terça-feira, 12 de junho de 2012

Significado da Páscoa

Este trabalho magnificamente desenvolvido por João Campos, no âmbito da Actividade Meditação, será publicado por excertos devido à sua extensão.


Assim, aqui temos a I Parte:





  1. Enquadramento
A festa cristã da Páscoa tem origem na festa judaica “Pessach”, mas possui um significado diferente. Enquanto que para o Judaísmo “Pessach” representa a comemoração da libertação e fuga do povo de Israel do Egipto para a Terra Prometida, no Cristianismo a Páscoa é a festa maior que celebra a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
A palavra “Páscoa” provém do nome em hebraico da festa judaica à qual a Páscoa cristã está intimamente ligada, não só pelo sentido simbólico de “passagem” comum nas celebrações pagãs (passagem do Inverno – Primavera) e judaicas (da Escravatura no Egipto para a Liberdade na Terra Prometida), mas também pela posição da Páscoa no calendário.
Assim, as festas cristãs podem ser fixas ou móveis. As festividades cristãs estão relacionadas com o ciclo dos astros através do espaço.[1]  São cerca de 14 festas fixas e 10 festas móveis, reguladas pela data da Páscoa, que também é móvel, e que é a festa eclesiástica reguladora das restantes festas móveis do ano.

  1. Significado Cósmico da Páscoa
 Do ponto de vista cósmico, a fixação da Páscoa para os judeus e cristãos baseia-se na Lua Cheia posterior à entrada do Sol em Carneiro, com a diferença de os judeus a celebrarem no próprio dia e os cristãos no Domingo seguinte. O Domingo, do latim “Domini Dies”, o dia do Sol, é considerado o dia da ressurreição do Senhor.
Embora as Igrejas Católica Romana e Anglicana da Inglaterra observem estas solenidades, pouquíssimas pessoas guardam algum conceito sobre o significado espiritual das mesmas, tendo-se o seu significado interno perdido amplamente.
Estas festas religiosas estão relacionadas com o ciclo do Cristo Cósmico ao longo do ano tendo como pontos cardeais os Solstícios de Verão e Inverno e os Equinócios de Primavera e Outono. Nos Equinócios o dia e a noite têm a mesma duração. No Solstício de Inverno, a noite é mais longa e no Solstício de Verão o dia é maior do que a noite.
Os solstícios marcam o momento em que a vibração terrestre é mais elevada, e em que os Raios Cósmicos da Vida Crística estão a entrar profundamente (Solstício de Inverno) ou a sair definitivamente (Solstício de Verão).[2] A título de curiosidade, segundo Corinne Heline, autora rosacruciana, o período de 12 dias que decorre após a festividade solsticial do Natal, entre o Dia 26 de Dezembro e o dia 6 de Janeiro é um período de profundo significado esotérico e constitui o «coração espiritual» do ano que vai seguir-se: é o lugar-tempo mais sagrado de cada ano que entra, designa-se por «Os Doze Dias Sagrados» e está sob a influência directa das Doze Hierarquias Zodiacais, que projectam sobre o planeta Terra, sucessivamente e durante cada um desses 12 dias, um modelo de perfeição tal como o mundo será quando a obra conjugada das Doze Hierarquias por fim se completar[3].
Segundo alguns historiadores, estaria na associação de Cristo com o «Sol de Justiça» a escolha do Solstício de Inverno para celebrar o «nascimento do Sol invencível», Natalis Solis Invicti, um ritual pagão (Saturnalia) que festejava, com ritos de alegria e troca de prendas, desde o dia 17 de Dezembro e até ao dia 25, o momento em que o Sol «cresce», ou renasce, após o dia ter atingido a sua duração mais curta (21-22 de Dezembro). Com efeito, nessa data o Sol atinge a sua declinação-Sul máxima, cerca de 23º 26’, estacionando nela durante três dias e retomando o «caminho do Norte» a partir do dia 24 ou 25.
A data de 25 de Dezembro era igualmente o data do nascimento do deus Mithra, dos Mistérios Iranianos. Mithra era designado por «Sol de Justiça» — ou melhor. «Sol de Justeza» —, provavelmente por alguma influência do antigo Egipto. Reza uma antiga lenda que Moisés foi instruído e iniciado na grande Escola de Mistérios de Heliópolis, a cidade sagrada perto de Mênfis a que os Egípcios chamavam On ou Annu. Não surpreende, portanto, que o símbolo solar de Râ, o Esplendor Alado, se tenha mantido na tradição hebraica e nas áreas afins do Médio Oriente, como nos testemunha o profeta Malaquias, ao afirmar que «o Sol de Justeza se erguerá com a salvação nas suas asas [ou: nos seus raios]».[4]
Assim, o percurso solar ao longo do ano marca os «passos iniciáticos» do percurso de Cristo e, ao mesmo tempo, marca os pontos fulcrais da liturgia ao longo do ano, em referência  às «provas» cíclicas por que tem de passar todo o ser humano na sua via evolutiva.
Esta sucessão de eventos ao longo do ano tem uma correspondência com o nosso trabalho de desenvolvimento interno ao longo do ano. Assim, do ponto de vista astronómico, tendo em conta o lugar geográfico em que nos encontramos, o primeiro trabalho do Neófito – a Preparação através da Purificação – é o trabalho do Equinócio de Outono. O Segundo Trabalho – Dedicação – pertence ao Solstício de Inverno. O Terceiro Trabalho – Ressurreição (transmutação, nova vida) – ao Equinócio da Primavera. E o Quarto Trabalho – Consumação (Transformação) – pertence ao Solstício de Verão.
O Cristo é um Ser Cósmico e a Sua Vida está marcada por caracteres estelares. A Iniciação dos Mistérios Cristãos é também um processo cósmico que acelera a Evolução Humana, estando relacionada com o Ciclo Crístico ao longo do Ano Solar.[5]
