sexta-feira, 29 de junho de 2012

Reflexões


(Pintura: J W Waterhouse)


No nosso dia-a-dia, andamos sempre a correr. Queixamo-nos sempre de não ter tempo dedicar á família, ao lazer ou mesmo para nós próprios. Porque o trabalho nos ocupa uma parte substancial do dia.  Passamos anos neste corre-corre, e quando atingimos uma certa idade, reparamos que já perdemos uma série de vivências que já não voltam mais.   

Estamos “embriagados” pelo ser rápidos, eficientes, ser os/as melhores, saber  muito (pouco de  nada), ter uma família, uma carreira profissional bem sucedida, , um Iped, … e sabe-se lá mais o quê. Valoriza-se o Outro pela sua posição social, pelo automóvel……. e  muitas outras coisa tão fúteis. 

Por outro lado, a situação cada vez mais difícil do país e a nível mundial tende a piorar e nós “cortamos” cada vez mais em tudo: afectos, tempo, etc,  acabando por não nos ligarmos ao essencial, que são as pessoas. Principalmente os   jovens e menos jovens são forçados a sair do país, pagando um preço muito caro, a ausência da família e dos amigos, para poder ter um nível de vida melhor, ou simplesmente ter um trabalho.  

Os valores estão completamente mudados. O que é verdade hoje, pode ser mentira amanhã. As crianças não têm tempo para brincar ou mesmo ser elas próprias. A tecnologia é o brinquedo delas. É a era da informática a qual dominam, com mestria, desde cedo. Comunicam com as máquinas, mas não o sabem fazer com as pessoas. Estão “rodeados “ em casa, de máquinas como companhia. Certos pais querem que elas sejam o supra sumo, mas isso mais tarde tem consequências gravíssimas. Tornam-se hiperactivas, porque não desgastam a sua energia. Ficam saturados com tanta exigência.

Os conceitos sobre a educação também mudaram. Muitos pais, quase que se “descartam” da sua função principal, educar. Eu penso que tudo começa em casa. Não são as educadoras de infância, nem os professores, ou os familiares que o devam fazer, apesar de o serem também um pouco. Por isso, ser Pai ou Mãe é uma função tão nobre, como difícil. Formar pessoas, exige regras, valores e acima de tudo o respeito pelo outro. Isso verifica-se cada vez menos. O ensino está um descalabro. Os alunos caíram num exagero de falta de respeito pelos professores, que já não têm autoridade.

Penso que com uma geração criada desta forma, não sei a que caminho vamos chegar. São estes adolescentes e jovens que serão o futuro do  pais, e eu penso que será ruinoso. Todos nós temos de mudar completamente. Apesar de tudo, eu tenho esperança, que o nosso Mundo só pode melhorar, se trabalharmos para isso.

Temos o dever de melhorar a nossa relação com a natureza, com o nosso semelhante e sobretudo promover o respeito e a partilha. Com tanto egoísmo, acabamos por nos tornarmos Seres completamente sós, embora rodeados de tecnologia, carros, casas inteligentes, e muito mais.

Apesar deste meu desabafo parecer negativo, não é. É a minha percepção da realidade. Tenho esperança que o nosso Mundo vai melhorar, mas até lá ainda teremos de penar um bocado. Isso só através de uma mudança interior.

Mary Rosas
27.06.12

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Significado da Pascoa III

Continuação do trabalho de João Campos. Sabemos que é longo, mas vale a pena!





Julgamento e Condenação de Jesus



Para quem veio Cristo
Cristo veio para a Europa. Em Roma dá-se um caso extremamente interessante. É o encontro dos dois J.C., o seu nome de homem e o seu futuro nome messiânico; é a aliança de Jesus e de christna. Estas duas letras são as iniciais dos nomes de Júlio César e Jesus Cristo (Crucificado). Estes dois J.C. encontram-se frente a frente. Um, enquanto César romano, possuía tudo; dispunha de inúmeros soldados e de tesouros imensos; além disso, era chefe da sua religião ou Deus encarnado. Quanto ao outro, era um simples estudante, que se lembrava de ter deixado uma vestimenta de luz algures no zodíaco. Este ser possuía como única fortuna as suas ideias e teria podido, se quisesse, contagiar um povo inteiro e conquistar a Europa, Ásia e África. Não o quis, preferiu a pobreza e a fraqueza aparentes da ideia, que desenvolve lenta mas seguramente os cérebros cuja duração é eterna, à força das armas, que embrutece as massas e se prolonga apenas durante um certo tempo.[1]

Uma passagem bíblica relativa aos dois J.C.:

«Pensais que vim espalhar a paz na Terra; não, eu vim lançar a divisão...».

Isto significa que a chegada de Jesus à Terra marca o início da batalha entre os diferentes seres que constituem o homem encarnado. Tudo o que for espiritual subirá para o céu e tudo o que for material irá para a Terra: «(...) Porque, a partir de agora, cinco estarão numa só casa, três divididos contra dois e dois contra três». Ou seja, a alma é atraída pelo anjo para o céu; depois, o carma ou destino, a tentação e o corpo, partem para outro plano.

