quarta-feira, 27 de junho de 2012

Significado da Pascoa III

Continuação do trabalho de João Campos. Sabemos que é longo, mas vale a pena!





Julgamento e Condenação de Jesus



Para quem veio Cristo
Cristo veio para a Europa. Em Roma dá-se um caso extremamente interessante. É o encontro dos dois J.C., o seu nome de homem e o seu futuro nome messiânico; é a aliança de Jesus e de christna. Estas duas letras são as iniciais dos nomes de Júlio César e Jesus Cristo (Crucificado). Estes dois J.C. encontram-se frente a frente. Um, enquanto César romano, possuía tudo; dispunha de inúmeros soldados e de tesouros imensos; além disso, era chefe da sua religião ou Deus encarnado. Quanto ao outro, era um simples estudante, que se lembrava de ter deixado uma vestimenta de luz algures no zodíaco. Este ser possuía como única fortuna as suas ideias e teria podido, se quisesse, contagiar um povo inteiro e conquistar a Europa, Ásia e África. Não o quis, preferiu a pobreza e a fraqueza aparentes da ideia, que desenvolve lenta mas seguramente os cérebros cuja duração é eterna, à força das armas, que embrutece as massas e se prolonga apenas durante um certo tempo.[1]

Uma passagem bíblica relativa aos dois J.C.:

«Pensais que vim espalhar a paz na Terra; não, eu vim lançar a divisão...».

Isto significa que a chegada de Jesus à Terra marca o início da batalha entre os diferentes seres que constituem o homem encarnado. Tudo o que for espiritual subirá para o céu e tudo o que for material irá para a Terra: «(...) Porque, a partir de agora, cinco estarão numa só casa, três divididos contra dois e dois contra três». Ou seja, a alma é atraída pelo anjo para o céu; depois, o carma ou destino, a tentação e o corpo, partem para outro plano.

Outra passagem bíblica: «Dai então a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». E perguntaram a Cristo: «Porque falas em parábolas?» Ao que respondeu: «Que os que têm olhos para ver, vejam, e os que têm ouvidos para ouvir, ouçam». Numa outra situação: «Quem tiver capacidade para compreender, compreenda!»[2]

De seguida, perguntaram a Jesus: «Mestre, sabemos que falas e ensinas com rectidão e que, sem descriminares ninguém, ensinas o caminho de Deus segundo a verdade; é-nos permitido pagar tributo a César ou não?» Cristo percebe a artimanha e responde: «Mostrai-me uma moeda.» E pergunta: «A quem pertence esta imagem e a quem se refere a inscrição?» Responderam: «A César.» Disse-lhe Cristo: «Dai ao rei o que pertence ao rei e dai a Deus o que é de Deus.»
Segundo os gnósticos, ao ver a moeda, Jesus terá dito: «Ela brilha». O primeiro sentido inerente a tal conjectura prende-se com o facto de a moeda brilhar por se encontrar composta de uma liga de prata e de bronze. É preciso separar a prata do bronze para se enviar a primeira para o lado dos metais preciosos e a segunda para junto dos metais inferiores. Ora, a prata escolhida simboliza a alma, nela residindo a virtude celeste; quanto ao bronze, representa o espírito de imitação espiritual unido ao corpo hílico.
 Um outro sentido para a passagem: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Ainda segundo os gnósticos, quando uma alma chega ao Invisível, deparar-se-á com seres que guardam todas as portas e aos quais deverá transmitir uma palavra-passe, que não representa mais do que o balanço de todas as suas acções terrestres. Assim, «Dai a César o que é de César» significa: «Passai aos agentes do destino a palavra de ordem do Mundo ou das vossas más acções». E «Dai a Deus o que Dele vem» significa: «Dai a Deus a palavra que vos permitirá penetrar no paraíso ou as vossas boas acções».[3]

Pedido para soltar Barrabás em vez de Jesus.

O nome Barrabás em Hebraico significa filho de Abás. Pedro era referido por Mateus como "Pedro bar Jonas", isto é, Pedro filho de Jonas. Bar Mitzvah é traduzido literalmente como Filho da Lei. O nome de Barrabás também era Jesus: Jesus Barrabás.