Ao atravessar o Equador no Equinócio da Primavera no Hemisfério Norte (Outono no Hemisfério Sul), o Sol se encontra em Carneiro, no Nó Oriental. Dá-se a simbólica e cósmica Crucificação do Salvador. Quando o Sol em 21 de Dezembro entra em Capricórnio (signo regido por Saturno, daí os Saturnalia), os poderes das trevas de certo modo tomam conta do «Dador da Vida», mas dá-se o renascimento após os três dias de «paragem» (sol-stitium = sol + sistere, suster, parar), ou seja, o dia 25 marca o termo do «ciclo solsticial».
A partir do dia 26 de Dezembro inicia-se um segundo ciclo de especial significado iniciático: entre o dia 26 de Dezembro (1.º Dia Sagrado) e o dia 6 de janeiro (12.º Dia Sagrado) ocorria a preparação ritual dos catecúmenos que eram baptizados no Dia de Reis (Primeira Iniciação). Estes «Doze Dias Sagrados», que acompanham a fase inicial do renascimento do «Sol Invencível», estavam sob a protecção das Hierarquias Celestes que tradicionalmente regem os 12 Signos do Zodíaco.
Razão cosmográfica para o Sol ficar aparentemente “parado” durante 3 dias aquando dos Solstícios.
De uma forma geral e com pequenas variações de ano para ano, o Sol atinge a sua declinação-Norte, máxima (cerca de 23º 26'-Norte) no mês de Junho entre os dias 20-24, e a sua declinação-Sul, máxima (cerca de 23º 26'-Sul) no mês de Dezembro entre os dias 20-24. A Astrologia funciona em projecção geocêntrica, e a declinação dá-nos a maior ou menor angulação que o astro considerado faz com o Equador, tal como visto da Terra. Assim, à medida que os dias se vão aproximando de Junho, a declinação do Sol vai aumentando: passa de 0º em 21-22 de Março até atingir um máximo de 23º 26' em 20-21 de Junho: então parece que fica «parado» cerca de três dias nos 23º 26' (daí o verbo sistere, que compõe «solstício»), e a partir do dia 24-25 volta «para trás» e os dias começam a diminuir. Em Agosto, por exemplo, já está nos 17º e depois decresce para 16º, 15º, etc, até que chega novamente aos 0º, ou seja, o momento em que «cruza» o Equador para passar do norte para o sul. Nesta «descida», os 0º ocorrem por volta de 22-23 de Setembro, e neste caso o dia é igual à noite (Equinócio). Em Dezembro ocorre o mesmo fenómeno mas em sentido inverso: quando chegamos ao dia 21 o Sol atinge a declinação-Sul máxima, e fica cerca de três dias «parado» nos 23º 26', até que depois começa a «subir» e os dias vão aumentando a pouco e pouco. Ou seja, no momento do Solstício atinge-se o máximo de «nocturnidade», que dura (em projecção aparente) três dias, iniciando-se o renascimento da Luz a partir de 24-25 de Dezembro.[6]
Em seguida o Sol passa por Aquário, ou Aguadeiro (chuvas; saturnino mas também urânico). Quando chega a Peixes (regido por Júpiter), por altura sensivelmente do Carnaval, é o «adeus à carne» (caro, carnis, vale!), a Quaresma, o jejum, a alimentação a peixe: é um período jupiteriano, ou jovial, mas também neptuniano ou de elevação espiritual, pois, segundo a Astrologia clássica Neptuno, regente do signo Peixes, é o planeta da Divindade, da consciência cósmica, das influências de entidades suprafísicas; é a oitava superior de Mercúrio e o seu raio espiritual é o Azoth (termo técnico designativo do 4.º princípio alquímico, o Espírito Todo-Abrangente), e representa todos os Seres Superiores que ajudam a humanidade desde os planos invisíveis.
A passagem do Sol por Carneiro (regido por Marte) simboliza o cordeiro Pascal, o Cordeiro de Deus que é sacrificado pela Salvação do Mundo, morte na cruz, o ferro da lança de Longinus, é o momento do Equinócio da Primavera (21-22 de Março: declinação de 0º)[7] quando o Sol cruza o Equador celeste de Sul para Norte, voltando a alumiar os céus setentrionais, dando-se assim a passagem para Touro (regido por Vénus), símbolo do amor e da subida ao Reino dos Céus, ou regresso à «Casa do Pai». Toda esta «liturgia» culmina em pleno no Ritual do Solstício de Verão (21-22 de Junho). A liturgia cristã associa este tempo ao festejo de S. João o Baptista, o Precursor (24 de Junho), que antecede e anuncia o Solstício seguinte, o de Inverno, ou o Natal do Cristo: daí as palavras de João o Baptista: «Fui enviado adiante d’Ele» (João 3, 28) e «Ele há-de crescer, e eu diminuir» (João 3, 30).[8]
O equinócio da Primavera é um dos pontos culminantes do ano para o discípulo. Suas notas-chave são Liberdade e Emancipação, que lhe facultam a expansão da Vida. Nesta época o Cristo Cósmico é libertado da Terra a qual serviu com bondade durante  os meses invernais (no Hemisfério norte), ascendendo aos elevados planos espirituais. É uma época propícia para o discípulo avançado  romper os atavismos mundanos que limitam a sua entrada nos planos espirituais.[9]
Os mais sagrados rituais observados pelos homens estão relacionados com as mudanças das estações. O Santo Espírito da Primavera tem sido exaltado pelos poetas quando o esplendor verdejante e florido da Natureza evidencia o regresso das forças de vida, respondendo triunfantemente ao impulso da Ressurreição Cósmica. [10]
No Hemisfério Sul essa explosão de Vida exaltada na Primavera ocorre em Balança, coincidindo com o Regresso de Cristo em direcção à Terra.
Tal culminação primaveril, notada no Hemisfério Norte quando o Sol entra em Carneiro culmina em Abril que tem sido designado o mês da Ressurreição.
Tanto no Norte como no Sul, ainda que as estações sejam opostas, os influxos quer físicos quer espirituais, decorrentes da distância focal da Terra ao Sol, são idênticos.