Outra passagem bíblica: «Dai então a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». E perguntaram a Cristo: «Porque falas em parábolas?» Ao que respondeu: «Que os que têm olhos para ver, vejam, e os que têm ouvidos para ouvir, ouçam». Numa outra situação: «Quem tiver capacidade para compreender, compreenda!»[2]

De seguida, perguntaram a Jesus: «Mestre, sabemos que falas e ensinas com rectidão e que, sem descriminares ninguém, ensinas o caminho de Deus segundo a verdade; é-nos permitido pagar tributo a César ou não?» Cristo percebe a artimanha e responde: «Mostrai-me uma moeda.» E pergunta: «A quem pertence esta imagem e a quem se refere a inscrição?» Responderam: «A César.» Disse-lhe Cristo: «Dai ao rei o que pertence ao rei e dai a Deus o que é de Deus.»
Segundo os gnósticos, ao ver a moeda, Jesus terá dito: «Ela brilha». O primeiro sentido inerente a tal conjectura prende-se com o facto de a moeda brilhar por se encontrar composta de uma liga de prata e de bronze. É preciso separar a prata do bronze para se enviar a primeira para o lado dos metais preciosos e a segunda para junto dos metais inferiores. Ora, a prata escolhida simboliza a alma, nela residindo a virtude celeste; quanto ao bronze, representa o espírito de imitação espiritual unido ao corpo hílico.
 Um outro sentido para a passagem: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Ainda segundo os gnósticos, quando uma alma chega ao Invisível, deparar-se-á com seres que guardam todas as portas e aos quais deverá transmitir uma palavra-passe, que não representa mais do que o balanço de todas as suas acções terrestres. Assim, «Dai a César o que é de César» significa: «Passai aos agentes do destino a palavra de ordem do Mundo ou das vossas más acções». E «Dai a Deus o que Dele vem» significa: «Dai a Deus a palavra que vos permitirá penetrar no paraíso ou as vossas boas acções».[3]

Pedido para soltar Barrabás em vez de Jesus.

O nome Barrabás em Hebraico significa filho de Abás. Pedro era referido por Mateus como "Pedro bar Jonas", isto é, Pedro filho de Jonas. Bar Mitzvah é traduzido literalmente como Filho da Lei. O nome de Barrabás também era Jesus: Jesus Barrabás.

1        A pergunta de Pilatos aos sacerdotes foi "Qual quereis que vos solte? [Jesus] Barrabás, ou Jesus chamado Cristo?"
2        Eles clamaram, é claro, pela libertação de Barrabás, o notório ladrão e assassino.
3        "Que farei então de Jesus, chamado Cristo?", perguntou Pilatos.
4        Eles gritaram "Seja crucificado!"
5        "Hei-de crucificar o vosso rei?", perguntou Pilatos.
6        E aqueles sacerdotes (que odiavam César como só os povos conquistados podiam odiar) disseram a Pilatos "Não temos rei senão o César !"
7        Pilatos enfraqueceu diante daquela ferocidade implacável e entregou Jesus para que o crucificassem. Ele tomou uma bacia de água diante dele, lavou suas mãos nela e anunciou "Estou inocente do sangue deste justo: considerai isso."
8        Pilatos mandou gravar na cruz "Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus".
9        Caifás e os outros sacerdotes foram a Pilatos e pediram "Não escrevas 'Rei dos Judeus', mas que ele disse 'Sou Rei dos Judeus'." E Pilatos respondeu "O que escrevi, escrevi."

Teus inimigos interiores, não se contentando em denunciar-te como criminoso, queriam ainda que fosses crucificado como tal, enquanto que, ao contrário, queriam que Barrabás fosse libertado, isto é, queriam que a graça caísse sobre o culpado e que toda a fúria da vingança, a que chamavam justiça, caísse sobre o inocente.

Novo Homem, absorver aqui as instruções salutares que essa marcha do salvador apresentou à tua inteligência. Suspende em ti mesmo todos os teus poderes espirituais de poder e autoridade, para só pôr em ação teus poderes de resignação. Imola sem cessar em ti o homem inocente, para a libertação do homem culpado ou do Barrabás que carregas em teu íntimo. Enfim, liberta o homem ilusório e passageiro, corajosamente, das mãos dos teus inimigos. Eles próprios serão as vítimas dos males que te farão sofrer. Seu sangue recairá sobre eles e sobre seus Filhos, pois, ao exercer sua raiva sobre o homem ilusório e passageiro, abrirão o caminho ao homem real e regenerado na vida, e esse homem real e regenerado os cobrirá de vergonha e os precipitará nos abismos.

Jesus-Barrabás

A verdade é sempre estranha, mais estranha que a ficção ...
LORDE BYRON, Dom João, XIV
Os evangelhos canônicos nos contam o episódio da substituição de Jesus por um amotinador que fora encarcerado por um assassinato que cometera no curso de uma rebelião, e que por tal motivo também ele fora condenado à crucificação.
"Era costume que o procurador, com ocasião da festa, desse à multidão a liberdade de um detento, que pedissem. Havia então um prisioneiro famoso chamado Barrabás. Estando, pois, reunidos, disse-lhes Pilatos: 'A quem querem que lhes solte? A Barrabás ou ao Jesus, o chamado Messias? Pois sabia que por inveja o entregaram. (...) Eles responderam: 'Ao Barrabás!'..." (Mateus, 27, 15-18, 21).
Alguns detalhes complementares, inclusive com algumas diferenças muito ligeiras, podemos encontrá-los no Marcos (15, 6 a 15), no Lucas (23, 17-19), e no João (18, 39-40). Mas nenhum versículo contribui com contradição alguma a breve narração feita pelo Mateus.
Os manuscritos iniciais que possuímos (e que, recordemo-lo, remontam-se todos ao século IV, como mínimo) transcrevem esse nome de quatro maneiras diferentes: Varaba, Barabas, Barrabás e Bar-Rabban.
Desde onde estas diversas significações:
1 - Bar-rabba ................. Filho do doutor
2 - Bar-rabban ............... Filho de nosso doutor
3 - Bar-Abba .................. Filho do Pai
4 - Bar-Abban ................ Filho de nosso Pai
5 - Bar-Abba .................. Filho de Abba
Observaremos, antes que nada, que não se sabe nenhuma outra coisa deste nome, salvo que, segundo Mateus, era um prisioneiro famoso, segundo Marcos um sedicioso que cometera um assassinato durante um motim, Lucas precisa que esse assassinato fora cometido "na cidade", quer dizer, em Jesus, e João se limita a qualificar de bandido, termo que, com o de "galileu", designava então aos insurretos zelotes em geral.
O nome próprio de Jesus, que Orígenes afirma que era o de Barrabás, vem testemunhado por alguns dos manuscritos mais antigos, como:
a) o Codex Korideth (séculos VII-IX);
b) o Groupe do Minuscules, publicado pelo K. Lake em 1902;
c) o palimpsesto do monastério de Santa Catalina no Monte Sinaí, encontrado pelo Lewis e Gibson, e que se remontaria ao século IV.