1        A pergunta de Pilatos aos sacerdotes foi "Qual quereis que vos solte? [Jesus] Barrabás, ou Jesus chamado Cristo?"
2        Eles clamaram, é claro, pela libertação de Barrabás, o notório ladrão e assassino.
3        "Que farei então de Jesus, chamado Cristo?", perguntou Pilatos.
4        Eles gritaram "Seja crucificado!"
5        "Hei-de crucificar o vosso rei?", perguntou Pilatos.
6        E aqueles sacerdotes (que odiavam César como só os povos conquistados podiam odiar) disseram a Pilatos "Não temos rei senão o César !"
7        Pilatos enfraqueceu diante daquela ferocidade implacável e entregou Jesus para que o crucificassem. Ele tomou uma bacia de água diante dele, lavou suas mãos nela e anunciou "Estou inocente do sangue deste justo: considerai isso."
8        Pilatos mandou gravar na cruz "Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus".
9        Caifás e os outros sacerdotes foram a Pilatos e pediram "Não escrevas 'Rei dos Judeus', mas que ele disse 'Sou Rei dos Judeus'." E Pilatos respondeu "O que escrevi, escrevi."

Teus inimigos interiores, não se contentando em denunciar-te como criminoso, queriam ainda que fosses crucificado como tal, enquanto que, ao contrário, queriam que Barrabás fosse libertado, isto é, queriam que a graça caísse sobre o culpado e que toda a fúria da vingança, a que chamavam justiça, caísse sobre o inocente.

Novo Homem, absorver aqui as instruções salutares que essa marcha do salvador apresentou à tua inteligência. Suspende em ti mesmo todos os teus poderes espirituais de poder e autoridade, para só pôr em ação teus poderes de resignação. Imola sem cessar em ti o homem inocente, para a libertação do homem culpado ou do Barrabás que carregas em teu íntimo. Enfim, liberta o homem ilusório e passageiro, corajosamente, das mãos dos teus inimigos. Eles próprios serão as vítimas dos males que te farão sofrer. Seu sangue recairá sobre eles e sobre seus Filhos, pois, ao exercer sua raiva sobre o homem ilusório e passageiro, abrirão o caminho ao homem real e regenerado na vida, e esse homem real e regenerado os cobrirá de vergonha e os precipitará nos abismos.

Jesus-Barrabás

A verdade é sempre estranha, mais estranha que a ficção ...
LORDE BYRON, Dom João, XIV
Os evangelhos canônicos nos contam o episódio da substituição de Jesus por um amotinador que fora encarcerado por um assassinato que cometera no curso de uma rebelião, e que por tal motivo também ele fora condenado à crucificação.
"Era costume que o procurador, com ocasião da festa, desse à multidão a liberdade de um detento, que pedissem. Havia então um prisioneiro famoso chamado Barrabás. Estando, pois, reunidos, disse-lhes Pilatos: 'A quem querem que lhes solte? A Barrabás ou ao Jesus, o chamado Messias? Pois sabia que por inveja o entregaram. (...) Eles responderam: 'Ao Barrabás!'..." (Mateus, 27, 15-18, 21).
Alguns detalhes complementares, inclusive com algumas diferenças muito ligeiras, podemos encontrá-los no Marcos (15, 6 a 15), no Lucas (23, 17-19), e no João (18, 39-40). Mas nenhum versículo contribui com contradição alguma a breve narração feita pelo Mateus.
Os manuscritos iniciais que possuímos (e que, recordemo-lo, remontam-se todos ao século IV, como mínimo) transcrevem esse nome de quatro maneiras diferentes: Varaba, Barabas, Barrabás e Bar-Rabban.
Desde onde estas diversas significações:
1 - Bar-rabba ................. Filho do doutor
2 - Bar-rabban ............... Filho de nosso doutor
3 - Bar-Abba .................. Filho do Pai
4 - Bar-Abban ................ Filho de nosso Pai
5 - Bar-Abba .................. Filho de Abba
Observaremos, antes que nada, que não se sabe nenhuma outra coisa deste nome, salvo que, segundo Mateus, era um prisioneiro famoso, segundo Marcos um sedicioso que cometera um assassinato durante um motim, Lucas precisa que esse assassinato fora cometido "na cidade", quer dizer, em Jesus, e João se limita a qualificar de bandido, termo que, com o de "galileu", designava então aos insurretos zelotes em geral.
O nome próprio de Jesus, que Orígenes afirma que era o de Barrabás, vem testemunhado por alguns dos manuscritos mais antigos, como:
a) o Codex Korideth (séculos VII-IX);
b) o Groupe do Minuscules, publicado pelo K. Lake em 1902;
c) o palimpsesto do monastério de Santa Catalina no Monte Sinaí, encontrado pelo Lewis e Gibson, e que se remontaria ao século IV.


