segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Amor

Na sequência do programa de Actividades,  subordinado do tema "O Amor", alguns extractos da apresentação:

(Eros e Psique)


Este é um tema vasto e abrangente. São múltiplas e diferentes as formas de amar, pensamos nós.

No Dicionário (da Academia das Ciências de Lisboa) temos como primeiro significado “Predisposição da afectividade e da vontade, orientada para o objecto que a inspira, e é reconhecido como bem”; como segundo significado temos : “Afeição profunda de uma pessoa por outra, de carácter passional e que, geralmente, implica atracção sexual”.

As Ciências Biológicas descrevem o amor como um instinto de mamíferos, tal como a fome ou a sede. O amor é certamente influenciado por hormónios (tais como a oxitocina), neurotransmissores (como NGF) e feronómios.
 Na psicologia vai ver-se o amor mais como um fenómeno social e cultural. É certo que a forma de pensar das pessoas faz com que estas se comportem, em relação ao amor,  influenciadas pelas suas concepções do que é o amor.

No homem, o apego “romântico” acciona globalmente as mesmas regiões cerebrais, assim como certas estruturas implicadas nas “recompensas”. O apego “romântico” dependeria parcialmente do contexto sócio-cultural .

Muitos estudos foram feitos e identificaram vários tipos de amor:

·                        Porneia – o pequeno amor
·                       Pathos – o amor necessidade
·                       Mania, pathe – o amor paixão
·                       Ludus – amor brincalhão, jogado como se fosse um jogo
·                       Pragma – amor pragmático, que apenas focaliza o momento e a necessidade temporária
·                       Eros – o amor erótico
·                       Psique – amor “espiritual, baseado na mente e nos sentimentos eternos
·                       Storge – o amor ternura
·                       Harmonia – o amor harmonia
·                       Eunoia- o amor abnegação
·                       Charis – o amor celebração
·                       Philia – o amor amizade
·                      Ágape – o amor incondicional


Há um elemento importante, muito importante sem o qual o amor se torna pesado .É a Abertura, ou seja o espaço e a leveza, o que não é fácil.


Amor Fraternal

Considero este o tipo de amor que nos liga numa família, numa comunidade, numa ordem iniciática...

Não vamos desenvolver o amor fraternal entre irmãos de uma mesma família, pois são laços de “sangue”, considerados por algumas linhas de pensamento – no taoísmo ou na teosofia por exemplo – como sagrados. Mas o que nos liga, a nós que aqui estamos, é um sentimento de amor que é fraterno, desinteressado e que nada obriga a que exista a não ser a comunhão de pensamento, de objectivos e de conhecimento. São formas de estar comuns e que criam laços.

Vou incluir neste item o amor patriótico. A Pátria é a mãe, e os filhos amam-na ou devem amá-la, e entre si, têm comportamentos fraternais. Estes tornam-se mais evidentes quando há uma guerra.

Amor parental

Pouco há a dizer sobre esta forma de amar. Todos fomos filhos e a maior parte é mãe ou pai. É um amor sem fronteiras, num estado puro e quase instintivo. Talvez seja a forma de amor que mais se aproxima do amor primordial.

Em todas as tradições vamos encontrar uma Divindade, nalgumas de carácter mais masculino, noutras de carácter mais feminino, mas em todas é comum sermos Filhos.

É um Amor total, em que o ser criado é parte do criador.

Amor físico ou romântico

Porque nascemos de um homem e de uma mulher, falemos agora deste amor a que chamei físico ou romântico. E voltamos aqui à definição inicial, inscrita no Dicionário: “Afeição profunda de uma pessoa por outra, de carácter passional”. Podemos ficar-nos por este carácter passional, de origem mais básica e instintiva. Entra aqui, de uma forma forte, a descrição acima referida como biológica e psicológica ou seja, agimos por sobrevivência da espécie graças à acção de hormonas segregados no sangue e que levam à activação de comportamentos instintivos de desejo e consecutiva procura e escolha de parceiro(a).
(Nascimento de Vénus)

Esta procura e escolha é, nas nossas sociedades, submetida a padrões de comportamento e de cultura aceites e admitidas pela maioria sustentando uma organização social. Sem eles a sociedade se desmoronar-se-ia. Ao longo da História a sociedade padronizada foi mudando e adaptando os comportamentos às necessidades e requisitos do momento. Estes comportamentos obedecem, como já foi dito, à cultura, ao poder instalado e à religião e crenças da sociedade em que se inscrevem.

O amor entre homem e mulher é talvez dos mais belos. . É um veículo de acesso à Beleza na sua forma divinizada.

Amor Altruísta

O altruísmo é sinónimo de abnegação, filantropia. Dar sem nada esperar.  Podemos correlacionar esta forma de amor com a fraternidade. Ambas implicam abnegação. O que as diferencia é apenas o “território” de acção. Enquanto no amor fraternal há um quase compromisso perante o “irmão”, o companheiro de caminhada, no amor altruísta este conceito é alargado. Torna-se fazer o bem pelo bem.

O altruísmo é o primeiro passo na longa  jornada de subida da montanha. É uma atitude que vamos aprendendo ao dar aos que nos estão mais próximos e que em seguida se vai estendendo ao próximo não identificado.

Amor Universal ou Incondicional

Quando o Amor altruísta se torna mais abrangente, se alarga ao mundo em nosso redor, então estamos perante o amor Universal, a mais bela forma de amar.

Muito é dito e escrito sobre este amor. É para mim muito difícil acreditar que seja tão comum quanto é publicitado. Nesta forma não há julgamento, não há avaliação do outro, somos a dádiva total, sem nada esperar de retorno, nem mesmo um sorriso.