Que o leitor se remeta ao capítulo 23, "Jesus-Barrabás", e que releia tudo o que contribuímos sobre a tese negativa da existência concreta desse tal Barrabás. Repetimos, Jesus-Barrabás não é outro que Jesus-bar-Juda. Daí o fato de que seja ignorado em tantos textos ulteriores. [4]

Possivelmente foi em sua casa onde se refugiou Jesus quando fugiu à Fenícia (Mateus, 15, 21). (51) Também poderia ser o mesmo que os Evangelhos canónicos citam como Jesus-bar-Aba ou Barrabás, já que o grande Orígenes assegura que em manuscritos antigos se dava a esse bandido o nome de Jesus. (52)


[1] Tratado das Grandes Tradições do Ocultismo – Papus, pág. 197.
[2] Cf. Mt.19,12. Conferir também Mc 3, 10-12; Mt 12, 10-17.
[3] Tratado das Grandes Tradições do Ocultismo – Papus, pág. 197-198.
[4] Cf. OS SEGREDOS DO GÓLGOTA – Robert Ambelain

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Amor e Alegria




Eu ia perguntar: O que acontece com as emoções positivas, como o amor e a alegria?

Elas são inseparáveis do estado natural de conexão interior com o Ser. Sempre que houver um espaço no fluxo dos pensamentos, podem ocorrer lampejos de amor e alegria, ou breves instantes de uma paz profunda. Para a maioria das pessoas, tais espaços raramente acontecem, e mesmo assim por acaso, nas ocasiões em que a mente fica “sem palavras”, instigada por uma beleza estonteante, uma exaustão física extrema, ou mesmo um grande perigo. De repente instala-se uma serenidade interior. E dentro dessa serenidade existe uma alegria subtil, mas intensa, existe amor, existe paz.

...

Amor, alegria e paz são estados profundos do Ser, ou melhor, três aspectos do estado de ligação com o Ser. Assim, não possuem opositores pela simples razão de que surgem por trás da mente. As emoções, por outro lado, sendo uma parte da mente dualística, estão sujeitas à lei dos opostos. Isso quer dizer, simplesmente, que não se pode ter o bom sem que haja o mau. Portanto, numa condição não iluminada de identificação com a mente, aquilo que algumas vezes é erroneamente chamado alegria é o lado geralmente breve do prazer, dentro da alternância contínua do ciclo sofrimento/prazer. O prazer tem sempre origem em alguma coisa externa a nós, ao passo que a alegria nasce do nosso interior. A mesma coisa que proporciona prazer hoje provocará sofrimento amanhã, ou abandonar-nos-á, e essa ausência causará sofrimento. Do mesmo modo, o que se costuma chamar amor pode ser prazeroso e excitante por um tempo, mas é um apego adicional, uma condição de necessidade extrema, que se pode vir a transformar no oposto, num piscar de olhos. Muitas relações “amorosas”, passada a euforia inicial, oscilam entre o “amor” e o ódio, a atracção e a agressão.

O amor verdadeiro não permite que se sofra. Como poderia? Não se transforma em ódio de repente, assim como a verdadeira alegria não se transforma em sofrimento. Antes de atingirmos a iluminação, antes mesmo de nos libertarmos das nossas mentes, podemos ter lampejos de alegria autêntica, de um amor verdadeiro ou de uma profunda paz interior, tranquila, mas intensamente viva. Esses são aspectos da nossa verdadeira natureza, em geral obscurecida pela mente. Mesmo dentro de uma relação “normal” de dependência, é possível haver momentos onde podemos sentir a presença de algo genuíno, incorruptível. Mas serão somente lampejos, a serem logo encobertos pela interferência da mente. Poderemos ficar com a impressão de que tivemos alguma coisa muita valiosa, mas que se perdeu, ou a mente pode convencer-nos de que tudo não passou de uma ilusão. A verdade é que não foi uma ilusão e também não perdemos nada. Esse algo valioso é parte de nosso estado natural – pode estar encoberto, mas nunca ser destruído pela mente. Mesmo quando o céu está totalmente coberto, o sol não desapareceu. Ainda está lá, por trás das nuvens.


In O Poder do Agora de Eckart Tolle

domingo, 24 de junho de 2012

Uma pergunta.....


Hoje festeja-se uma festa por demais conhecida e já antes abordada e desenvolvida neste blog: o S. João.

A representação nas cascatas populares - Porto, Braga, aqui por Santa Maria de Lamas, etc - e nas imagens que todos conhecemos vemos um S. João acompanhado por um cordeiro, que contêm grande simbolismo.

Assim sendo, porque é que se comem sardinhas pelo S. João?

É o prato tradicional e obrigatório cá pelos lados do Porto.

(El Greco - S. João Baptista)
As conexões que me vêm ao espírito é que a sardinha é o peixe que mais se assemelha à representação crisã do símbolo da Era respectiva: peixes. 

Será? 

Porque a sardinha "trabalhada" se assemelha ao signo do Infinito?

Claro que, em resposta simples e cabal, dir-me-ão, porque a sardinha destes lados é a melhor e tem tradições, pois era o prato dos pobres - tal como o bacalhau, outro peixe bem ligada à cultutra portuguesa. Para não falar já da sardinha do mar de Espinho com sabor único! Mas não quero puxar as brasas à nossa sardinha....

Sim, poderá constituir resposta, à semelhança da imagem dos Pescadores - Apóstolos que pescavam à rede...

A imaginação é fértil....

