segunda-feira, 18 de março de 2013

Palavras, quem sois?

(Mark Henson - Double Helix)



As palavras reduzem a realidade a algo que a mente humana consegue compreender, o que não é grande coisa. A linguagem consiste em cinco sons básicos  produzidos pelas cordas vocais: as vogais «a, e, i, o, u». [...]

Quando vivemos num mundo desprovido de abstracção mental, deixamos de ser capazes de sentir a vitalidade do Universo. A maior parte das pessoas não vive numa realidade viva, mas numa realidade conceptualizada.

In Eckhart  Tolle, Um Novo Mundo

Estes extractos do livro Um Novo Mundo podem levantar muitas questões, sobretudo quando as citações não são enquadradas no contexto. Quase apetece gritar a indecência, sobretudo do primeiro extracto: denegrir as palavras? Crime! Na verdade Tolle fala de redução da realidade a sons organizados que quando postos ao serviço da mente diminuem o sentido real.




A forma mais simples de explanar uma ideia é o exemplo. Assim, tomemos o termo “árvore”. Podemos dissertar em palavras sobre o termo “árvore” sem sequer nos aproximarmos da totalidade do ser “arvore”.  Não podemos exprimir, sem entrarmos no domínio do abstrato, o ser que denominamos árvore., em todos os seus aspectos, na sua totalidade. Simultaneamente, ao termo árvore, cada um irá fazer uma imagem própria aos seus contornos conceptivos e que não é retrato fidedigno do ser.

De uma forma habitual as palavras servem para nos indicar o material e visível ou rotulado que existe. Separam objectos ou fragmentam, conceptualizam.

Só a Realidade da abstracção nos consegue transportar para além das palavras. Só por ela podemos transmitir o que não é conceptuável, mas antes vital. Numa meditação conseguimos eventualmente aceder ao mundo abstrato, onde Tudo se revela e podemos abranger o todo do ser. Posteriormente vem a dificuldade de exprimirmos esse mundo em palavras: estas não conseguem descrever, pois não “pertencem” a esse plano que não é conceito.

Os poetas, os pintores, os músicos usam outra linguagem: tentam transmitir-nos através do Belo, da imagem ou do som (os poetas falam por imagem, não é?), a Realidade que os habita.

Noutro contexto: em todo o texto acima falamos de palavras, o que é diferente da Palavra. A Palavra é Sopro criador, cujo reflexo apagado e diminuto é as palavras. Como reflexo, as palavras têm o seu potencial de força neste plano, uma vez que lhes atribuímos importância e com elas acreditamos criar. Na verdade, é o nosso Ser que cria, é a Palavra que cria. Sem a Vontade, as palavras são inertes, sem Realidade criadora.

São as palavras que alimentam a nossa mente e nos habitam. Quantas vezes pensamos ser autónomos, inteligentes, supra-sumos, pois as palavras que cremos formarem ideias rodopiam na nossa cabeça. Quantas vezes nos sentimos exaustos, pois os pensamentos afluem ininterruptamente sem que os consigamos deter? Somos génios?

Em nossa opinião apenas nos deixamos “possuir pelos fantasmas palavras” que nos sugam a energia e nos impedem de aceder ao Silêncio (Realidade Absoluta). Sim, passamos a imagem de altamente intelectuais ou mentais (são apenas palavras), inteligentes, etc..... Rotulamos o mundo que conhecemos. Criamos o medo, o desejo, a ansiedade,  etc, etc., etc. Não vivemos, somos vividos pelas palavras, pelos conceitos, rótulos, que elas nos transmitem. Não somos Livres!

Todo o texto é constituído por palavras, podem dizer-nos... Verdade! Apenas fica a esperança de que através delas e pela reflexão ou meditação constituam trampolim para além delas, para a Palavra do Ser.

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