilhosa nos seus dizeres, traduzindo valores antigos, tradicionais e iniciáticos. Quando recebemos alguma coisa e retorquimos com “obrigado”, não será uma forma de aceitar uma das Leis do Universo: a de Causa e Efeito, a do Retorno?

No dicionário da Academia  diz: “ do latino obligãre “comprometer”: que é imposto pela lei.... 2. Que envolve, com carácter forçoso, alguma coisa....

Ficar obrigado é submeter-se a algo. Quando recebemos ficamos obrigados, comprometemo-nos ao retorno de algo.  

Então o que é agradecer? Será concordarmos com a Lei Maior que nos rege e de cada vez que recebemos, termos a consciência e anuir em dar o mesmo valor? Apenas fica a pergunta com todas as consequências que dela podem advir.

Esta expressão está implícita na antiga fórmula de agradecimento “Deus lhe pague”, pois expressa igualmente o Retorno, desta vez feito pela divindade omnisapiente e justa.

Esta expressão vem já de tempos imemoriais. Não aparece ela no Pai Nosso? É  mais acessível na antiga formulação:

“... Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores... “

Muito haveria a dizer sobre o agradecimento. Esta é só uma das vertentes. Deixamos a outras “penas” a inspiração.

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