(Fogueira d S. João)






quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Significado da Páscoa II

Por João Campos




  1. Percurso sobre a Vida e História de Jesus.

Desde o início da Encarnação de Jesus Cristo na Terra que a Sua existência foi sempre vista como um perigo para os poderes terrestres instituídos.
- Anunciação a Maria: aconteceu no 6º mês da concepção de João Baptista (filho de Isabel), em Narazé, Galileia, pelo Anjo Gabriel.[1]
- Herodes
Mas quem é este Jesus e seus pais?
Os nomes de Jesus e Maria estavam inscritos no céu desde a criação da Terra. Com efeito, as letras que compõem o Triângulo da Terra dos Vivos formam a palavra "Isu-Ra" ou "Jesus-Rei". (Jesus é descendente de David - » Rei). A este Trígono do Verbo corresponde o triângulo das Águas Vivas, ou de Maria.[2]
A título de curiosidade, mais um aspecto sobre os nomes dos pais de Jesus. O seu pai chama-se José e sua mãe Maria. Assim, sempre que um enviado da “Morada do Verbo” volta aqui a baixo, tem de se submeter às seguintes leis absolutas[3]:

1º) Será o mais velho de uma família
2º) Seu pai chamar-se-á sempre José
3º) A sua mãe chamar-se-á sempre Maria.

Quando um ser que não preencha estas três condições vier ter convosco afirmando ser Cristo, só tendes uma coisa a fazer: cumprimentá-lo com respeito e ir-vos embora, pois não vem certamente da “Morada" em questão.

Jesus foi circuncidado ao 8º dia[4] e depois apresentado no Templo, tendo sido oferecido um sacrifício de 1 par de rolas ou 2 pombinhos, segundo a Lei do Senhor.[5] (Também aquando do Baptismo o Espírito Santo virá sob a forma de uma pomba sobre Jesus).
Foi aos 12 anos que, segundo uma lenda, Jesus terá encontrado o seu duplo luminoso, o ente de luz, e se fundiram ambos.

Foi também aos 12 anos que, tendo ido celebrar a Páscoa com seus pais a Jerusalém, Jesus foi encontrado 3 dias depois a ouvir e a interrogar os Doutores da Lei no Templo.[6]
Em Israel existiam três seitas principais, que poderiam ser comparadas actualmente aos católicos ortodoxos (a), aos reformistas ou modernistas (b) e aos católicos iniciados (c), se os houvesse. Estas três seitas eram conhecidas pelos nomes de “Fariseus”, “saduceus” e “essénios”. [7]
(a) Os fariseus eram sobretudo burgueses, que se deslocavam ao Templo ao Sábado e que aí faziam tudo o que queriam. Se necessário, iam à Casa do Senhor até para venderem. E quando viam um profeta, apedrejavam-no e crivavam-no de facadas, consoante as épocas.
(b) Os saduceus eram filósofos, cépticos ou materialistas. Em geral, não acreditavam em nada ou apenas em muito pouca coisa.
(c) Os essénios eram místicos e "monges" se tal pudesse ser associado ao judaísmo. Constituíam uma irmandade laica que se assemelhava bastante à dos Pitagóricos”. Os essénios eram os únicos a possuir o conhecimento exacto da língua hebraica. Note-se que, cerca de 500 a.c., já não se sabia traduzir Moisés. Como membros de uma sociedade secreta, os essénios possuíam juramentos, sinais de reconhecimento, vestimentas especiais e seguiam uma dieta determinada. Comunicavam secretamente com os membros de outras ordens esotéricas.
Foi com os essénios que Jesus recebeu instrução sobre as coisas deste mundo.

Depois, nada se sabe acerca de Jesus até aos 30 anos de idade, excepto que “Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens[8]”.

Aqui temos então a Pregação de João Baptista que anunciava a vinda do Salvador.
Foi por volta dos 30 anos de idade que Jesus foi baptizado por João Baptista, o seu precursor, no Rio Jordão. Jesus encontrava-se na fila dos pecadores, é o último de todos, achava-se em oração e quando foi baptizado o Céu se abriu e o Espírito Santo desceu em forma corporal como uma Pomba (princípio feminino)[9]. Jesus foi impelido pelo Espírito para o Deserto onde foi tentado durante 40 dias e 40 noites pelo Diabo. Por esta altura, dá-se a execução de João Baptista. Não podia existir dois "sóis" na Terra. Um tem de desaparecer para que o outro possa emergir. É por esta altura que Jesus dá início ao seu Ministério na Galileia.

O resto da história é conhecido. Jesus iniciou a pregação de uma nova doutrina. Sucedem-se os escolhidos, os convertidos, os escandalizados, os milagres, etc...

Importa aqui referir que a evolução religiosa de um povo se efectua sempre segundo quatro fases:[10]

1)    Promulgação dos livros dogmáticos;
2)    Comentários humanos desses escritos;
3)    Negação da revelação pela cabeça;
4)    Regresso à revelação pelo coração.

Continuando a contar a história...
Jesus entra em Jerusalém montado num jumentinho – Ego dominado, a parte animal dominada.

Jesus chora sobre Jerusalém.

Jesus celebra a Páscoa[11] (cerimónia do Lava-pés).

Jesus instituiu a Sagrada Eucaristia na refeição que ficou conhecida como a Última Ceia, na quinta-feira com os seus discípulos, onde Jesus anuncia que aquele que o irá trair e entregar está com Ele à mesa. Jesus é, de acordo com as Escrituras, entregue por Judas Iscariotes[12] aos chefes dos sacerdotes, escribas e dos anciãos do povo.[13] Jesus disse-lhe: «faz o que tens a fazer».

