Milhares de vozes que gritam
Nós só queremos viver
Neste mundo absurdo
Vive-se para morrer
Onde o sofrimento é tudo
As crianças continuam a nascer
Nascem e vivem de luto
Passam a vida a sofrer
E no entanto escuto
Milhares de vozes que gritam
Nós só queremos viver
À vida que passa
Ao tempo que foge
Não há sonho, nem ilusão que me faça
Acreditar no mundo de hoje
Que povoado por tão miserável raça,
Por corações de pedra que ignoram
Milhares de vozes que gritam
Nós só queremos viver
Vida,
Que nem sempre é viver,
Em cada dia que nasce,
Numa sociedade corrompida
Sente-se o medo a crescer,
Rodeados por um mundo hipócrita
É um acto heróico sobreviver,
No meio dos despojos da guerra
Que dia a dia nos obriga a combater,
A lutar por um lugar na terra.
Até hoje eu não entendo, como existem
Milhares de vozes que gritam
Nós só queremos viver
Depois de tanto sofrerem
Angustiados, acabam por morrer,
E jamais chegam a conhecer
A vida que tanto queriam viver.
(30/10/1988)
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