Na sequência do programa de Actividades, subordinado do tema "O Amor", alguns extractos da apresentação:
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(Eros e Psique) |
Este é um tema
vasto e abrangente. São múltiplas e diferentes as formas de amar, pensamos nós.
No Dicionário
(da Academia das Ciências de Lisboa) temos como primeiro significado “Predisposição da afectividade e da vontade,
orientada para o objecto que a inspira, e é reconhecido como bem”; como
segundo significado temos : “Afeição
profunda de uma pessoa por outra, de carácter passional e que, geralmente, implica
atracção sexual”.
As Ciências
Biológicas descrevem o amor como um instinto de mamíferos, tal como a fome ou a sede. O amor é certamente influenciado por hormónios (tais como a oxitocina), neurotransmissores (como NGF) e feronómios.
Na
psicologia vai ver-se o amor mais como um fenómeno social e cultural. É certo
que a forma de pensar das pessoas faz com que estas se comportem, em relação ao
amor, influenciadas pelas suas
concepções do que é o amor.
No homem, o
apego “romântico” acciona globalmente as mesmas regiões cerebrais, assim como
certas estruturas implicadas nas “recompensas”. O apego “romântico” dependeria
parcialmente do contexto sócio-cultural .
Muitos estudos foram
feitos e identificaram vários tipos de amor:
· Porneia – o pequeno amor
· Pathos – o amor necessidade
· Mania, pathe – o amor paixão
· Ludus – amor brincalhão, jogado
como se fosse um jogo
· Pragma – amor pragmático, que
apenas focaliza o momento e a necessidade temporária
· Eros – o amor erótico
· Psique – amor “espiritual,
baseado na mente e nos sentimentos eternos
· Storge – o amor ternura
· Harmonia – o amor harmonia
· Eunoia- o amor abnegação
· Charis – o amor celebração
· Philia – o amor amizade
· Ágape – o amor incondicional
Há um elemento
importante, muito importante sem o qual o amor se torna pesado .É a Abertura,
ou seja o espaço e a leveza, o que não é fácil.
Amor
Fraternal
Considero este o
tipo de amor que nos liga numa família, numa comunidade, numa ordem
iniciática...
Não vamos
desenvolver o amor fraternal entre irmãos de uma mesma família, pois são laços
de “sangue”, considerados por algumas linhas de pensamento – no taoísmo ou na
teosofia por exemplo – como sagrados. Mas o que nos liga, a nós que aqui
estamos, é um sentimento de amor que é fraterno, desinteressado e que nada
obriga a que exista a não ser a comunhão de pensamento, de objectivos e de
conhecimento. São formas de estar comuns e que criam laços.
Vou incluir
neste item o amor patriótico. A Pátria é a mãe, e os filhos amam-na ou devem
amá-la, e entre si, têm comportamentos fraternais. Estes tornam-se mais
evidentes quando há uma guerra.
Amor parental
Pouco há a dizer
sobre esta forma de amar. Todos fomos filhos e a maior parte é mãe ou pai. É um
amor sem fronteiras, num estado puro e quase instintivo. Talvez seja a forma de
amor que mais se aproxima do amor primordial.
Em todas as
tradições vamos encontrar uma Divindade, nalgumas de carácter mais masculino,
noutras de carácter mais feminino, mas em todas é comum sermos Filhos.
É um Amor total,
em que o ser criado é parte do criador.
Amor físico ou romântico
Porque nascemos
de um homem e de uma mulher, falemos agora deste amor a que chamei físico ou
romântico. E voltamos aqui à definição inicial, inscrita no Dicionário: “Afeição profunda de uma pessoa por outra, de
carácter passional”. Podemos ficar-nos por este carácter passional, de
origem mais básica e instintiva. Entra aqui, de uma forma forte, a descrição acima
referida como biológica e psicológica ou seja, agimos por sobrevivência da
espécie graças à acção de hormonas segregados no sangue e que levam à activação
de comportamentos instintivos de desejo e consecutiva procura e escolha de
parceiro(a).
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(Nascimento de Vénus) |
Esta procura e
escolha é, nas nossas sociedades, submetida a padrões de comportamento e de
cultura aceites e admitidas pela maioria sustentando uma organização social. Sem
eles a sociedade se desmoronar-se-ia. Ao longo da História a sociedade
padronizada foi mudando e adaptando os comportamentos às necessidades e
requisitos do momento. Estes comportamentos obedecem, como já foi dito, à cultura,
ao poder instalado e à religião e crenças da sociedade em que se inscrevem.
O amor entre
homem e mulher é talvez dos mais belos. . É um veículo de acesso à Beleza na
sua forma divinizada.
Amor Altruísta
O altruísmo é
sinónimo de abnegação, filantropia. Dar sem nada esperar. Podemos correlacionar esta forma de amor
com a fraternidade. Ambas implicam abnegação. O que as diferencia é apenas o
“território” de acção. Enquanto no amor fraternal há um quase compromisso
perante o “irmão”, o companheiro de caminhada, no amor altruísta este conceito
é alargado. Torna-se fazer o bem pelo bem.