Papel de Judas: Uma trintena de almas vindas dos mundos celestes tinha efectivamente encarnado ao mesmo tempo que Cristo. É assim que a alma de João Baptista foi a de Elias reencarnado. Ao começar a sua vida pública, uma após outra, Jesus reencontrou essas almas, tendo feito delas os seus discípulos predilectos. Apenas uma o traiu. Esse pobre espírito, que foi bem castigado por ter concretizado em actos humanos as palavras que havia pronunciado do outro lado: «Sei que Jesus vai descer e desafio o céu a deixar Cristo encarnar.» Oxalá o Pai lhe tenha perdoado, dado que lhe foi permitido envergar uma roupagem terrestre para cumprir a traição que tinha projectado.

Jesus encontra-se no Getsemani ou Jardim das Oliveiras em agonia e em oração quando chega Judas e O assinala à multidão com um beijo na face, tal como combinado com os chefes dos sacerdotes, escribas e dos anciãos do povo.

É depois levado perante o Sumo-sacerdote (Sinédrio), Pôncio Pilatos, Herodes Antipas (filho de Herodes, o Grande) e novamente Pôncio Pilatos.[14] Refere o evangelista Lucas que Pilatos e Herodes Antipas ficaram amigos entre si, uma vez que antes eram inimigos.

(a continuar)


[1] Cf. Lc 1, 26-38.
[2] Tratado das Grandes Tradições do Ocultismo – Papus, pág. 171.
[3] Tratado das Grandes Tradições do Ocultismo – Papus, pág. 190-191.
[4] Cf. Lc 2, 21.
[5] Cf. Lc 2, 22-24.
[6] Cf. Lc 2, 41-50.
[7] Tratado das Grandes Tradições do Ocultismo – Papus, pág. 192 – 193.
[8] Cf. Lc 2,51-52.
[9] Cf. Lc 3, 21-22.
[10] Tratado das Grandes Tradições do Ocultismo – Papus, pág. 170.
[11] Cf. MT 26, 17, nota C.
[12] Cf. Mt 26, 20-25; Mt 26, 47-50.
[13] Cf.
[14] Lc 22,66; 23,25.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um autor, algumas questões



Muitas perguntas têm sido postas sobre a veracidade e origem de textos chave e em que nos apoiamos. Abaixo excertos da obra de um autor, Stanislas de Guaita que poderá eventualmente responder a algumas questões:

“E eu, que sou relativamente versado em Química, não me admiro ao ver até que ponto os alquimistas eram sábios verdadeiros; com certeza, a pedra filosofal não é um embuste. A ciência mais contemporânea e mais esclarecida tende a confirmar hoje as geniais hipóteses dos magos de 6 mil anos atrás. Não é maravilhoso? Profetizaram que tudo vem da luz. Ora, o que diz a ciência? Luz, calor, movimento (vibração), magnetismo, eletricidade, pensamento... tudo isso é idêntico! E os magos também profetizaram a unidade da matéria, o que a ciência acaba de confirmar. “

Este homem, cuja mãe era católica romana professa, poderá responder a algumas questões que tantas vezes ouvimos levantar no Caminho:

Ela não entendia a independência religiosa do filho e temia pela sua condenação eterna. "Confesso a divindade do Cristo-Espírito", escrevia-lhe o filho, "e professo o cristianismo universal ou Catolicismo... (1890)... Creio em Deus e na Providência e não há um dia em que eu não eleve várias vezes minha alma em direção da Absoluta Bondade ou meu espírito em direção da Verdade Absoluta. O que desejas mais?"


Continuando nesta linha, uma das palavras que aplicamos e que tem provocado algumas incompreensões é o termo “esotérico” e “esoterismo”. Passamos a dar a definição do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa:

Esoterismo: Doutrina ou conjunto de princípios secretos que certos filósofos da Antiguidade apenas comunicavam aos seus discípulos mais instruídos, aos iniciados; Característica do que é impenetrável, enigmático; sinónimos: Hermetismo, Ocultismo”.

Definindo ainda estes termos:
"O Hermetismo é uma síntese radical", diz Guaita a Wirth, "absoluta, precisa como as Matemáticas e profunda como as próprias leis da existência. É uma doutrina nítida, concluída; em uma palavra, é uma Ciência que circunscreve outras, apta a conciliá-las, englobando-as no seu seio. - E o Misticismo, o que é? É uma doutrina? É um sistema? É somente uma hipótese? - Não. É uma tendência do Pensamento, e nada mais; é um estado de alma ou de espírito que facilita ou que entrava - e aqui não é o caso - o estudo dos grandes problemas metafísicos...

"Cada um tem as suas preferências de temperamento, a sua ideia de religião, de estética, de concepção cerebral - e se sois de natureza a portar as belas fantasias dos místicos aos êxtases passivos da contemplação, aos ferventes voos da oração, cometeríeis o maior erro em forçar as vossas tendências, doravante desviadas para um objectivo que não se encontra mais no balanço do vosso futuro intelectual. Sonhai, pois, e orai; vossa colheita será bela; não tereis por que vos lastimar.

Dada a Beleza, não resistimos a deixar um trecho do Livro “No Umbral do Mistério” de Stanislas de Guaita.

“Cansado de buscar, em vão, a substância sob o véu das formas que ela assume, e de chocar-se incessantemente contra a muralha das aparências formais, consciente de um enorme além, o menos místico dos pensadores quis, certo dia, sondar os arcanos do mundo extra-sensível. Assim, subiu a montanha até ao templo do mistério, chegando ao seu limiar. Ora, as gerações anteriores a ele assediaram o santuário sem jamais descobrir nele uma única porta. Renunciando a esse sol interior que faz florir, nos vitrais, rosáceas de luz, não conservaram nada além do ofuscamento de sua miragem eterna. Os solicitadores degraus do templo terminam no granito inóspito das muralhas. No frontão, acham-se gravadas duas palavras que provocam o calafrio das coisas desconhecidas: "SCIRE NEFAS".
Um subterrâneo cuja chave está perdida abre-se em algum ponto do vale. Costuma-se dizer que, no decorrer dos séculos, alguns raros audaciosos souberam forçar o segredo do subterrâneo, onde se cortam inúmeras galerias entrelaçadas: lá jaz o inexorável ministro de uma lei incontestável. O antigo guardião dos mistérios, a Esfinge simbólica, ergue-se sobre o umbral e propõe o enigma oculto: "Treme, Filho da Terra, se tuas mãos não são brancas diante do Senhor! Iod-Heve aconselha apenas aos seus. Ele próprio conduz o adepto pela mão até ao tabernáculo da sua glória. O temerário profano, porém, afasta-se infalivelmente e encontra a morte nas trevas do bárathro. Que aguardas? Recuar é impossível. Deves escolher teu caminho pelo labirinto. Cabe-te decifrar ou morrer..."