Os hebreus celebravam a Páscoa comemorando a libertação do Egipto sob a direcção de Moisés; para eles a Páscoa calha no dia 14 do mês de Nisan[11], ou seja, o dia da Lua Cheia do primeiro mês do ano religioso. Deve ter-se em conta que o Sol esteja no Signo de Carneiro, como indica as seguintes passagens do Antigo Testamento: Números 9:15; 2ª Crónicas 8:13; 2ª Crónicas 30:1-22; 2ª Reis 23:21-23; e Esdras 6:19-22.[12]
Por sua vez a Páscoa cristã acabou por ficar definida, pela Igreja, de acordo com a data adoptada pelas primitivas comunidades iniciáticas cristãs, e que envolve uma relação Soli-Lunar: celebra-se no primeiro Domingo após a primeira Lua cheia após o Equinócio da Primavera. Esta relação, de um ponto de vista esotérico, era importante para simbolizar o significado cósmico desse evento: o Sol e a Lua são igualmente indispensáveis, pois não se trata apenas dum festival solar. O Sol tem de «cruzar» o Equador (Crucificação), como o faz no Equinócio Vernal, mas a sua luz tem de se reflectir na terra através da Lua cheia, antes que a Ressurreição (iniciática) possa ocorrer. Isto significa que a humanidade ainda não atingiu o grau de evolução suficiente para receber em pleno a «Religião do Sol», do Cristo-Logos (Cristo Cósmico), ou seja, da «Irmandade Universal», e que ainda precisa das Leis dadas pelas Religiões Lunares, diversificadas consoante as raças, nações, etc.[13]
A Sexta-feira Santa é observada na Sexta-feira anterior ao Domingo de Páscoa. É observada a penitência pelos Cristãos Ortodoxos, que focalizam os seus pensamentos sobre o sofrimento e a crucificação de Nosso Salvador. Os Místicos Cristãos, entretanto, observam com júbilo este santo dia, por simbolizar a liberação do Cristo Cósmico dos limites físicos da Terra, na qual esteve confinado  durante meio ano em amoroso sacrifício pela Humanidade. Os Místicos Cristãos compreendem que Seu sacrifício e a ressurreição constituem um serviço redentor pela Humanidade, que será contínuo até que a Humanidade como um todo possa emergir espiritualmente livre das consequências da alegórica Queda, descrita no livro de Enoch, imposta pelos Lucíferos, que abriram precocemente a percepção humana aos planos externos.
O Sagrado Rito da Eucaristia na Sexta-feira Santa simboliza a Nova Aliança do Novo Testamento, onde Cristo como Espírito Interno da Terra salva o Mundo propiciando a fecundação da vida no planeta e impulsiona o nascimento do Cristo Interno no coração dos homens.
Trinta e nove dias após a Páscoa celebra-se a Ascensão do Senhor que geralmente ocorre de Touro para Gémeos, em Maio ou Junho. Próximo a esta época, quando o Sol transita de Touro a Gémeos, as Hierarquias Celestes celebram a glória do Redentor em sua ascensão aos Reinos Espirituais. Como a Natureza está em harmonia com as correntes ascendentes de Cristo, durante os quarenta dias entre a Ressurreição e a Ascensão, tal período constitui uma época intensamente auspiciosa para o discípulo, que pode despertar interiormente os poderes espirituais no Caminho do Verdadeiro Discipulado.
Quarenta e nove dias após a Páscoa comemora-se a Festa de Pentecostes, que sintetiza as experiências místicas  dos primeiros discípulos que viveram em íntima comunhão com o Senhor Cristo durante o período de Seu ministério.[14]