Esta dádiva abrange todos os Seres, sejam eles de que reino ou natureza forem. É o último passo do dar.

Ser Amor

Sim, ainda há mais um degrau a avançar. Enquanto damos amor, sentimos amor, ainda estamos na dualidade: existem dois intervenientes, um passivo e um activo, o que dá e o que recebe. Há uma fronteira a passar.

Quando deixamos de dar amor e passamos a ser Amor, então abandonamos a dualidade e entramos no Um. Não há mais lugar a sentimento comum, dádiva, abnegação.... Eu e o outro, quem quer que este seja, somos Um e a mesma entidade, mesmo que em corpos diferentes. Já não há definição possível, pois deixamos para trás o definível, as palavras, os jogos.

Apenas Somos Um. Somos!

A Senda

Finalmente, uma vez que há tantas formas de amor, qual o caminho para Ser?
Como ainda não atingi o Ser, não posso responder a essa pergunta. No meu estádio apenas poderei falar de caminhos trilhados por outrem, ou daqueles que já percorri.

De tudo o que me foi dado observar, sei que o Amor é o Caminho. Qualquer que seja a forma de pensamento, temos sempre em comum Ser Amor. Mas não vamos enganar-nos: o Amor não é sentimento. Pelo contrário, está para além do sentimento, já este não domina.

Quando nos atrevemos a dizer que Amamos, não pode ser um amor “terrestre” com contornos definidos, padronizado e sujeito a ambientes apenas físicos ou psicológicos. Essas roupagens são reconhecidas, analisadas, e aceites ou não, mas sempre ultrapassadas.

Muitas são as formas de trilhar a Senda. Todas as religiões apontam o Amor. No Oriente passando pelo amor físico, no Ocidente por um amor mais espiritualizado, em que o corpo é mais um obstáculo do que um meio.

No Oriente o corpo, a relação física é um meio, tendo mesmo desenvolvido uma técnica, o Tantra. Todo o complexo é vivo, tem uma consciência independente e desta forma merece a atenção, respeito e reconhecimento. Podem ser usados mantras – vocalização de sons, em sânscrito – yantras – figuras geométricas como por exemplo os mandalas, que representam as várias formas de Shakti – e rituais, nos quais se incluem a meditação de variadas formas.
(Rodin - O Beijo)

A sexualidade é assumida e Deus apresenta-se como casal sagrado de Homem e Mulher. Exemplo são os casais Shiva e Shakti. Shiva representa a força activa e masculina, Yang, e Shakti, a força passiva, feminina, Yin. A união do casal sagrado é considerada um Caminho, no sentido mais puro do termo, de ascensão à iluminação através do despertar da kundalini - a serpente de energia ígnea que temos adormecida, cuja energia ascende através dos chakras desde a base da coluna até se obter a união de Shiva e Shakti, denominada samadhi -  e ao Conhecimento de Deus.

Esta união dos dois aspectos de Deus, Shiva e Shakti, é recriada a nível humano, através da relação sexual realizada de determinada forma no casal ou entre o homem e a sacerdotisa.

Esta é uma das vias de abordagem simples, evidente e libertária do jogo da Consciência-Energia, necessária a qualquer via directa. É uma celebração da Vida livre e gratuita. O Tantrismo, numa abordagem primordial dá uma importância vital à vibração, à abertura .

Diz Eric Baret, no seu livro Corps de Silence (Corpo de Silêncio):

“A emoção pura e possível... ela está carregada de alegria e de clareza... sem apropriação, mesmo a simples percepção de um objecto é liberdade pois ela não tem defesas” ... “ A emoção íntima, rasa, é a manifestação da Luz Consciente quando as forma de peso, tamas, e de agitação, rajas, se eliminam”.

Para além da senda tântrica, podemos optar por outra, geograficamente mais abrangente: a alquimia, neste caso interna.

Esta terá três tempos, a saber,
1-    a integração individual,
2-     a integração da luz no casal; e finalmente
3-    a integração da luz na comunidade.

Conclusão

A  conclusão que faço é muito simples. Somos Amor e para o Amor devemos caminhar, passo a passo, qualquer que seja a Senda que tomemos.

Amor é ausência de sofrimento.
Amor é Beleza.
Amor é Vida.
Amor é Ser no sentido mais amplo do termo.


Por Amor
Em Amor,
Com Amor,

Bem-hajam!


Alice Marques

3 comentários:

Isaura disse...

Amor é Vida. Palavra de Mestre :)

Ernesto disse...

Amor: um conceito aparentemente fácil de compreender, mas difícil de explicar.
Como é bem elucidado no texto, é um tema que tem uma evolução muito curiosa ao longo dos tempos.
Retive, sobretudo, o “Universal e Incondicional”.
O presente artigo é de uma beleza e profundidade atordoantes. Também não seria de esperar menos de quem o escreve, com os conhecimentos enciclopédicos que tem e com a ternura de alma que emana.
Eu, prosaicamente, tentaria defini-lo como o “é” e o “não é”.
Amor é o “Absoluto no Eu Sou”. “Eu não sou eu, mas o outro”
Muito obrigado.

carlos manuel disse...

Muito obrigado Alice; foi um momento muito lindo e o texto abrangente e inspirador;
Partilho da mesma opinião do Ernesto quando fala da ternura que emana, é muito claro para mim…
De facto para ser verdadeiramente sincero, quando escuto a palavra Amor, esta suscita em mim um conceito muito amplo, mas ao mesmo tempo muito ténue; na medida em que acredito e sinto que o verdadeiro Amor (Amor incondicional e desinteressado) é algo tão puro e tão de Deus, estando portanto ao alcance e disponível em todos e ao mesmo tempo só alguns chegam lá… pelo menos na Dimensão em que vivemos.