terça-feira, 12 de junho de 2012

Significado da Páscoa

Este trabalho magnificamente desenvolvido por João Campos, no âmbito da Actividade Meditação, será publicado por excertos devido à sua extensão.


Assim, aqui temos a I Parte:





  1. Enquadramento
A festa cristã da Páscoa tem origem na festa judaica “Pessach”, mas possui um significado diferente. Enquanto que para o Judaísmo “Pessach” representa a comemoração da libertação e fuga do povo de Israel do Egipto para a Terra Prometida, no Cristianismo a Páscoa é a festa maior que celebra a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
A palavra “Páscoa” provém do nome em hebraico da festa judaica à qual a Páscoa cristã está intimamente ligada, não só pelo sentido simbólico de “passagem” comum nas celebrações pagãs (passagem do Inverno – Primavera) e judaicas (da Escravatura no Egipto para a Liberdade na Terra Prometida), mas também pela posição da Páscoa no calendário.
Assim, as festas cristãs podem ser fixas ou móveis. As festividades cristãs estão relacionadas com o ciclo dos astros através do espaço.[1]  São cerca de 14 festas fixas e 10 festas móveis, reguladas pela data da Páscoa, que também é móvel, e que é a festa eclesiástica reguladora das restantes festas móveis do ano.

  1. Significado Cósmico da Páscoa
 Do ponto de vista cósmico, a fixação da Páscoa para os judeus e cristãos baseia-se na Lua Cheia posterior à entrada do Sol em Carneiro, com a diferença de os judeus a celebrarem no próprio dia e os cristãos no Domingo seguinte. O Domingo, do latim “Domini Dies”, o dia do Sol, é considerado o dia da ressurreição do Senhor.
Embora as Igrejas Católica Romana e Anglicana da Inglaterra observem estas solenidades, pouquíssimas pessoas guardam algum conceito sobre o significado espiritual das mesmas, tendo-se o seu significado interno perdido amplamente.
Estas festas religiosas estão relacionadas com o ciclo do Cristo Cósmico ao longo do ano tendo como pontos cardeais os Solstícios de Verão e Inverno e os Equinócios de Primavera e Outono. Nos Equinócios o dia e a noite têm a mesma duração. No Solstício de Inverno, a noite é mais longa e no Solstício de Verão o dia é maior do que a noite.
Os solstícios marcam o momento em que a vibração terrestre é mais elevada, e em que os Raios Cósmicos da Vida Crística estão a entrar profundamente (Solstício de Inverno) ou a sair definitivamente (Solstício de Verão).[2] A título de curiosidade, segundo Corinne Heline, autora rosacruciana, o período de 12 dias que decorre após a festividade solsticial do Natal, entre o Dia 26 de Dezembro e o dia 6 de Janeiro é um período de profundo significado esotérico e constitui o «coração espiritual» do ano que vai seguir-se: é o lugar-tempo mais sagrado de cada ano que entra, designa-se por «Os Doze Dias Sagrados» e está sob a influência directa das Doze Hierarquias Zodiacais, que projectam sobre o planeta Terra, sucessivamente e durante cada um desses 12 dias, um modelo de perfeição tal como o mundo será quando a obra conjugada das Doze Hierarquias por fim se completar[3].
Segundo alguns historiadores, estaria na associação de Cristo com o «Sol de Justiça» a escolha do Solstício de Inverno para celebrar o «nascimento do Sol invencível», Natalis Solis Invicti, um ritual pagão (Saturnalia) que festejava, com ritos de alegria e troca de prendas, desde o dia 17 de Dezembro e até ao dia 25, o momento em que o Sol «cresce», ou renasce, após o dia ter atingido a sua duração mais curta (21-22 de Dezembro). Com efeito, nessa data o Sol atinge a sua declinação-Sul máxima, cerca de 23º 26’, estacionando nela durante três dias e retomando o «caminho do Norte» a partir do dia 24 ou 25.
A data de 25 de Dezembro era igualmente o data do nascimento do deus Mithra, dos Mistérios Iranianos. Mithra era designado por «Sol de Justiça» — ou melhor. «Sol de Justeza» —, provavelmente por alguma influência do antigo Egipto. Reza uma antiga lenda que Moisés foi instruído e iniciado na grande Escola de Mistérios de Heliópolis, a cidade sagrada perto de Mênfis a que os Egípcios chamavam On ou Annu. Não surpreende, portanto, que o símbolo solar de Râ, o Esplendor Alado, se tenha mantido na tradição hebraica e nas áreas afins do Médio Oriente, como nos testemunha o profeta Malaquias, ao afirmar que «o Sol de Justeza se erguerá com a salvação nas suas asas [ou: nos seus raios]».[4]
Assim, o percurso solar ao longo do ano marca os «passos iniciáticos» do percurso de Cristo e, ao mesmo tempo, marca os pontos fulcrais da liturgia ao longo do ano, em referência  às «provas» cíclicas por que tem de passar todo o ser humano na sua via evolutiva.
Esta sucessão de eventos ao longo do ano tem uma correspondência com o nosso trabalho de desenvolvimento interno ao longo do ano. Assim, do ponto de vista astronómico, tendo em conta o lugar geográfico em que nos encontramos, o primeiro trabalho do Neófito – a Preparação através da Purificação – é o trabalho do Equinócio de Outono. O Segundo Trabalho – Dedicação – pertence ao Solstício de Inverno. O Terceiro Trabalho – Ressurreição (transmutação, nova vida) – ao Equinócio da Primavera. E o Quarto Trabalho – Consumação (Transformação) – pertence ao Solstício de Verão.
O Cristo é um Ser Cósmico e a Sua Vida está marcada por caracteres estelares. A Iniciação dos Mistérios Cristãos é também um processo cósmico que acelera a Evolução Humana, estando relacionada com o Ciclo Crístico ao longo do Ano Solar.[5]