(A continuar)

[1]  O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel.
[2] Corinne Heline, New Age Bible Interpretation, vol. V, 5th ed. revised, New Age Press, 1984,. pp. 87-88.
[3] Corinne Heline, New Age Bible Interpretation, vol. VII: «Mystery of the Christos», 6h printing., New Age Press, 1988,. pp. 8-19.
[4] Malaquias 3, 20 [4, 2]
[5] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel
[6] Os Solstícios e Equinócios – António de Macedo.
[7] Nos tempos pré-cristãos celebrava-se nesta época o regresso da Primavera e a vitória da Luz  sobre as trevas.[7]
[8] Os Solstícios e Equinócios – António de Macedo.
[9] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel
[10] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel
[11] Esta data celebrava o facto de os Judeus, ao tempo em que estavam no Egipto, terem sido poupados às forças da destruição do «Anjo Exterminador» que matou todos os primogénitos egípcios, incluindo o filho do faraó. O Anjo disse ao Judeus que fizessem nas suas portas uma marca com o «sangue do cordeiro», para significar que eram filhos de Deus, e a devastação sobre o Egipto passou pelas casas deles sem os afectar (Êxodo 12, 15-51).
[12] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel
[13] Os Solstícios e Equinócios – António de Macedo.
[14] O Significado Cósmico das Festas Cristãs – Max Heindel.

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