O altruísmo é o
primeiro passo na longa jornada de
subida da montanha. É uma atitude que vamos aprendendo ao dar aos que nos estão
mais próximos e que em seguida se vai estendendo ao próximo não identificado.
Amor Universal ou Incondicional
Quando o Amor
altruísta se torna mais abrangente, se alarga ao mundo em nosso redor, então
estamos perante o amor Universal, a mais bela forma de amar.
Muito é dito e
escrito sobre este amor. É para mim muito difícil acreditar que seja tão comum
quanto é publicitado. Nesta forma não há julgamento, não há avaliação do outro,
somos a dádiva total, sem nada
esperar de retorno, nem mesmo um sorriso.
Esta dádiva
abrange todos os Seres, sejam eles de que reino ou natureza forem. É o último
passo do dar.
Ser Amor
Sim, ainda há
mais um degrau a avançar. Enquanto damos amor, sentimos amor, ainda estamos na
dualidade: existem dois intervenientes, um passivo e um activo, o que dá e o
que recebe. Há uma fronteira a passar.
Quando deixamos
de dar amor e passamos a ser Amor, então abandonamos a dualidade e entramos no
Um. Não há mais lugar a sentimento comum, dádiva, abnegação.... Eu e o outro,
quem quer que este seja, somos Um e a mesma entidade, mesmo que em corpos
diferentes. Já não há definição possível, pois deixamos para trás o definível,
as palavras, os jogos.
Apenas Somos Um.
Somos!
A Senda
Finalmente, uma
vez que há tantas formas de amor, qual o caminho para Ser?
Como ainda não
atingi o Ser, não posso responder a essa pergunta. No meu estádio apenas
poderei falar de caminhos trilhados por outrem, ou daqueles que já percorri.
De tudo o que me
foi dado observar, sei que o Amor é o Caminho. Qualquer que seja a forma de
pensamento, temos sempre em comum Ser
Amor. Mas não vamos enganar-nos: o Amor não é sentimento. Pelo
contrário, está para além do sentimento, já este não domina.
Quando nos
atrevemos a dizer que Amamos, não pode ser um amor “terrestre” com contornos
definidos, padronizado e sujeito a ambientes apenas físicos ou psicológicos.
Essas roupagens são reconhecidas, analisadas, e aceites ou não, mas sempre
ultrapassadas.
Muitas são as
formas de trilhar a Senda. Todas as religiões apontam o Amor. No Oriente
passando pelo amor físico, no Ocidente por um amor mais espiritualizado, em que o corpo é mais um obstáculo do que um meio.
No Oriente o
corpo, a relação física é um meio, tendo mesmo desenvolvido uma técnica, o Tantra.
Todo o complexo é vivo, tem uma consciência independente e desta forma merece a
atenção, respeito e reconhecimento. Podem ser usados mantras – vocalização de
sons, em sânscrito – yantras – figuras geométricas como por exemplo os
mandalas, que representam as várias formas de Shakti – e rituais, nos quais se
incluem a meditação de variadas formas.
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(Rodin - O Beijo) |
A sexualidade é
assumida e Deus apresenta-se como casal sagrado de Homem e Mulher. Exemplo são
os casais Shiva e Shakti. Shiva representa a força activa e masculina, Yang, e
Shakti, a força passiva, feminina, Yin. A união do casal sagrado é considerada
um Caminho, no sentido mais puro do termo, de ascensão à iluminação através do
despertar da kundalini - a serpente de energia ígnea que temos adormecida, cuja
energia ascende através dos chakras desde a base da coluna até se obter a união
de Shiva e Shakti, denominada samadhi - e ao Conhecimento de Deus.
Esta união dos
dois aspectos de Deus, Shiva e Shakti, é recriada a nível humano, através da
relação sexual realizada de determinada forma no casal ou entre o homem e a
sacerdotisa.
Esta é uma das
vias de abordagem simples, evidente e libertária do jogo da Consciência-Energia,
necessária a qualquer via directa. É uma celebração da Vida livre e gratuita. O
Tantrismo, numa abordagem primordial dá uma importância vital à vibração, à
abertura .
Diz Eric Baret,
no seu livro Corps de Silence (Corpo de Silêncio):
“A emoção pura e
possível... ela está carregada de alegria e de clareza... sem apropriação,
mesmo a simples percepção de um objecto é liberdade pois ela não tem defesas”
... “ A emoção íntima, rasa, é a manifestação
da Luz Consciente quando as forma de peso, tamas,
e de agitação, rajas, se eliminam”.
Para além da senda tântrica, podemos optar por
outra, geograficamente mais abrangente: a alquimia, neste caso interna.
Esta terá três tempos, a saber,
1-
a
integração individual,
2-
a integração da luz no casal; e
finalmente
3-
a
integração da luz na comunidade.
Conclusão
A conclusão que faço é muito simples. Somos Amor e para o Amor
devemos caminhar, passo a passo, qualquer que seja a Senda que tomemos.
Amor é ausência de sofrimento.
Amor é Beleza.
Amor é Vida.
Amor é Ser no sentido mais amplo do termo.
Por Amor
Em Amor,
Com Amor,
Bem-hajam!
Alice Marques