Ao atravessar o Equador no Equinócio da Primavera no Hemisfério Norte (Outono no Hemisfério Sul), o Sol se encontra em Carneiro, no Nó Oriental. Dá-se a simbólica e cósmica Crucificação do Salvador. Quando o Sol em 21 de Dezembro entra em Capricórnio (signo regido por Saturno, daí os Saturnalia), os poderes das trevas de certo modo tomam conta do «Dador da Vida», mas dá-se o renascimento após os três dias de «paragem» (sol-stitium = sol + sistere, suster, parar), ou seja, o dia 25 marca o termo do «ciclo solsticial».
A partir do dia 26 de Dezembro inicia-se um segundo ciclo de especial significado iniciático: entre o dia 26 de Dezembro (1.º Dia Sagrado) e o dia 6 de janeiro (12.º Dia Sagrado) ocorria a preparação ritual dos catecúmenos que eram baptizados no Dia de Reis (Primeira Iniciação). Estes «Doze Dias Sagrados», que acompanham a fase inicial do renascimento do «Sol Invencível», estavam sob a protecção das Hierarquias Celestes que tradicionalmente regem os 12 Signos do Zodíaco.
Razão cosmográfica para o Sol ficar aparentemente “parado” durante 3 dias aquando dos Solstícios.
De uma forma geral e com pequenas variações de ano para ano, o Sol atinge a sua declinação-Norte, máxima (cerca de 23º 26'-Norte) no mês de Junho entre os dias 20-24, e a sua declinação-Sul, máxima (cerca de 23º 26'-Sul) no mês de Dezembro entre os dias 20-24. A Astrologia funciona em projecção geocêntrica, e a declinação dá-nos a maior ou menor angulação que o astro considerado faz com o Equador, tal como visto da Terra. Assim, à medida que os dias se vão aproximando de Junho, a declinação do Sol vai aumentando: passa de 0º em 21-22 de Março até atingir um máximo de 23º 26' em 20-21 de Junho: então parece que fica «parado» cerca de três dias nos 23º 26' (daí o verbo sistere, que compõe «solstício»), e a partir do dia 24-25 volta «para trás» e os dias começam a diminuir. Em Agosto, por exemplo, já está nos 17º e depois decresce para 16º, 15º, etc, até que chega novamente aos 0º, ou seja, o momento em que «cruza» o Equador para passar do norte para o sul. Nesta «descida», os 0º ocorrem por volta de 22-23 de Setembro, e neste caso o dia é igual à noite (Equinócio). Em Dezembro ocorre o mesmo fenómeno mas em sentido inverso: quando chegamos ao dia 21 o Sol atinge a declinação-Sul máxima, e fica cerca de três dias «parado» nos 23º 26', até que depois começa a «subir» e os dias vão aumentando a pouco e pouco. Ou seja, no momento do Solstício atinge-se o máximo de «nocturnidade», que dura (em projecção aparente) três dias, iniciando-se o renascimento da Luz a partir de 24-25 de Dezembro.[6]
Em seguida o Sol passa por Aquário, ou Aguadeiro (chuvas; saturnino mas também urânico). Quando chega a Peixes (regido por Júpiter), por altura sensivelmente do Carnaval, é o «adeus à carne» (caro, carnis, vale!), a Quaresma, o jejum, a alimentação a peixe: é um período jupiteriano, ou jovial, mas também neptuniano ou de elevação espiritual, pois, segundo a Astrologia clássica Neptuno, regente do signo Peixes, é o planeta da Divindade, da consciência cósmica, das influências de entidades suprafísicas; é a oitava superior de Mercúrio e o seu raio espiritual é o Azoth (termo técnico designativo do 4.º princípio alquímico, o Espírito Todo-Abrangente), e representa todos os Seres Superiores que ajudam a humanidade desde os planos invisíveis.
A passagem do Sol por Carneiro (regido por Marte) simboliza o cordeiro Pascal, o Cordeiro de Deus que é sacrificado pela Salvação do Mundo, morte na cruz, o ferro da lança de Longinus, é o momento do Equinócio da Primavera (21-22 de Março: declinação de 0º)[7] quando o Sol cruza o Equador celeste de Sul para Norte, voltando a alumiar os céus setentrionais, dando-se assim a passagem para Touro (regido por Vénus), símbolo do amor e da subida ao Reino dos Céus, ou regresso à «Casa do Pai». Toda esta «liturgia» culmina em pleno no Ritual do Solstício de Verão (21-22 de Junho). A liturgia cristã associa este tempo ao festejo de S. João o Baptista, o Precursor (24 de Junho), que antecede e anuncia o Solstício seguinte, o de Inverno, ou o Natal do Cristo: daí as palavras de João o Baptista: «Fui enviado adiante d’Ele» (João 3, 28) e «Ele há-de crescer, e eu diminuir» (João 3, 30).[8]
O equinócio da Primavera é um dos pontos culminantes do ano para o discípulo. Suas notas-chave são Liberdade e Emancipação, que lhe facultam a expansão da Vida. Nesta época o Cristo Cósmico é libertado da Terra a qual serviu com bondade durante  os meses invernais (no Hemisfério norte), ascendendo aos elevados planos espirituais. É uma época propícia para o discípulo avançado  romper os atavismos mundanos que limitam a sua entrada nos planos espirituais.[9]
Os mais sagrados rituais observados pelos homens estão relacionados com as mudanças das estações. O Santo Espírito da Primavera tem sido exaltado pelos poetas quando o esplendor verdejante e florido da Natureza evidencia o regresso das forças de vida, respondendo triunfantemente ao impulso da Ressurreição Cósmica. [10]
No Hemisfério Sul essa explosão de Vida exaltada na Primavera ocorre em Balança, coincidindo com o Regresso de Cristo em direcção à Terra.
Tal culminação primaveril, notada no Hemisfério Norte quando o Sol entra em Carneiro culmina em Abril que tem sido designado o mês da Ressurreição.
Tanto no Norte como no Sul, ainda que as estações sejam opostas, os influxos quer físicos quer espirituais, decorrentes da distância focal da Terra ao Sol, são idênticos.