Que o leitor se remeta ao capítulo 23, "Jesus-Barrabás", e que releia tudo o que contribuímos sobre a tese negativa da existência concreta desse tal Barrabás. Repetimos, Jesus-Barrabás não é outro que Jesus-bar-Juda. Daí o fato de que seja ignorado em tantos textos ulteriores. [4]

Possivelmente foi em sua casa onde se refugiou Jesus quando fugiu à Fenícia (Mateus, 15, 21). (51) Também poderia ser o mesmo que os Evangelhos canónicos citam como Jesus-bar-Aba ou Barrabás, já que o grande Orígenes assegura que em manuscritos antigos se dava a esse bandido o nome de Jesus. (52)


[1] Tratado das Grandes Tradições do Ocultismo – Papus, pág. 197.
[2] Cf. Mt.19,12. Conferir também Mc 3, 10-12; Mt 12, 10-17.
[3] Tratado das Grandes Tradições do Ocultismo – Papus, pág. 197-198.
[4] Cf. OS SEGREDOS DO GÓLGOTA – Robert Ambelain

1 comentário:

Ernesto disse...

O trabalho está verdadeiramente sensacional. Muita pesquisa, muito estudo e, certamente, muitas/algumas questões e respostas.
Não questiono se o que o autor apresenta é ou não a sua convicção pessoal.
Nem em tudo estou de acordo, mas todos temos direito à nossa opinião.
No entanto, apresenta temas relevantes, dos quais destaco dois:
1 - «Pensais que vim espalhar a paz na Terra; não, eu vim lançar a divisão...»
2 - «Mestre, sabemos que falas e ensinas com rectidão e que, sem descriminares ninguém, ensinas o caminho de Deus segundo a verdade; é-nos permitido pagar tributo a César ou não?» Cristo percebe a artimanha e responde: «Mostrai-me uma moeda.» E pergunta: «A quem pertence esta imagem e a quem se refere a inscrição?» Responderam: «A César.» Disse-lhe Cristo: «Dai ao rei o que pertence ao rei e dai a Deus o que é de Deus.»

Sobre a primeira não vou falar, até porque ainda não entendi o seu verdadeiro alcance. Sobre a segunda transcrevo um texto que encontrei algures e que poderá elucidar um pouco sobre esta passagem tão traiçoeira:
Tributo a César
Para confundir Jesus, fariseus e herodianos propuseram-lhe uma pergunta capciosa a respeito da liceidade de pagar o tributo ao imperador romano.
O pano de fundo desta questão era complexo. Sob o aspecto político, tratava-se de saber se Jesus era contra ou a favor da dominação estrangeira. Sob o aspecto religioso, a resposta de Jesus revelaria que imagem Ele fazia de Deus, que escolhera Israel para ser o povo de sua predilecção e não se contentava em vê-lo oprimido. Afinal, o Deus de Jesus era um Deus libertador? Sob o aspecto económico, a questão levava Jesus a posicionar-se diante da penúria do povo, do qual se exigia pagamento de tributo. Sob o aspecto social, Jesus deveria dizer se concordava com a situação de opressão a que estava reduzido o povo de Israel.
A resposta do Mestre, aparentemente evasiva, revela a sua visão da história, centrada no Reino de Deus. Não existe contraposição entre César e Deus, uma vez que estão situados em níveis diferentes. O pagamento do tributo ao imperador é irrelevante, quando este não cede à tentação de usurpar o lugar de Deus, tiranizando as pessoas. Deus é o Senhor absoluto da História. E César deve submeter-se a Ele. Importa que todos, inclusive o imperador, acolham a vontade divina.
Consequentemente, a resposta de Jesus revela que Ele se opunha a todo o tipo de opressão e exploração, pois o Pai é um Deus libertador.
É preciso ser perspicaz para compreender o sentido da posição de Jesus.