Os hebreus celebravam a Páscoa comemorando a libertação do Egipto sob a direcção de Moisés; para eles a Páscoa calha no dia 14 do mês de Nisan[11], ou seja, o dia da Lua Cheia do primeiro mês do ano religioso. Deve ter-se em conta que o Sol esteja no Signo de Carneiro, como indica as seguintes passagens do Antigo Testamento: Números 9:15; 2ª Crónicas 8:13; 2ª Crónicas 30:1-22; 2ª Reis 23:21-23; e Esdras 6:19-22.[12]
Por sua vez a Páscoa cristã acabou por ficar definida, pela Igreja, de acordo com a data adoptada pelas primitivas comunidades iniciáticas cristãs, e que envolve uma relação Soli-Lunar: celebra-se no primeiro Domingo após a primeira Lua cheia após o Equinócio da Primavera. Esta relação, de um ponto de vista esotérico, era importante para simbolizar o significado cósmico desse evento: o Sol e a Lua são igualmente indispensáveis, pois não se trata apenas dum festival solar. O Sol tem de «cruzar» o Equador (Crucificação), como o faz no Equinócio Vernal, mas a sua luz tem de se reflectir na terra através da Lua cheia, antes que a Ressurreição (iniciática) possa ocorrer. Isto significa que a humanidade ainda não atingiu o grau de evolução suficiente para receber em pleno a «Religião do Sol», do Cristo-Logos (Cristo Cósmico), ou seja, da «Irmandade Universal», e que ainda precisa das Leis dadas pelas Religiões Lunares, diversificadas consoante as raças, nações, etc.[13]
A Sexta-feira Santa é observada na Sexta-feira anterior ao Domingo de Páscoa. É observada a penitência pelos Cristãos Ortodoxos, que focalizam os seus pensamentos sobre o sofrimento e a crucificação de Nosso Salvador. Os Místicos Cristãos, entretanto, observam com júbilo este santo dia, por simbolizar a liberação do Cristo Cósmico dos limites físicos da Terra, na qual esteve confinado  durante meio ano em amoroso sacrifício pela Humanidade. Os Místicos Cristãos compreendem que Seu sacrifício e a ressurreição constituem um serviço redentor pela Humanidade, que será contínuo até que a Humanidade como um todo possa emergir espiritualmente livre das consequências da alegórica Queda, descrita no livro de Enoch, imposta pelos Lucíferos, que abriram precocemente a percepção humana aos planos externos.
O Sagrado Rito da Eucaristia na Sexta-feira Santa simboliza a Nova Aliança do Novo Testamento, onde Cristo como Espírito Interno da Terra salva o Mundo propiciando a fecundação da vida no planeta e impulsiona o nascimento do Cristo Interno no coração dos homens.
Trinta e nove dias após a Páscoa celebra-se a Ascensão do Senhor que geralmente ocorre de Touro para Gémeos, em Maio ou Junho. Próximo a esta época, quando o Sol transita de Touro a Gémeos, as Hierarquias Celestes celebram a glória do Redentor em sua ascensão aos Reinos Espirituais. Como a Natureza está em harmonia com as correntes ascendentes de Cristo, durante os quarenta dias entre a Ressurreição e a Ascensão, tal período constitui uma época intensamente auspiciosa para o discípulo, que pode despertar interiormente os poderes espirituais no Caminho do Verdadeiro Discipulado.
Quarenta e nove dias após a Páscoa comemora-se a Festa de Pentecostes, que sintetiza as experiências místicas  dos primeiros discípulos que viveram em íntima comunhão com o Senhor Cristo durante o período de Seu ministério.[14]

(A continuar)

[1]  O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel.
[2] Corinne Heline, New Age Bible Interpretation, vol. V, 5th ed. revised, New Age Press, 1984,. pp. 87-88.
[3] Corinne Heline, New Age Bible Interpretation, vol. VII: «Mystery of the Christos», 6h printing., New Age Press, 1988,. pp. 8-19.
[4] Malaquias 3, 20 [4, 2]
[5] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel
[6] Os Solstícios e Equinócios – António de Macedo.
[7] Nos tempos pré-cristãos celebrava-se nesta época o regresso da Primavera e a vitória da Luz  sobre as trevas.[7]
[8] Os Solstícios e Equinócios – António de Macedo.
[9] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel
[10] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel
[11] Esta data celebrava o facto de os Judeus, ao tempo em que estavam no Egipto, terem sido poupados às forças da destruição do «Anjo Exterminador» que matou todos os primogénitos egípcios, incluindo o filho do faraó. O Anjo disse ao Judeus que fizessem nas suas portas uma marca com o «sangue do cordeiro», para significar que eram filhos de Deus, e a devastação sobre o Egipto passou pelas casas deles sem os afectar (Êxodo 12, 15-51).
[12] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel
[13] Os Solstícios e Equinócios – António de Macedo.
[14] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel.